diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Baixo marulho.

Em que mares naveguei?
Que marés violentas enfrentei?
Até que de repente o mar serenou.
As ondas baixaram.
O vento ficou ameno.
Pode-se, enfim, avistar mais adiante.
O mar revolto ficou atrás.
Naveguei tranquilo.
Em terras distantes aportei.
E lá pensei viver.
Mas o mar me chamou de volta.
Eu, marujo de todas as horas.
Não consegui viver em chão firme.
A vida marítima é meu destino.
Navegar sempre.
Içar velas, levantar âncora.
A música dos pássaros vão se afastando.
Essa é a melhor sensação, para mim.
Só o barulho d'água.
As ondas que batem com força contra o barco.
Dias de mar bravo, dias de calmaria.
É assim.
Seguir, aonde o vento me levar.
Navegando nos mares do mundo.
Como quem invade e rasga corações.
Cortando almas pelo tempo que passa.
Ir deixando rastro, que em breve se apagarão.
E nada mais restará.
Além da despedida, da lembrança.
E voltar ao mar.
Até que ele me leve para o fundo.
Escuro e frio.
Não mais vendo a luz.
E depois as algas me revestirão.
Os escafandristas virão remexer nestes restos.
Nesses pedaços de um naufrágio.
E de lá, do descanço profundo, sairei.
Para onde? Não sei.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sertão.

Onde haja uma promessa.
É lá que quero ir.
Mas, eu vivo no meio da confusão.
Onde só há desordem.
Eu pensei em cantos claros.
Em terras calmas, mansas.
E só caminhos conturbados se desenharam na minha frente.
O meu povo, ficou atrás.
Procurei uma paz, em vão.
Só loucura achei.
Cavando em terras infertéis.
A sina de quem não pensa é essa.
Meus grãos não germinaram.
Morreram secos no árido chão.
O pó da terra me cobriu inteiro.
Eu segui, catando folhas secas.
Sacudindo a poeira que trazia sobre os ombros.
Pisando forte, com os pés cansados.
Até achar uma terra mole.
Onde haverá promessa.
E isso me basta.
A promessa de algo bom.
Uma nova ilusão.
Até que o sol venha e queime tudo.