diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

domingo, 21 de outubro de 2007

Toda uma vida em vão.
Nova era deve se iniciar.
Sentimentos frescos, verdes.
Atitudes maduras, porém novas.
Reflexão que nos levou a tal.
O fato seguinte será, sempre
Conseqüência do anterior.
Por mais que barreiras possamos encontrar.
Pernas temos para derrubá-las.
Nada nos deve impedir de sermos reis.
Mesmo que reis de nossa loucura.
Num reino de eterna fantasia.
A vida está aí.
Cabe a nós, tão somente,
Vivermos tão bem e para o bem.
Não deitemos na relva e esperemos
o tempo passar.
Avante, com fortes e novas ações.
O verbo é que rege o mundo.
Se não agirmos seremos inanimados.
Tão mortos como quando não existíamos.

sábado, 13 de outubro de 2007

Dança

Mãos e pés que se movem.
Articuladamente.
Movimentos coordenados.
Arquétipos de algo.
Respirações sistemáticas.
Aleatoriamente.
Melodias que se fundem.
Aos passos refeitos.
Deslizam sob céus.
Sobem altos aos véus.
Extasiam-nos.
Pássaros da terra.
Vôos no chão.
Ponta, pé, calcanhar.
Música ou silêncio.
Corpos que se movem rápidos.
Gestos repletos.
Bailam as curvas.
Retas que se moldam.
Abstratos sentimentos.
Vistos em expressão.
Realce de nossas almas.
Dança do mundo.

Novas Cores

Tive pena de mim.
Sofri como um imbecil.
Amei como um adolescente.
Riculamente, absurdamente torpe.
Quão infantil eu fui! Meu Deus!
Como pude ter tais sentimentos?
Querer morrer por não ser amado.
Qual o quê?
Por favor!
Resolvi viver nova vida!
Abrir-me inteiramente aos novos rumos.
Arremessar-me sem rede do trapézio.
Correr despudoradamente na vida.
Amar indiscriminadamente a todos.
Ter pena de ti...
Pois perdeste uma grande oportunidade.
Sorrir do mais simples gesto.
Banalizar todos os obstáculos que se interporem.
Não quero-te odiar.
Embora seja difícil.
Afastar-me-ei de ti.
Até que a poeira baixe.
Enquanto refaço felizmente a minha hora.
Quero cores fortes, nada de monocromia.
Músicas me sigam sempre.
Alegres e bestas melodias.
Sorrisos me permeiem todos os dias.
E já serei satisfeito.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Palhaço da Vida

Desalinhos correntes.
Não sei cantar.
Nunca pintei.
Não sei representar.
Jamais dancei.
Que arte é a minha?
Nenhuma.
Tive sensações de trapezista.
Equilibrista, malabarista.
Corda-bamba.
Picadeiro, palco, cortinas.
Coxias.
Camarim, luzes da ribalta.
Light neon.
Azul de caminhos invisíveis.
Escuro do público.
Murmúrios quase imperceptíveis.
Quis ser ator, músico, pintor, escritor...
Sonhava em ser reconhecido pela arte.
O que me restou?
Além de mero mortal...
Fui, sou e serei sempre palhaço.
Apenas fazer os outros rir.
Rir de mim ou comigo.
Apenas sorrisos que não me chegam.
Perdem-se no vácuo do mundo.
No oco breu da vida.
Por trás de minha pintura envelheço.
Perco o frescor da juventude.
Sinto o peso da vida.
Tenho medo do fim.
Pois vou para algum lugar que não sei onde é.
E sei que aqui ninguém se lembrará de mim.
Deixarei apenas, encerrado numa caixa, o meu vermelho nariz.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

difícil

sei que não estou bem.
tenho medo de passar em branco na vida.
tenho medo de não ser lembrado.
queria tanto ser alguém.
ter um espaço no mundo.
leia-se mundo como coração de alguém.
sinto-me cada vez menor.
não quero ser um grão de areia.
um fiapo de vida.
quero ser Golias.
um arranha-céu.
onde está perdida a minha grandeza?
como tornei-me tão mesquinho e só?
por que o mundo parou de rodar?
não sei se sou eu que não mais vejo,
não mais sinto, não mais sei nada.
vazio, um vazio enorme me consome.
chamas internas me queimam as entranhas.
sei que passo rápido.
não sei quanto tempo ainda me resta.
queria não poder pensar.
jamais amar e por conseqüência não sofrer.
sei que não me compete querer.
apenas sou empurrado pela vida.
sou comandado pelo destino.
que destino?
trago uma única lágrima nos olhos.
que não derramo, petrificou-se.
coração meu destroçado.
alma desfeita.
sonhos irreais.
festas findas.
pôr-do-sol de mim.
noite escura me encontra.
me toma totalmente.
me espanta a visão de ser importante.
maldição que recai sobre minha cabeça.
tempo imóvel que me pára.
e fico.

