Desalinhos correntes.
Não sei cantar.
Nunca pintei.
Não sei representar.
Jamais dancei.
Que arte é a minha?
Nenhuma.
Tive sensações de trapezista.
Equilibrista, malabarista.
Corda-bamba.
Picadeiro, palco, cortinas.
Coxias.
Camarim, luzes da ribalta.
Light neon.
Azul de caminhos invisíveis.
Escuro do público.
Murmúrios quase imperceptíveis.
Quis ser ator, músico, pintor, escritor...
Sonhava em ser reconhecido pela arte.
O que me restou?
Além de mero mortal...
Fui, sou e serei sempre palhaço.
Apenas fazer os outros rir.
Rir de mim ou comigo.
Apenas sorrisos que não me chegam.
Perdem-se no vácuo do mundo.
No oco breu da vida.
Por trás de minha pintura envelheço.
Perco o frescor da juventude.
Sinto o peso da vida.
Tenho medo do fim.
Pois vou para algum lugar que não sei onde é.
E sei que aqui ninguém se lembrará de mim.
Deixarei apenas, encerrado numa caixa, o meu vermelho nariz.
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