diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Algo que eu queria dizer...

Eu não busco compreender o mundo
Eu apenas tento ser uma parte
Não quero ser um por fora.
Eu sempre tive medo das palavras,
Elas sempre me assustaram
E foi com elas que assustei, choquei,
Amei, sofri, senti, vivi.
O meu ser não é de falá-las
Intuito maior escrever,
Conversando com as gráficas
Com elas estou em boa companhia
Acerto dizer tudo que quero.
Sei sair de um extremo ao outro
Penso em tudo, em todos e em nada
Também
Quando menino temia aos céus
E com palavras de oração pedia perdão
Hoje não sei perdoar, não sei ser temente
É como se tudo que estava posto
Tivesse sido destruído...
Para uma nova construção erguer
O tempo é imaterial, é abstrato demais
Quem o tempo consegue parar
É dono de sua própria vida.
Os meros passantes aqui nada são
Somos como ser e estar, e nunca
Nunca somos, nem estamos
E no idílio furtivo eu escrevo sobre o amor
E também sobre o desamor, o arrependimento
Pois é verdadeiro e normal arrepender-se
Mesmo que isso só aconteça tempos depois
O tempo nada vale.
Para nós o que fica é o pouco que se faz
O quanto se viveu.
Atrás da porta sempre há uma vassoura
Para que nós sejamos colocados pra fora.
Expelidos como uma criatura abjeta
O vil, mais brincante da vileza é quem fala.
Quem escreve é um angelical Bocage
Pensava-se num quadrado...
Quando na verdade tudo girava
E por querer provar quase queimado morreu.
Em que alto monte pousou a águia?
Onde estão as botas de Judas?
Galinha, ovo, pinto?
Abacaxi e manga com leite?
Jacaré com cobra d’água...
Mais profundo que o centro da Terra.
Longe, tão longe, muito depois do Japão.
Praticamente uma volta completa.
Quem muda profundamente, diz:
“Dei uma mudada de 360 graus”.
Era preferível que mudasse apenas 180°
Assim, não voltavas pra onde estavas.
Primeiro em pé ou deitado?
Tanto faz, a ordem dos fatores...
Já se sabe o resto.
Supõe-se que nada se cria...
Minha avó já dizia:
“Formiga quando quer ser perder cria asa”.
Não será mais fácil perder-se andando?
Tabelionicamente falado as pessoas não nascem
São registradas.
E quando morrem? Não morrem?
Ninguém é semente.
Ou é sim.
“Papai plantou uma sementinha em Mamãe”
Ué? Não é assim, não?
Corda bamba é coisa de circo.
Bisturi de hospital, fruta de feira.
Não mais, do supermercado também!
Prédio é edifício. E casa?
Edifácil? Mas nada é fácil até que se prove o contrário.
O que existe além do céu, só sabe quem já foi.
A lua é um grande queijo?
Se eu for ao Sol o que acontece?
Passarinho gosta de voar, de cantar, de viver nas árvores.
Dá o pé meu loro.
O trem pega quem mesmo?
Ah, não os passageiros, não é?
Se os portugueses sabiam a onde iam,
Por quê chamaram o povo brasileiro de índio?
E que tamanho tinha o lençol que cobria o Brasil?
Shakespeare realmente existiu?
Julieta, Desdêmona, Lady Macbeth, Titânia, as comadres...
Eu pensei que escrever fosse difícil.
Que engano. Se junta ordenadamente algumas letras.
E posteriormente, nem tão ordenadamente, as palavras.
E surge algo que não estava posto.
Um novo Coliseu, um novo Taj Mahal.
Vinícius já muito escreveu, e fumou, e bebeu, que morreu.
Pessoa foi vários... E quando ele morreu?
Quantos cadáveres encontraram?
Lispector profundamente psicológica, um travo amargo na boca.
Simples agrupamentos de letras e depois de palavras.
É disso que se compõe a obra de todos, todos os escritores.
Algumas letras a menos e tudo ruiria
Tudo seria desconstruído, até que outrem chegasse e o fizesse.
Não de tal forma como eles fizeram, mas à sua maneira.
Com sua impressão peculiar.
O seu jeito.
E nada mais existiria para a humanidade.
Dela nada sobrará, além de suas obras.
Sejam elas quais forem.
Dos mais diversos tipos que sejam.
Quanto mais palpáveis mais destrutíveis serão.
Queimam-se livros, pintam-se paredes, quebram-se estátuas.
Apenas o pensamento permanece.
O seu, o meu, o vosso, o nosso.
Ele é inatingível.
Até que a morte nos separe.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Lucidez, desatino.