Vingança

Nunca pensei desejar mal a alguém...
Querer a desgraça de outrem...
Mas hoje eu fiz.
Não se certo ou errado, foi minha vontade.
Fi-lo, e não me arrependo.
Reafirmo minhas palavras e vontades.
Sei que não podia fazê-lo.
Mas nas vontades não se manda.
Apenas sente-se.
Como não guardar nada pesado em mim?
Tu não deixas!
Tinha alegria, sem saber-me alegre.
Era jovem, hoje velho.
Fui amante, nunca amado.
Quis ser algo em alguém.
Nada me restou.
Poeira úmida.
Ambiente triste.
Visão eterna do meu sofrimento.
Ver-te sempre me dói.
E tento não sofrer.
Impossível.
Queria não mais saber notícias tuas.
E passas por mim todos os intantes.
Fazes de propósito?
Caso pensado?
Queres ver-me no chão?
Além do chão.
Morto, enterrado.
Um dia serei.
Que muito não me demore.
Sei que meu túmulo será tua felicidade.
Digo-te antes: Jamais serás amada como por mim foste.
Nunca sentirás um beijo mais fresco que o meu.
Não terás nunca felicidade plena.
Como eu também não tive.
Perseguirei-te hoje, amanhã e sempre.
Serei uma mesmo que uma vaga lembrança a perturba-lhe o cenho.
Não terás noites calmas.
Serei a tormenta de teus sonhos, pesadelos.
Em teu leito de morte estarei gargalhando.
Como quem assiste uma ridícula comédia.
Será teu triste fim o meu único motivo de satisfação.
Não te queria odiar.
Mas forças-me a ter ódio de ti.
Sei que pagarei por tudo que te desejo.
Mas nada será maior que o meu sofrimento.
Por saber-te de outro e querer-te.
Por ser imbecil ao ponto de ainda te amar.
Como seria bom um passe de mágica e livre de ti estaria.
Mas meu amor se transformará em algo pior: horror, ojeriza, ódio.
Verdadeira aversão a tudo e todos que me façam lembrar-te.
Um dia sei que não mais sentirei nada.
Desprezo apenas.
Mas até lá, só vontade de vingança.
Crueldade em pessoa.
Não me quiseste amor, me terás em ódio.

domingo, 7 de outubro de 2007

Maria, Senhora Nossa, Bethânia

Mesmo que eu escrevesse um milhão de palavras não conseguiria expressar todo o meu sentimento por ela.
Não sei quando começou ao certo, não sei também que motivo me levou a tal.
Apenas sei que alguns anos se passaram e meu êxtase aumenta, sempre e cada vez mais.
Quem dera um dia eu possa ter uma milésima parte da presença cênica dela.
Dominar tão bem uma platéia, deixando após o término do seu espetáculo um quê de sagrado, e ao mesmo tempo profano nas almas que lhe assistiram.
Senhora absoluta de seu ofício, de sua arte, não admite desafinos.
Não os desafinos de voz, mas os erros.
Quer tudo na mais perfeita ordem.
Pisa no seu terreno sagrado sempre pedindo licença aos donos do lugar.
Pés descalços, em respeito ao solo santo.
Não tem pudor em nos tocar no mais fundo do nosso ser.
Estamos sempre à mercê de sua vontade (voz), é ela que nos guia as emoções.
Nos faz reverência ao fim de seu ato, quando deveríamos, sim, nós estarmos prostrados aos seus pés.
Agradecendo por nos ter presenteado mais uma vez com sua força vital.
Que Iansã a guarde entre nós por muitos anos mais.
Não nos prive tão cedo dessa magnitude cênico-musical.
Êparrei, Maria.

sábado, 6 de outubro de 2007

Angústia

Como não pesar minha alma?
Como não me contentar com poucas sobras?
Não há nada pior que não ter,
não ser, não existir para quem se ama.
Passar sem ser visto.
Esforçar-se para ser notado.
E nem uma simples migalha nos resta.
Um dia quem sabe, talvez as coisas mudem?
Acredito que nem tudo é tão mutável assim.
As vezes o silêncio é melhor que palavras.
Ações futuras dependem dessas frases mal ditas.
Queria ter o poder de mudar, voltar atrás.
Sei que não é possível.
Então choro.
Sofro, calado, mudo, sozinho no mundo só meu.
No meu universo absolutamente particular.
Em que não permito a entrada de outrém.
Senão o meu amor.
Sei que meu amor não virá, nem hoje,
nem amanhã, nem tampouco futuramente.
Solitáriamente triste sigo minha sina.
Seca, longa, longínqua estrada fria e morta.
Que meu último leito não demore a chegar.
Preciso sair desse plano sofredor.
Mesmo que seja para sofrer em outro plano.
Mas não aqui.
Onde todos já me ridicularizaram.
Onde não tenho mais coragem de ser nada.
Onde jã não quero ser mais ninguém.
Pó e só.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Como 2 e 2 (Caetano Veloso)

Quando você me ouvir cantar
Venha, não creia, eu não corro perigo
Digo, não digo, não ligo, deixo no ar
Eu sigo apenas porque eu gosto de cantar
Tudo vai mal, tudo
Tudo é igual quando eu canto e sou mudo
Mas eu não minto, não minto
Estou longe e perto
Sinto alegrias, tristezas e brinco
Meu amor, tudo em volta está deserto, tudo certo
Tudo certo como dois e dois são cinco
Quando você me ouvir chorar
Tente, não cante, não conte comigo
Falo, não calo, não falo, deixo sangrar
Algumas lágrimas bastam pra consolar
Tudo vai mal, tudo, tudo, tudo, tudo...
Tudo mudou não me iludo e contudo
A mesma porta sem trinco
O mesmo teto, o mesmo teto
E a mesma lua a furar nosso zinco
Meu amor, tudo em volta está deserto, tudo certo
Tudo certo como dois e dois são cinco
Meu amor, meu amor, meu amor
Tudo em volta está deserto, tudo certo
Tudo certo como dois e dois são cinco