diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Novo (Velho) Amor

Em plena era tecnológica, onde as relações (humanas?) estão cada dia mais virtuais (irreais), o que buscamos senão o amor?
O amor já cantado por trovadores antigos.
Aquele de que sofreram os grandes poetas que repousam empoeirados nas prateleiras das velhas bibliotecas.
Hoje nem as poesias são feitas do mesmo modo.
Virtuais.
Relacionamentos efêmeros, quando acontecem de fato.
Mudamos. O mundo mudou.
Porém a essência humana permanece a mesma.
Sim!
Queremos o calor de um outro ser.
Precisamos de uma mão que nos ajude.
Ansiamos por sentimentos verdadeiros.
Desejamos apenas um namorico de portão.
Beijos no escuro do cinema.
A boa paquera.
Somos no fundo antiquados.
Inveterados românticos.
Ainda acreditamos em um final feliz.
Não sei você, eu acredito.
E quero, desejo, anseio, preciso.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Língua

Língua que me chacoalha na boca.
Que se bate contra os dentes.
Tenta sair boca a fora.
Língua que deseja jogar as palavras.
Na cara dos outros.
Ferina, pretende abrir feridas com sua aspereza.
Língua que é mais rápida que o pensamento.
Rasga por entre os lábios e não para.
Movimenta-se como cobra.
Língua que deseja.
Saboreia e beija.
Arde dentro de outras bocas.
Entrelaça-se com outra língua.
Trava guerras quase intermináveis.
Língua que é sexo. Fogo. No sexo alheio.
Percorre os corpos como quem procura algo.
O êxtase. O próprio e o de outrem.
Que roça no pescoço, causa arrepios.
Língua é assim.

Parabéns...

Este ano eu não vou fazer aniversário.
Tá decidido. E não vou voltar atrás.
O medo de envelhecer me apavora.
(Mesmo?)
A criança que eu fui - já nem lembro bem.
Este ano eu não vou comemorar.
Não gosto de badalações.
Não no meu dia.
Prefiro o silêncio dos meus pensamentos.
Mas mesmo eu decidindo não fazer aniversário o tempo passará.
Isto eu não vou poder evitar.
(Fato!)
Em mim, para mim, nada mudará.
(O externo pode mudar)
Este ano eu dormirei na véspera e acordarei no dia seguinte.
Pularei o fatídico dia.
Evitarei os indesejáveis telefonemas.
As palavras de sempre.
(Nem sempre verdadeiras)
Este ano não haverá bolo nem vela.
Este ano eu não faço aniversário.
Este ano.

Meu corpo escrito.

Você me lê? 
Minha estória está marcada em mim.
O corpo é o livro de meu eu.
As páginas rabiscadas no se que sou.
Me leia. Devore-me.
Descubra-me e me decifre, tal como esfinge.
Eu sou claro. Não quero rebuscar meu linguajar.
O simples e entendível. Nítido.
Minha carne conta o que eu era, como aqui cheguei.
Eu sou meu próprio nome. Identidade.
Você não me lê!
Prefere perguntar-me. Fecha os olhos para as respostas que procura.
Tudo está inscrito em meus ossos e músculos.
Leia-me.
Página por página, até o fim.
E não procure um final lógico.
Não sou aristotélico. Cartesiano.
Mesmo simples sou complexo.
Falível e mortal.

domingo, 19 de agosto de 2012

O Conteúdo

Dentro de mim está contido. O que há dentro de mim. Em mim existe o fogo de um amor. As cinzas de amores não concretizados. O conteúdo é vasto, é extenso. E perecível. O verde dos caminhos trilhados. Azul do céu que me olhou do alto. O azul esverdeado do mar que me abraçou. Calor de querer viver mais, intensamente. Dentro de mim está o que não se pode ver. Só se sente, se ouve falar. As palavras de amor e ódio, que se misturam. Como sopa de letrinhas da infância perdida. Das memórias esquecidas dentro do meu eu mais recôndito. E que eu cuspo num papel em branco. Transformo-as em frases. Meus sentimentos pregados à folha. Digo tudo que não tenho coragem de falar. Mas eu tenho coragem. Eu falo. Eu grito, palavras soltas, desconexas. Sei que grito no vazio, no oco do mundo. É preciso fazê-lo. Faço-o. Perco-me nos caminhos dos assuntos. Já nem sei o que estava pensando quando comecei. O conteúdo do meu ser/estando vivo. Rasgo de inteligência que me partiu o corpo ao meio. Como os raios de Iansã cortam os céus das noites. E rapidamente se apagam sem atingir o chão fértil da criação. Dentro de mim está contido o seu ser. Os seus eus, os meus eus. Nós. Atrelados e confusos. Já inseparáveis e indivisíveis. Dentro de mim está tudo que não cabe no mundo. E só acha morada nos becos escuros dos cantos perdidos do meu pequeno corpo. Eu que não gosto de filosofias. Gosto de vida. De nervos, carne e coração expostos, como numa vitrine de açougue. Para fora. Quero expelir as pedras que me restam. Viver ultrapassa todos os pensamentos e leis da proto-filosofia. Basta estar contido no mundo. É ao mesmo tempo tão simples e tão complexo. Vejamos tudo com mais clareza. Não obscureçamos o que é nítido. Sejamos ingênuos como crianças que acabaram cruzar as portas do mundo. A primeira passagem. Trancemos as pernas e não sigamos tão retos. Curvas são sempre bem vindas. O conteúdo da vida é estar. Estar é fazer-se vivo.

domingo, 12 de agosto de 2012

Clara Claridade Guerreira Nunes

Hoje, Clara Claridade Guerreira Nunes,faria 70 anos. Uma das maiores vozes da música brasileira, criadora de inúmeros sucessos, recordista de vendas. Clara foi a primeira grande cantora que me arrebatou. Eu não lembro quantos anos fazem. É vívida em mim a memória de, naquele distante dezembro, ver uma propaganda na tv do lançamento de uma compilação de Clara, onde travava duetos (que anos depois seriam chamados duetos virtuais) com outros nomes da MPB. Eu não sei o que me encantou naquele comercial, como as outras que se seguiriam, Clara me escolheu como seu seguidor. Eu que não entendia a grandeza de seu canto quis apenas ganhar no natal que viria ganhar aquele disco. E ganhei, não um, dois, não eram discos, na realidade eram fitas K7. E gastei-as. Ouvia com uma atenção, com uma alegria. Era Clara me fazendo seu admirador. E assim foi. Outras cantoras também me escolheram, mas eu nunca esqueci o doce canto desta Guerreira. E jamais esquecei aquela que me abriu as portas de um mundo musical. Seu canto não deve e não pode ser esquecido. Obrigado, Clara, onde você estiver eu sei que estará cantando e alegrando os que estiverem perto. Obrigado por ter me escolhido.