diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

domingo, 29 de junho de 2008

Boca Amarga...

Minha boca traz hoje o amargor.
De promessas perdidas.
Palvras proferidas com ódio.
Da falta dos teus beijos.
Planos não realizados.
Momentos não vividos.
Minha boca é seca.
Como terra árida.
Infértil chão.
Meu coração é duro.
Minha boca antes de palavras doces.
Hoje tem fel brotando.
Tem uma verborragia cacofônica.
De pragas rogadas.
Ladainhas repetidas.
Maldições constantes.
Derrama malígnos temas.
Minha boca não é mais bonita.
Não tem contornos definidos.
Borrão na minha triste face.
Cansada da minha tão mal vivida vida.

saudades

seu cheiro que não sinto mais
suas mãos que não me afagam
teus olhos que não iluminam meu olhar
teu corpo que não recosta no meu
teus lábios que não me beijam
respirações compassadas
corações conjuntos
vidas unidas
hoje só
solidão.

o tem(po)

a breviedade do tempo me assusta.
a implacabilidade é feroz.
não se segura momentos.
eles passam, como o vento.
e nada fica.
o tempo, tempo, é tempo.
absolutamente senhor de todos.
criador de eventos.
espalha sentimentos.
faz a vidaacontecer.
as pessoas envelhecerem.
as vidas se cruzarem.
e se afastarem mais rápido ainda.
o tempo, é tempo, com tempo, tempo, tempo.
tem a cara de alguém.
o jeito dos mundos.
dos povos agente.
tempo, segundo, momento, movimento.
do tempo, para o tempo, ao tempo.
tempo, tempo, tempo, tempo...

sábado, 28 de junho de 2008

Escrito na Cama... 01:03 da Madrugada...

Eu sei o que devo fazer
Sei com quem devo estar
O que pensar
Como andar, aonde ir
A única coisa que ainda não aprendi:
A quem amar.
Derramo minhas horas de dedicação
Com pessoas erradas
E isso é ruim
Quem sabe quando meu amor se esgotar
Eu saiba esperar e saber ser amado
Sem tanta responsabilidade
Despudoradamente livre
Pronto para amores vãos
Saber ter paciência de aguardar
O que me está guardado
O mundo não é tão mau
Nós é quem o fazemos assim
Triste de mim
Que me perco em caminhos tortuosos
Dessa estrada que ao fim
Vai dar em nada
Passem bem vocês. Que amam
E são amados
Eu vou ficando por aqui
Tentando aprender
Querendo ser paciente
Escrevendo compulsivamente
Alimentando esperanças
Imaginando momentos
Relembrando situações
Vivendo no meu universo irreal
Fechado em mim mesmo
Longe do contato com o mundo
Paralelamente respirando.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Confusão

um frio me tomou a espinha
sentimento de perdição
as palavras me jorram
como água brota na fonte
e a noite segue silente
momentos breves
movimentos ligeiros
estagnações demoradas
o violão tange longe
cordas que se entrelaçam
notas que me chegam
coração que quer parar
breves pausas
a tristeza bateu
e não ficou, pena
pois a outro sentimento
deu lugar
e este é pior
afastamente, repentino
é melhor para não sofrer
ou quem sabe sofrer menos
quero parar, de pensar, de escrever
mas não consigo
tudo me sai pelos poros
olhos, narinas, boca e orelhas
quão ignóbil fui
e não via
como cego que não quer enxergar
a verdade sempre dói
mas é crua, nua, real
ilusórios mundos de nada valem
quando vem a realide pô-los abaixo
sentença de vida
o negrume da noite domina o mundo
ou apenas metade dele
perder o tino, o rumo, o caminho
se deparar em meio a uma estrada
sem saber para onde ir
sem saber de onde se veio, onde se está...

canções antigas

noite fria, eu sozinho, no escuro...
ouvi músicas antigas...
estilo dor-de-cotovelo...
dolores, vinícius, maysa...
as músicas que ouvia em tempos idos...
aqueles violinos tão lindos...
as incisivas palavras de amor...
frases de efeito...
construções que me destrói...
aquela estrada do sol...
que hoje não raia mais...
a noite me consome...
a frieza do vento norte...
me peguei chorando...
saudades do que já foi...
das pessoas que me passaram...
as músicas me fizeram voltar...
trouxeram-me de volta ao passado...
um passado nem tão remoto assim...
mas que traz saudades...
lembranças que chegam à mente...
embaralham sentimentos...
confudem a vista...
lágrimas que brotam de olhos vazios...
canções de amor...
meigas presenças que estavam aqui...
mãos que andavam pregadas em mim...
manhãs que não nascem...
noites infindas...
solitárias e frias...
apenas a companhia da velha vitrola...
ondes discos empoeirados giram...
vinhos que me esquentam o coração...
eu queria virar a página...
e não lembrar o que está atrás...
esquecer você, vocês, tudo e todos...
mas o futuro se constrói do que é presente...
e o presente nada mais é que o reflexo do que fomos e do que seremos...

