diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Lassidão
Mansidão
Coração
Solidão.
Onde está tua mão?

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Vileza

Decididamente eu quero cada dia mais estar desconectado das pessoas.
O sentido de amar não é igual para nós.
Eu sou cada vez mais concha, ostra, sei lá.
Algo hermético.
Tanto fechado, casulo de mim.
E não. Não, não pretendo deixar de sê-lo.
Tuas palavras, vazias, de sentido, de sentimento, palavras mentirosas.
Juras, planos e castelos de areia.
Levianos sonhos me fizeste sonhar.
E tu? Tu te rias de mim.
Como idiota, palhaço num picadeiro inexistente.
Era isto o que fazias de mim.
Um brinquedo, bobo, tua diversão para curar tuas feridas de outro amor.
Não, não me clames perdão.
Isto eu não te posso dar.
Sou humano, sou.
E é ínfimo o tempo passado.
As tuas garras ainda estão cravadas em mim.
A tua ausência ainda é muito patente.
O teu sorriso ainda brilha na minha memória.
O mais belo dos sorrisos, com seus olhos miúdos, apertados.
Idiota!
Fui, sou.
Escarnecias de meus sentimentos.
Foste cruel.
E quando já te havias curado nem olhaste atrás.
Cruzaste as ruas para longe de meu coração.
Antes tiveste ido porque já te havias curado.
Quão tolo eu fui!
Partiste ao primeiro sinal de teu antigo amor.
O que será de ti?
Pouco me importa.
A mim, quero que saibas, já não me terás. Nunca mais.
Castigo para mim ou para ti?
Não sei.
Apenas ergo-me com o pouco de dignidade que me resta e te esqueço.
Sim, te apagarei da memória para sempre.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Autorretrato

Há dentro de mim um silêncio ensurdecedor.
Sou oco e todo meu corpo ressoa este barulho.
Leva-me às raias da loucura.
Quando defronto-me com minha figura no espelho já não tenho forças.
O que resta de mim é uma carcaça velha coberta de uma pele ressequida pelo tempo.
Este encontro é sempre dolorido.
Olhos nos meus próprios olhos e os meus olhos reais penetram na alma refletida naquela superfície.
Invadem-na aqueles olhos duros e secos.
O silêncio está em mim.
Lentamente, como não acreditando que tal figura exposta em suas vísceras corresponde ao que eu sou hoje, levo minhas mãos ossudas à face esbranquiçada.
Tateando-a em toda sua extensão.
E percebo que de fato eu sou aquilo.
Aquele corpo quase inerte, um meio fantasma.
Uma espécie assombração a vagar.
Um grito agudo me perfura os tímpanos.
E eu recobro os sentidos à realidade.
Vejo que o mundo ainda está lá.
Por fora daquelas paredes.
O barulho é tranquilizador.
Mas o silêncio ainda está em mim.
E.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Não esperes que o teu peito derramado em prol de alguém venha um dia reverter-se em gratidão.
Não anseies por receber a mão estendida outrora na hora de tua queda.
Não acredites que o amor que um dia devotastes seja retribuído à altura.
Não deseje um ombro em que possas chorar como choraram no teu.
Não queiras que te façam sorrir como tu fizestes aos outros.
Não penses que tudo o que vai volta.
Muitas coisas se perdem no caminho.
Nestas vias de mão única em que caminhamos na vida.
Só são tuas as tuas emoções.
O mais é interesse e egoísmo.
Crueldade e vileza.
Solidão e o escuro no vazio do mundo.

domingo, 3 de abril de 2016

Sim, passou.

O tempo que passou.
Tentei prender os instantes que eram nossos.
Mas o volátil daqueles momentos não pude capturar.
Uma fotografia não é nada frente aos instantes que vivemos.
O tempo que passou já anda distante.
E esta distância se fragmenta em vários caminhos tortuosos que trilhei desde então.
Naquele único segundo em que fechei meus olhos tudo mudou.
O céu ficou mais perto, o sol ficou insuportavelmente quente.
E tu? Tu desapareceste como num truque de mágica.
Artimanhas do tempo.
Um rápido movimento e já não estavas junto de mim.
Que lentos passos eu dei em seguida.
Meus pés pesavam toneladas.
Arrastei-me para fora de mim.
Desabitei meu corpo por longos dias.
Era o tempo o único remédio possível.
E ele passou. Passou seu bálsamo sobre minha pele, minhas feridas.
Acalentou-me em seus braços de vento.
Embalou-me com suas cantigas de tic-tac.
O tempo que passou... Sim, o tempo passou.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

de nós.

Entre um espasmo e outro o silêncio.
Na minha cabeça ressoava um última e dooída frase:
O que restou de nosso amor?
Lidos agora os versos finais de uma carta antiga já não fazem sentido.
O espelho quebrou-se.
A barreira se ergueu rápida e pesada.
Já não somos como outrora fomos.
E isto é salutar.
Triste dos que permanecem os mesmos.
Tu já não estás. Eu ainda aqui.
O que restou de teu perfume é lembrança doce.
E teus olhos grandes e iluminados já já não me fitam tão de perto, como se fossem os lhos de Deus sobre uma criatura sua.
Sim, era isso o que eu representava, o maior papel de minha vida: ser teu.
O pano caiu. A casa silenciou. Teu corpo se foi. A cama é grande, fria e triste.
Eu, pequeno, calado, assusto-me com cada mínimo ruído.
É a esperança que teima em habitar meu coração.
A espera é infinita.
Enquanto teu caminho é cada dia mais longe de mim, mais distante da casa, inalcançável para meus braços...
O que resta?
O tempo, as paredes, os olhos de Deus, o último aceno, um beijo de despedida, a memória, o nada, o nada, o nada.
O fim. De tudo, de nós, de mim.