diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Cegueira

Envolto numa névoa espessa.
O pior cego é o que não quer enxergar.
Mas chega um momento em que não é mais possível.
Não nos é permitido ver nada.
O sentimento nos toma por inteiro.
Inteiramente entregues aos desejos da alma.
Perdido ficamos.
Sem o mínimo domínio de nossas ações.
O mais simples gesto é expressão de amor.
Brilham indecentemente os olhos apaixonados.
Gelam pornográficamente as mãos carinhosas.
O corpo sedento de carícias arde de paixão.
Os lábios ficam ressecados a espera do beijo.
E ele não chega,
as mãos ficam paradas, frias, mortas.
Os olhos se apagam decentemente.
As retinas cegam-se.
Tão rápido quanto foi o amor.
E volta-se a escura solidão de dor
E sofrimento.
O eco não responde os gritos de amargura.
Dissipam-se no vento os berros de ódio.
Gela o ar...

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Flor de Obsessão

Se pode-se dizer que obsessivamente vive-se obsecando uma obsessão obsessiva.
Não tenha medo de expor as maiores dores do seu ser.
Expurgue sua alma.
Limpe todo o seu pensamento dos maus desejos.
Pense em branco, não se deixe levar por vis sensações.
Abstraia-se do materialismo repugnante que domina o mundo.
O vil metal só nos faz desacreditar na sensibilidade do homem.
A pureza dos homens só existe até o momento do nascimento.
Ao se contaminar com o oxigênio compartilhado com burgueses, ingleses,
porcos, judeus, sacripantas perde-se a simples alma divina.
Nem toda vileza é tão má. Os que crêem nisso são maus.
O sentimento mais triste do mundo é a pena.
Pior ainda que o desprezo.
A corrupção do ser humano se dá ao primeiro beijo.
Não há maior defloramento que o beijo.
O sensual encontro de lábios é porngráficamente indesejável às mocinhas.
Famílias cerrem suas pura e castas meninas dentro de grades.
Prendam-nas ao pés da cama.
Enfiem-nas nos castos lençóis.
Brancos como as nuvens do céu.
Que vis cavaleiros estão galopando no mundo.
Tenho pena do mundo.
Tão podre e sórdido como políticos.
Sina triste a da humanidade.
Misturar-se a lama da podridão secular.
Ave homens! Podres desejos carnais.
Carne pútrida e fétida.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

O que ia ser, mas não foi.

Não sei por que tememos viver.
Um dia quereremos e não mais poderemos.
O que se passa numa cabeça?
Um turbihão de movimentos,
emoções nunca vividas por outros.
Se teremos vontade de sermos diferentes.
Por que não o somos?
Mudar nem que seja um estilo de roupa.
Tudo é necessário na vida.
Nada é acessório.
Quantos param e pensam?
Outro nem pensam, agem.
Agir é a melhor solução na hora da dúvida.
O arrependimento pode vir, sim.
Mas que adianta?
Já fizemos.
E isso é que importa.
As ações.
É tudo que levamos pr'álem.
Caminho solitário no mundo.
Não tenho medo de ser assim.
O completo me agustia.
É sempre quero andar.
Pois não temo o cansaço.
O prazer é descansar.
Mesmo que isso demore.
O tempo não importa.
Importa é estar.
É ser vivo, vívido.
Ávido de calor.
Esquentar-se em braços alheios.
Envolver-se em carinhos recebidos.
Receber lábios quentes nos seus.
Sonhar conjuntamente.
Sentir a terra rodar. As nuvens caminhar no céu.
Mirar o horizonte e ver o que não tem fim.
O infinito percurso circular.
Fechar o círculo da vida.
Arredondar as constatações.
Abstrair o resto do mundo.
Trancafiar-se num quarto escuro.
Ser bicho-do-mato e exposto ao mesmo tempo.
Ser noite e dia, sol e lua.
Carnaval e velório.
Festa e enterro.
Bethânia e Elis.
Gal e Nana.
Caetano e Chico.
Me dá danoninho, danoninho dá.
Compre batom.
Bicicletas Caloy.
Volkswagen.
Globo, Bombril, Coca-Cola.
Kolynos, Colgate, Gillete.
Ser consumista.
Alcoolista.
Ler Manchete, Caras, Bundas.
IstoÉ, Veja que a Época está Gente.
Transcrever tudo em braile.
Ler toda bula de remédio.
Decorar a tele lista.
Ler todas as seções de anúncios do jornal de domingo.
Incluindo as notas fúnebres.
E quem pensava que a estrela vermelha era a solução?
Ainda acredita em Papai Noel, pois não?
Quem pensou que o Brasil era a terra em que se plantando tudo dá?
Que tamanho tinha o lençol que o cobria?
O cavalo branco de Napoleão?
Maria Antônieta achou o resto do corpo?
O que foi feito dos pedaços de Tiradentes?
O ouro de Diamantina está aonde?
O açúcar do nordeste?
Nassau levou?
Assim não há quem aguente o repuxo.
Desisto.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Sentido