Ah gelada, calada, cilada.
Silente, em que caí.
E me mantive assim.
Em plena lucidez.
Numa imensa avidez pelo fim.
Até que veio a mim.
Em surdina, aquela menina.
De olhos tristes, de dedo em riste.
E me disse: "Eu te amei".
Aí eu calei, mais uma vez.
Num acesso de loucura.
Súbita tontura, alta bravura e doce ternura.
Afoguei-lhe as palavras com um longo beijo.
Quando virei-me percebi que o mundo havia parado.
Tudo imóvel.
Só nós dois nos movíamos.
Aquele rosto branco, de pó-de-arroz.
O corpo cheirando a alfazema.
O vestido roto, cobrindo um corpo em broto.
Uma sensação de alegria.
Energia que se movia entre nosso corpos.
Ela se soltou de mim.
O mundo voltou a girar.
E tudo caiu mais uma vez na banalidade.
Um infinidade de coisas aconteciam ao nosso redor.
Não éramos mais o centro de tudo.
Enfim, tudo acabou.
E vi que tudo era sonho.
Recuperei a realidade.
Nua, crua.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Medo novo.

Você é jovem! Não venha querer me ensinar como se faz!
Você nem sabe o que é o amor! Nunca viveu. Você não sabe!
Eu já vivi muito. Sofri outras, tantas, vezes.
Não, você não imagina. Você não tem a mínima ideia do que passei.
Eu, só eu sei.
Quantas vezes eu tive que me reconstruir.
Renascer. Feito em mil pedaços.
Colar-me. Fazer-me inteiro novamente.
Você nem existia ainda.
E eu já amava. Sofria, sim, muito mais.
Medo?
Não, antes nunca tive.
Sempre encarei tudo de peito aberto.
Das tapas não tinha receio.
Eu nunca tive medo antes.
E diante de ti, tão jovem, eu tremo.
Tu não sabes, tu não sabias, ou fingia não saber.
Pois hoje eu te digo.
Te amo.
E não quero que tenhas pena de mim.
Nem que me venhas socorrer.
Morrerei como das outras vezes.
E um dia me refarei.
Está escrito.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Quando amei.

Quem disse? Eu não acredito.
Já pensei.
Eu tive vontade de gritar.
Mas você não me ouviria.
Teus ouvidos não alcancei.
Eu te amei, sim.
Tive ciúmes, inveja de quem te tocava.
Dos beijos que não tive.
Eu te quis.
Tuas mãos não foram minhas.
Teu cheiro passava por mim.
E tu não ficavas comigo.
Tanto desejei estar onde estavas.
Sofri por perder o que nunca tive.
Chorei.
Não me envergonho de dizer.
Digo, brado para quem quiser ouvir.
Falei muito do meu amor.
Ainda falo hoje.
Sonhei noites seguidas.
Teus olhos negros nunca me enxergaram.
Eram cegos para mim.
Não para os outros.
Tua correção só existia com os demais.
Comigo sempre erros.
Eu sei, pra mim só o resto.
As migalhas que sobravam do banquete.
Cá, no meu canto eu chorava como o orvalho.
Lágrimas frias que congelaram meu coração.
O tempo tratou de me endurecer.
Não te quero mais.
Já estou cicatrizado.
Só te peço que não faças mais isto.
Nem comigo, nem com ninguém.
Afasta-te de mim.
Para todo sempre.
Mesmo petrificado tenho medo de recair em teu veneno.
De me deixar enredar na tua teia.
Tua simpatia e beleza arrasam até mesmo com o maior rochedo.
O que faria de mim, uma simples e pequena pedra?
Me faria pó.
E sei que desta vez não resistiria.
Não poderia ressurgir como Fênix.
Estaria aniquilado para todo o fim.
Destruído.
Por amar demais. Por te amar tanto.
Passa depressa por mim, te peço.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Mortal solidão.

Parou no meu coração.
Caiu em mim.
Permaneceu aqui.
Sempre em mim.
Dentro.
E cresceu.
Me tomou completo.
Escureceu minha alma.
Endureceu meu coração.
Congelou meus sentimentos.
E eu não pensei.
Esperava sofrer mais.
Porém foi tudo tão natural.
Sistematicamente aconteceu.
Era mais uma vez.
Talvez desta vez.
Olhei pra mim.
Vi-me envelhecido.
Olhos mortos.
Coração nas mãos.
Estendidas.
Entregando o que restou.
De quem tanto amou.
E por fim foi corroído pela solidão.
Que chegou silenciosa e mortal.
E se instalou.

sábado, 7 de novembro de 2009

Mentira...

