Quando quis frear o tempo não mais conseguiu.
Olhou-se num espelho velho, manchado.
Conseguiu se ver por trás das marcas do vidro.
Já não se reconhecia.
A pele encarquilhada e transparecendo todo o cansaço de uma vida.
Os cabelos prateados e rareados.
Uma fronte severa. Boca enrugada e silenciosa.
Tocou levemente as faces com as mãos outrora quente e vívidas.
Dedos frios que percorreram todos os sulcos da pele.
Não se sabia tão velho e triste.
Fixou-se nos olhos castanhos...
E ali se reconheceu.
Viu outra vez o menino alegre e feliz. A criança que brincou descalça e comeu fruta do pé.
A carcaça envelhecida não apagou aquele brilho de menino.
Que pelas janelas da alma irradiava vida.
Sentiu-se vivo.
Jogou o lençol empoeirado sobre o espelho estragado e se prometeu esquecê-lo.
Guardaria sua imagem de criança até o fim.
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