Qual o sentido da vida senão amar?
Hoje eu ouvi uma frase muito bem dita:
"O mundo é dos que andam. A coisas só acontecem na vida de quem anda".
Concordo plenamente com essa tirada.
O mundo só existe para quem o percorre.
Não adianta vivermos isolados, hibernando.
Enquanto a vida corre solta.
O tempo é implacável.
Não o podemos disperdiçar.
Temos que saborear todos os instantes.
Como se no seguinte não estivéssemos aqui.
Esse é o sentido de se viver.
E para amar é necessário correr mundo.
Não esperemos que o amor nos bata a porta.
Enquanto contamos rosário numa cadeira.
Andemos, mesmo que a ermo.
Um dia encontraremos um rumo.
Um destino nos cruzará o caminho.
O que não podemos é esperar.
Agir, hoje, ontem e sempre.
A vida constitui-se em verbos.
Viver, correr, amar, sofrer, abrir,
permitir, sonhar, chorar, sorrir,
cantar, falar, pular, vibrar, bater,
apanhar, levantar, sentar, deitar,
dormir, brilhar, estar, ser, querer,
poder, aventurar, transitar, absorver,
caminhar, elevar, brincar...
Morrer.

domingo, 26 de agosto de 2007

"Porquês"


Porque nem tudo é como queremos.

Porque nem sempre temos o que queremos.

Por que é assim?

Porque se tudo fosse fácil seria sem graça.

E não teríamos vontade de ter.

E se não tivéssemos não viveríamos.

Porque assim é melhor...

O gosto de querer ter é saboroso.

Porque quando conseguimos aproveitamos melhor.

Há muitos porquês que não são respondidos.

Mas vivemos.

Porque a vida não precisa de perguntas.

Ela pos si só se basta.

O inerente é esse.

Pois quanto mais se pensa

Menos se vive.

E...

sábado, 25 de agosto de 2007

Vontade.

Tenho tido muitas vontades ultimamente.
Cada dia mais quero estar envolvido com minha arte.
Tenho vontade de gritar meus pensamentos.
Tenho desejo de crescer como pessoa.
Sede de conhecimento.
Sinto-me uma traça a comer livros.
Devoro-os com uma voracidade impressionante.
Tento absorver todos conhecimento que me chega.
Quero colocar esse conhecimento em prática.
Quero por as mãos na massa.
Trabalhar, trabalhar, trabalhar...
Exaurir-me.
Gastar todas as minhas energias no trabalho.
Fazer surgir algum efeito no mundo.
Mexer com as almas quietas.
Torná-las inquietas, incansáveis.
Sedentas de conhecimento...
Assim como hoje está minha alma.

Com Regi e Manu, ontem na festa da casa de Mickey.

Seres Cênicos.

amo mto essa turma, o achado da minha vida!
mais uma etapa vencida, mais um prazer realizado.
entre diferenças as semelhanças sobressaem.
é no oco da vida que nós nos preenchemosuns com os outros.
uma força que emana do nosso conjunto.
uma luz, negra, que brilha na teia do mundo.ato de fé e paixão.
num tablado, no chão, na rua, no mundo,
pichado no muro, em faixas estendidas,
na boca do povo seremos notícia!
no mais simples gesto banal fazemos diferente
aí reside a nossa glória... e talvez a nossa perdição.
o brilhar das luzes da ribalta nos ilumina.
e por amar de mais, por querer-mos estar sempre juntos
eis que surge um grande ser.
o que somos juntos até o apagar dos refletores...
quando enfim ouviremos os aplausos finais.