Vós que bradais aos quatro ventos que sois felizes, mentis.
A felicidade não existe.
Vos iludis.
Acreditais no que vos digo.
Eu sei.
Não sejais tão ignóbeis.
Abris vossos olhos ao mundo que se mostra.
Tão cinzento e gélido.
Sem amor, sem compaixão.
Viveis numa realidade fingida.
Eu, pertencente aos desacreditados, moribundos vos digo:
Preferis a morte.
Só ela vos redimireis de todas as tolices que façais aqui.
E quando lá chegardes vereis que não minto.
Que só tenteis vos alertar.
E não me credes.
Que posso fazer?
Vós escreveis vosso destino.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A pequena.

Sentada debaixo daquela frondosa árvore ,cuja copa lhe fornecia uma grande sombra, pensava coisas soltas. O chão estava recoberto de folhas secas, folhas recém caídas, sementes de frutos bicados pelos pássaros. O silêncio era absoluto, naquele antigo jardim. Neste momento algumas outras folhas tocavam o chão. Como num balé cordenado, pelo vento, chegavam lentamente ao solo, para enfim repousarem. Seus longos cabelos estavam presos em grossas tranças. Seu vestido xadrez surrado mal lhe cobria o corpo. Usava-o desde os nove anos, já estava com quatorze. A saia já perdera o abanhado há bastante tempo. Seus pés encolhidos dentro daqueles velhos sapatos de couro gasto. Seus olhos ainda eram vivos. Sua tez alva como neve. Seus lábios tão encarnados pareciam pintados. Olhando o balé das folhas recostou a cabeça no grande tronco. E adormeceu. Num instante se viu novamente aos nove anos. Junto de seus pais. Apesar do tempo ainda podia reconhecer cada detalhe daquelas faces tão queridas. Abraçava-os com sofreguidão. Sentavam-se num enorme gramado, riam muito. Seu pai com o livro de contos que costumava ler para sua pequena. Ela deitada com a cabeça no colo da mãe, ouvia atentamente o que seu pai lia. O seu tradicional conto de princesa, fadas e príncipe. Quando seu pai terminou o conto fechou o livro com grande barulho. A menina então acordou. Assustada. Olhou ao redor, se deu conta que voltara à realidade. Uma lágrima lhe caiu sobre a face. Com sua mão suja de terra e de longos dedos enxugou-a. Levantou-se, ergueu a cabeça e seguiu rumo ao que lhe esperava. Fosse o que fosse.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Do almoço...

Um Coca-cola aberta. Um prato sujo. Copo de gelo, fatia de limão. E uma figura mórbida sentada em frente. Era assim que passava dos os dias, exceto sábados e domingos, no horário das 12 às 13 horas. Naquele velho botequim de esquina. Saia apressado do trabalho para se refastelar naquele prato-feito. O cardápio não era tão variado. Ia de bife à galinha. Passando por suas variantes, assado, cozido, guizado, de molho. Era uma alimentação bem comum. E se sentia feliz. Um pequeno café. O último cigarro no caminho de volta. A bala de menta. E seu hálito ficava uma mistura de gordura, tabaco, café e menta. A satisfação maior era sentar-se à sua mesa no escritório, debaixo do ar-condicionado, recostar a cabeça na parede e tirar vinte minutos de um cochilo desajeitado. E enfim estaria pronto para prosseguir mais um fatigante período de trabalho. Seu colarinho apertava, não se sentia a vontade usando gravatas. Pensou na praia, na sensação de pisar descalço na areia. Sentiu o cheiro da maresia, o calor do sol. Seus pensamentos foram interrompidos pelo insistente telefone que tocava. Tirou o fone do gancho, atendeu a ligação. Resmungou qualquer coisa de volta, sem ar muita importância. Queria ansiosamente voltar aos seus pensamentos paradisíacos. Tentou retomar aquela sensação, não conseguiu. Se deu por vencido. A realidade o trouxera à tona. Se tornava inevitável tentar adiar. O dever lhe chamava. E lá se foi, pesado, prosseguir sua jornada de trabalho...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Sala vazia.

