diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Testamento

Quando eu morrer só digam de mim uma coisa: que amei.
Que muito amei.
Não quero flores.
Não espero dores.
Não preciso de lágrimas.
Muito menos digam que fui bom.
Não me façam pesar na subida.
Para onde vou pouco importa.
Não me velem também.
Tenho horror.
Que seja tudo festa.
Riam. Por favor.
Não lamentem.
Com toda certeza eu estarei rindo dos que chorarem.
Meus livros podem dar.
Meus discos também.
Não guardem nada físico.
Se quiserem guardem lembranças.
Que com o tempo serão apagadas.
E eu serei esquecido.
É isso que desejo.
Não me criem um lugar de culto.
Queimem-me.
E o pó lancem ao mar.
Quero me espalhar com o vento.
Me misturar com as águas.
E aos que amei bastará saber que uma brisa que lhes tocarem a face ou uma gota de chuva que lhes caírem na fronte terão uma milésima parte de mim.
Estarei mais uma vez lhes dizendo que amei.
Que muito amei.