A cada dia que passa tenho mais certeza que essa turma é eterna e etérea.
sempre juntos e distantes.
Sempre rindo, mesmo querendo esconder a lágrima que cai dos olhos.
por mais dispersos que sejamos
procuramos sempre amparar-nos.
para não deixar cair a peteca.
para fazer o jogo cênico continuar.
num eterno "culto a Baco" regado a vinho
fazemos nossas orações e pedidos.
invocamos as forças dos Deuses do Teatro,
para que não deixem as luzes de nossas ribaltas
se apagarem antes do ato final.
Antes do último suspiro de força que nos restar,
em nossos corpos, que não são nem tão nossos...
E sim das vidas que incorporamos.
Que possamos um dia nos despir de nossas vestes cênicas
Com a certeza de que cumprimos o nosso dever.
E que nossas personagens estejam lá no ato final.
Para nos olharem e dizerem: Merda!
Cerram-se as cortinas vermelhas de sangue...
E seguiremos para outros palcos desconhecidos neste plano.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Imerso...

Continuo mergulhando profundamente no universo Rodriguiano...
Vamos ver o que vai resultar essa viagem.

Ah, hj indo pra festa na casa de Michelotto...






Mto triste por ter teminado o período...
Até agora passei em quase todas as cadeiras...
Hj é q vou saber a cadeira q axo q tô pendurado...
Vejamos


Boa viagem aos navegantes!
E até a próxima...





Mandado de despejo aos mandarins do mundo
Fora tu reles esnobe plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade e tu, da juba socialista, e tu qualquer outro.
Ultimatum a todos eles e a todos que sejam como eles.
Todos.
Monte de tijolos com pretensões a casaInútil luxo, megalomania triunfante
E tu Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral que nem te queria descobrir.
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular
Que confundis tudo!
Vós anarquistas deveras sinceros
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores para quererem deixar de trabalhar.
Sim, todos vós que representais o mundo, homens altos passai por baixo do meu desprezo
Passai, aristocratas de tanga de ouro,
Passai frouxos
Passai radicais do pouco!
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa, descascar batatas simbólicas
Fechem-me isso à chave e deitem a chave fora.
Sufoco de ter só isso a minha volta.
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo.
Nenhuma ideia grande, nenhuma corrente política que soe a uma ideia grão!
E o mundo quer a inteligência nova
O mundo tem sede de que se crie
O que aí está a apodrecer a vida, quando muito, é estrume para o futuro.
O que aí está não pode durar porque não é nada.
Eu, da raça dos navegadores, afirmo que não pode durar!
Eu, da raça dos descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir o mundo novo.
Proclamo isso bem alto, braços erguidos, fitando o Atlântico
e saudando abstratamente o infinito.

"segundo o "Ultimatum" de Álvaro de Campos (escrito em 1917)
*texto dito por Bethânia em seu último show "Dentro do Mar Tem Rio".

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Começo...

aderindo ao blog... n sei se vou ter mto saco, mas tamo aqui...

Se disser que não tenho medo do tempo...
Minto.
O meu horror a envelhecer é tamanho.
Penso que não me conformarei.
Em ver-me dependente de outros.
Em não saber coordenar meus atos.
Para que envelhecer?
Não seria mais fácil morrer jovem?
Dizer que os velhos sabem mais...
Para que tanta experiência?
Se não podem usufruir delas?
Tenho medo do fim, também.
Não sei o que me espera além daqui.
Poderíamos não sentir a morte.
Deitarmos e não mais levantarmos.
Assim como nascemos, sem pedir
Sem nos darmos conta de que existimos.
Não sentir seria a solução.
Não amar ajudaria a não sofrermos.
Poderíamos passar sem amar.
Sem estarmos na vida.
Simplesmente morrer no mesmo instante do nascimento.
Simples e só.