Caminhava naquela sala escura. Conhecia cada centímetro daquele lugar. Corria as mãos pelas paredes frias. Tão sujas como sua alma. A sala estava vazia. A janela fechada. Era fim de tarde. O sol já se ia, levando consigo toda claridade. Ficava ali, agachado num canto qualquer. Onde duas paredes se beijavam. Conseguia ver todos os movéis que estiveram ali, durante tantos anos. As várias mesas, cadeiras, poltronas, tapetes, vitrola, radiola, revistas, cartas. Revia todos os que recebera ali, para longas conversas, noites de música. Cinzas dos últimos cigarros ainda se encontravam pelo chão. A poeira escondida por décadas embaixo do tapete ainda morava ali. As muitas camadas de tinta das paredes impregnavam as sensações. E podia sentir todas. Todas as alegrias, as tristezas. Ainda estava agachado num canto qualquer. Olhava o teto. Sentia ainda o brilho do velho lustre aceso. E ali, naquele momento nenhuma luz existia. Passou a mão no rosto. E se deu conta que assim como aquelas paredes seu rosto também era frio, imóvel, velho. Cheio de marcas do tempo. Cada segundo vivido estava impresso ali, em sua face. Seus cabelos começando a pratear e rarear. Seu corpo refletindo o peso dos anos. Seus passos, antes agéis, firmes, hoje vagarosos e vacilantes. Levantou-se. Encostou-se à janela. Não abriu. Apenas escutou os rumores da rua. Aquela rua. Não conseguiria abrir a janela e não ver mais a rua de sua infância. Estava agora tomada e gigantes de concreto. Seguiu seu percurso pelas paredes, até se deparar com a porta. Corajosamente abriu-a. Saiu daquela sala. E no seu íntimo se sentiu feliz, pois saia pela última vez. Fechou a porta atrás de si, com grande estrondo. Sepultava, ali, naquela sala todo o seu passado. Iria, agora, viver uma nova vida. Andou até a praia. Sentou-se mirando o mar. E ali ficou.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Cicatriz

Acabou a festa.
Me fez te amar.
Para quê?
Voltou pra casa.
Me deixou.
Disse adeus da escada.
Nem olhou pra trás.
Dia sim, dia não eu lembro.
Voltei à escuridão.
Sem você.
Não me arrependo de nada.
Apenas do meu ciúme.
Ele corroeu-nos.
Abriu um abismo entre nós.
E hoje cada um vive no seu mundo.
Longe.
É muito tarde, eu sei, para tentar rever.
Desfazer.
Agora seremos felizes.
Cada um na sua glória.
A amargura de um passado distante se desfará.
Um belo dia de sol virá mudar tudo.
E cada um viverá novas histórias.
Não tão belas como a nossa.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Um novo (velho) mundo.

Desmedido impulso me levou. Plantado estou. Fincado ao chão como raíz de uma centenária árvore de floresta. Não sai deste lugar. Meu tempo foi aqui. É aqui. E será. Um dia serei lembrança. Passado. Longínquo e morto. Da realidade eu apenas vi uma parte. A que passava em minha janela. O medo do mundo grande me manteve preso nesta casa. Com suas paredes maciças. Suas pesadas portas coloniais. Suas cortinas empoeiradas que barram a luz do sol. Um ímpeto me fez descerrá-las. Ao primeiro raio de luz ceguei momentâneamente. Fui, devagar, abrindo meus olhos. Acostumando-me com a claridade. Num súbito desatino, ainda maior, abri as grandes janelas. O mundo me tomou. O ar turbulento me encheu os pulmões, me fazendo cambalear. Aprumei o corpo. Ereto ergui-me novamente. Pus a cabeça pra fora. Vi pessoas. Que passavam apressadamente pela rua. Tão barulheta. Ninguém notava que naquele instante eu conhecia um mundo novo. Além das minhas paredes. Um mundo de cores que jamais pude imaginar. Encerrado naquele mundo cinzento. O mundo não parou. Não observou minha grande descoberta. Depois de horas debruçado sobre o parapeito, já entediado. Fechei as janelas fazendo um grande barulho, cerrei as cortinas. Tudo voltava a ser como antes. Silencioso e sombrio. O meu mundo percebia, sim, tudo que eu fazia. Não quero, não vou viver num mundo em que tudo é trivial. Banal. Onde ninguém observa as consquistas e descobertas dos outros. Prefiro me enfiar neste meu infinito. Onde posso me controlar. Lá, tudo acontece como quero. E a menor mudança é notada. Um passo mais pesado e tudo muda de lugar. Aqui eu sou o rei. Absoluto. Louco, mas absoluto. Centro de tudo. Tudo era cinza, mais uma vez.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Ainda vivo por amor.