se enganar?

adianta mentir?
fingir que não se quer?
querer escondido?
ter medo de se entregar?
se entregar e sofrer?
dizer que não, quando o corpo diz sim?
ocultar os sentimentos?
se fazer inerte?
não chegar, não ligar, não correr?
não adianta!

escola

queria ser leve como você,
saber por palavras frescas no papel,
ter essa poesia que lateja nas suas veias,
conseguir ter cadência com frases,
construir orações belas como tu fazes,
ser essa explosão de sentimentos bonitos,
não ter tanta mágoa, tristeza e solidão,
espero poder aprender, dia-a-dia contigo,
e um dia ser um pouco mais sereno,
mais alegre, colorido, ver a vida sem tanta pressa,
parar e ver o mundo girar,
sem tanta resposabilidade,aprender... tu me ensinas?

Devaneio Abstrato

Eu que nunca aqui estive.
Passo hoje perdido, encantado.
Leve e poeirento.
Os homes são maus.
Esta conclusão eu tirei ao longo da vida.
E nunca me assustei com isso.
Quis absorver tudo, não consegui.
O mundo é vasto, grande imensidão, que eu não abarquei.
Procurei a felicidade, em linhas, em linhos, em sedas, cetins.
Rasguei fios e fios de metros longos.
Perdi o sentido algumas vezes.
Recuperei-os mais adiante.
Mas a vida me empurrava, eu não parava.
Quem quiser que me acompanhe.
Em letras suspeitas, companhias suspeitas, em suspeito de algo.
Perturbadoramente, inconsciente, avassalador.
Eram assim, meus sentimentos.
Fui corrente, elo de corrente, quebra de amarras.
Algemas duríssimas, arcos abertos.
Absolutamente eu, dono de mim, sem mandar em mim.
Sem coordenar quase nada.
Exlcusivamente solitário. E rodeado de pessoas.
Cego, mudo e surdo em meio à multidão.
Ecos vazios de palmas.
Aplausos do escuro.
Estremecimento de cada sólida casa antiga.
Com telhados fortes.
Paredes grossas, tijolos firmes.
Mar, movimentos de maresia cansada.
Ressaca de vidas perdidas, achadas, vividas no mar.
Maravilha de paisagem, campos verdejantes.
Asbtratamente desenhados com linhas superficiais.
Quadrados, fechados, sem brechas.
Trópicos imaginários, linhas indivisíveis.
Naveguei em terra, andei no mar, corri no céu.
As estrelas passavam por mim, eu as cumprimentava.
Sei o nome de cada uma delas. Os astros eu reneguei.
O brilho lunar eu quis em mim.
O sol, não, não me atraía.
A vastidão solitária do céu é bela.
Pensei que veria o redondo mundo girar, ledo engano.
Nada estava em movimento.
Tudo estáticamente parado.
Só eu, que corria, voava, andava, navegava e não cansava.
Tive asas, pés, patas...
Couro, pele, penugem, escamas...
Fui azul, verde, amarelo, branco, preto, vermelho, roxo...
Criança, menino, homem, velho, padre, poeta, cantor, romancista, ator, eletricista, encanador, pintor, educador, desempenhei diversas funções no mundo.
Só não fui amor, nem amado.
Passei, não fiquei.
Nem pés, nem cabeça.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Poeira das Estrelas

Eu sei que um dia eu passarei.
E nada do que fiz e disse ficará.
Tudo se apagará.
O pó da estrada cobrirá.
Ninguém saberá quem fui.
Os que comigo viveram, também.
Não mais lembrarão de mim.
As minhas coisas serão perdidas.
Jogadas no mundo.
Os meus escritos deturpados.
Quando não queimados.
Não marcarei a vida de ninguém.
Mas isso não me choca.
Tampouco me desestimula.
Eu escrevo, se nada ficar.
Não me importo.
Eu, onde estiver saberei.
Que passei, vivi, amei,
Sofri, e marquei.
E quando de mim nada restar
Que os próximos tomem conta de tudo.
Pois eu já não estarei interessado.
O mundo estará à disposição de vós.
Eu serei apenas pó.
Poeira das estrelas.
Resto de algo que fui.
Fragmentos de uma vida.
Intensamente vivida.
Solilóquios com o papel e a pena.
Retratos do meu eu.
Expressão de minh’alma.
Nada mais.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Par de Olhos