Eu que até hoje só amei.
Nunca fui amado.
Senti imenso ciúme.
Me maltratei.
Marquei minha pele.
Tatuei teu nome.
Inpregnei teu cheiro em mim.
Me afoguei em teu corpo.
Agarrei teus cabelos macios.
E os últimos fios ficaram presos ali.
Respirei teu hálito.
Bebi teu suor.
Amei.
Meu corpo hoje tem marcas mil.
Nomes vários pintados.
Coração compartimentado.
Fragmentado em diversos amores.
Todos, hoje, sepultados.
Meus olhos já não procuram os olhos de ontem.
Fitam a imensidão que se espraia adiante.
O amor morreu.
Os amores morreram.
As pessoas morreram.
Eu não morri. Ainda.
Até que se extinga o meu medo.
O ciúme que ainda está presente.
A raiva.
Ódio de não ter tido.
A vontade, a ânsia de ter vivido o amor.
E aí, enfim, eu serei passado.
Esquecido e remoto.
Desfeito.
Destroço, desmanchado.
Morto.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Paralelos.

Se eu te amo.
Tu não me amas.
Se eu te olho.
Tu não me vês.
Se eu te chamo.
Tu não me ouves.
Se eu te desejo.
Tu nem me percebes.
Se eu te esqueço.
Tu nem notas.
Se eu te matar.
Aí, sim, tu saberás quem sou.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Sem mais.

Do que eu sinto, só o tempo dirá se verdadeiro é.
Do meu amor ninguém poderá caçoar.
Eu sou assim. Um inveterado amante.
Amor está em cada parte de mim. Dentro.
Para fora. Exalando. Expelindo por cada poro.
Meus olhos brilham. Mãos geladas.
Coração em disparada.
O mundo pára. E só te vejo.
Nada mais tem cor, nada tem vida.
A pulsação está apenas na nossa troca de olhares.
Eu te amo, tu me amas, eu te olho, tu me olhas.
Meus olhos penetram por tua alma, revelam meu desejo.
Teus olhos retribuem. E é bonito, sentir.
Eu não posso acreditar que tudo é sonho.
Que nada é real.
Eu amo, eu sinto, eu sofro, eu pulso, eu estou.
E tudo é ilusão.
Apenas ilusão.
Solidão sem fim, de noites e dias chatos.
Que se sucedem sem que haja vida em mim.
Apenas um resto do amor que tive.
Um rastro mínimo da verdade que existiu um dia.
O meu amor foi diluído, desfeito.
Corróido pelo ciúme, consumido pela vontade de ter-te.
E findou-se.
Acabou o tempo.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Sem você.

Enquanto queimo meu dinheiro, a vida passa.
Quando te afogo no álcool, me afundo.
Da minha janela nada vejo.
Apenas a escuridão da noite, o brilho da lua, rainha, no céu sem estrelas.
Daqui de dentro de mim vazio o mundo principia.
E se finda.
Mundo que se resume a mim, hoje.
Um dia foi extenso.
Te incluía.
Minha vida é sem cor, meu peito vazio, minha alma é fria.
Tua lembrança me assombra, me ronda noite e dia.
O velho rádio não toca outra música, apenas a nossa.
Cada nota me corta a pele, fere.
Eu queria fazer alguma coisa.
Sou sem vida, sem ação.
Estático, monocromático.
As noites são cada vez mais longas.
Os cigarros queimam mais rápido.
E o tempo não passa, não se desfaz a saudade que me aperta.
Junto à janela minha cadeira, que nunca está desocupada.
Estou sempre ali.
Olhando o final da rua, esperando rever aquele vulto.
Quem sabe de volta...
Nada, apenas o desejo de ter-te outra vez.
A vontade de sentir teu cheiro, tua pele outra vez na minha.
E sinto frio.
Fico sem você, sem amor, sem ninguém.
Esperando, esperando, esperando...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ciúme

Que dimensões meus sentimentos tomam hoje?
Nem eu mesmo sei.
O ciúme me toma por completo.
Não deixando espaço para o perdão, a compaixão.
Só permite o amor. Amor violento.
Dominador, um sentimento virulento.
Doença maldita.
Que me corre nas veias.
Galopa como um animal feroz.
Dilacera minha alma.
Me faz sofrer.
Corrói minhas entranhas.
Me priva de meus sentidos.
Do meu juízo, dito normal.
É uma força que me arrebata.
Domina.
E eu não sei como curar.
Desmanchar.
O ciúme que me mata.
Silenciosa e vagarosamente.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Representar