Dois cristais brilhantes que me furam.
Teus olhos, teu olhar diferente.
Tua retina perfurante.
Não, não me olhes assim.
Teus olhos me dizem coisas.
Em línguas estrangeiras.
Que eu não consigo decifrar.
Olhar penetrante, me invade.
Me corta, me cruza, me desvela.
E eu fico perdido.
No brilho sem igual deles.
Que olhos de mar.
Que ressaca...
Maresia excitante.
Medo, pavor.
Teu par me consome.
Essas duas contas de vidro.
De cristal.
Sem par, azuis, verdes, castanhos.
Teus olhos musicais.
Me decifras com teu olhar.
Um calor me toma e eu gelo.
Paro, não consigo mais.
Teus olhos me arrebatam.
Me enlaçam e eu danço.
Com teu par.
Como teu par, contigo meu par.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Eu era feliz.

Corta o fio da vida.
Ao som de um piano velho.
Se esta, essa ou aquela rua fosse minha.
Melodias doces.
Quem me nina?
Sonhos coloridos.
Quem vem pra beira do mar?
O sol nasce sorrindo.
A lua descansa, enfadada da noite.
As estrelas repousam.
Brilham solitárias aos montes.
A bailarina vai parando...
Dê corda.
O lago dos cisnes é azul.
O cavalo branco de Napoleão que cor?
Elefante colorido.
Na beira tudo termina.
O mundo não é quadrado?
Onde Judas perdeu as botas?
O vento faz a curva no meu quintal.
Minha tia viu sovaco de cobra.
Laranja, lima, limão, pitanga, acerola.
Uva, maçã...
Pedrinhas, no degrau da porta de casa.
O universo gira em cima da minha cama.
Tenho medo do bicho-papão.
O anjo que mora no bosque caiu do céu?
O grão-de-areia ainda é solitário?
Uma cegonha passou na minha janela.
O pé-de-feijão do João foi plantado onde?
Quantos lobos maus existem?
Bolinhas, balinhas, bolhas de sabão.
Parque, grama, escorrego.
A vida corre, pula, salta.
E eu olho-a.
Tudo é tão inocente na criança.
Tudo é tão alegre, cheio de cor...

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Hoje não sei mais nada...

Quero ordernar meus pensamentos, para escrevê-los...
Não consigo...
Uma enxurrada de sentimentos me toma.
Misto de alegria, tristeza, saudade, mágoa, desilusão...
Ah! Quem me dera eu soubesse ao menos quanto tempo resta.
Eu não sei mais nada.
Tenho vontade de te odiar e te amo.
Tenho desejo de te esquecer e estás mais viva em mim que antes.
Penso em desistir da vida e a vida insiste em me manter aqui.
Tive sonhos, não os realizei.
Pensei projetos não os concretizei.
Tive medo, sofri e chorei sozinho.
Nenhuma mão me amparou.
E eu sempre lá, à postos.
Pronto para auxiliar aos outros.
Quando caí, só o duro chão.
Tive amigos, vivi rodeado.
Mas o silêncio da multidão me era absurdo.
Naquela dissonante orquestra de vozes havia um silêncio.
Uma nota muda, uma pausa infinita.
Faltava tua voz.
Eu estava solitário mesmo na companhia de vários.
O vazio me tovama inteiro nas noites frias.
Nas quentes também.
E tu, zombavas de mim, longe, nos braços de outro, de outra, de ninguém...
Nada de que "quando os olhos não vêem o coração não sente"...
Eu sentia, eu sinto. Eu sofro.
Que culpa tenho se sou verdadeiro comigo mesmo.
Se não tento escamotear meus sentimentos.
Levanto-os como uma bandeira.
Estampo-os na minha roupa.
Trago-os debaixo do braço.
E por mais veracidade que eu empregasse tu não me acreditava.
Nunca mais falei, nunca mais te vi...
Não sei quem és agora.
Se a mesma, se diferente. Mais velha, mais nova?
Eu, mais velho, feliz não fui.
Espero, sinceramente, ao menos que tu tenhas sido muito feliz.
Nos muitos braços alheios onde te deitaste.