Vai.
Entrega-te por completo.
Vive loucamente.
Representa tua personagem visceralmente.
Corre pelo palco da vida.
Exaure todasas tuas forças.
Não teme o amanhã.
Dar-te inteira.
Deixa-te possuir.
Dominar pela força de outrem.
Por quem te fazes passar.
A quem fazes viver nesta hora.
Sofre as dores.
Ama, alegra-te, chora.
E por fim deixa-te carir, exausta.
Consumida.
Fraca e realizada.
Até de novo subir do pano.
E as luzes brilharem.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Indecisão.

A indecisão move o mundo.
Mexe o medo.
A inconstância das pessoas.
O momento presente é rápido.
A mudança de hábitos se dá em segundos.
E assim por diante.
Sempre insconstante.
Agora é, ontem não foi, amanhã nunca será.
O tempo é presente, infinitivo.
Ar. Er. Ir.
Não há firmeza, decisão.
Definição.
Sempre frouxo, sem amarras.
Correndo solto.
Folgado.
E tempo passa.
E as pessoas não se firmam.
Não fincam pé.
Jamais criam raízes.
São fracas.
Vão-se com o vento.
Planam, sem pousar.
Aéreos seres.
Que se põem eternamente à favor do vento.
Faça o tempo que fizer.
Vão.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O Funeral

Seu maior medo era ser enterrado como indigente.
Pedia a todos os conhecidos:
- Se eu morrer antes não me dêem um enterro de cachorro! Volto pra puxar o pé!
Morria de medo da morte.
Porém, não largava a boemia.
Um dia, voltando de uma noitade, sentou-se na praça.
E ali mesmo ficou.
Morto.
Os amigos o levaram para casa.
Entregaram-no à família.
Que tratou de tudo como o desejo do finado.
Qando começou o velório lá estava:
O corpo estendido.
As mãos unidas,
Sobre o peito repousam.
Os olhos sem brilho, fechados.
A face levemente arroxeada.
O semblante sereno.
Vestia seu paletó mais bem talhado.
Os cabelos estavam como de costume.
Penteados para trás.
Um terço de madrepérola ornava-lhe as mãos.
Outrora tão quentes e macias.
Agora frias, entrelaçadas.
Os sapatos de verniz, meias de seda marrons.
Os cravos-de-defunto arrematavam aquela fotografia.
A almofadinha de cetim roxo acomodava a cabeça.
Um fino véu lhe servia de coberta.
A madeira era de melhor qualidade.
Os puxadores de bronze.
Nos quatro círios de prata ardiam velas enormes.
As coroas de flores eram inúmeras.
"Ao Grande Homem Fulano de Tal", "Saudades Eternas"
Tanto esmero, para tudo ir pra baixo da terra.
Um buraco fundo e escuro.
Onde todo luxo é indiferente.
Mas, ele assim, queria.
E assim foi feito.
Para que não viesse puxar o pé de ninguém.

domingo, 20 de setembro de 2009

Grito silencioso.

O que se grita, eu já conheço.
O medo.
Temor.
Quem grita.
O grito preso, no meio da garganta.
Gutural.
Eu quero gritar.
Meu corpo treme.
O ar não sai dos pulmões.
Perdi as forças.
Meu grito não se ouve.
Está parado.
Preso em mim.
Eu quero gritar.
Preciso explodir.
Bradar violentamente.
Urrar.
Só sussuro.
Digo baixo.
Baixinho.
Te amo.
Quando devia dizer amei.
Te amei.
Silêncio.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O que fiz de mim?

O que fiz de mim.
Naõ sei.
O que fiz com minha vida.
Jamais saberei.
As escolhas certas?
Errar muitas vezes?
Que caminhos trilhei?
Onde cheguei?
Se é que cheguei em algum lugar.
Apagada a memória.
Esquecidos os fatos.
O hoje é o senhor.
Presente no tempo.
E eu? O que será de mim?
Sem raiz.
Passado em branco.
O que fiz de mim?
Como me apaguei assim?
Onde deixei minhas feições?
Todos os espelhos se partiram.
Cacos é o que resta.
Quem eu fui?
Ou sou?
Quem ainda serei?
Serei alguém?
Não, não, não sei!
Quem o saberá?
Meu rastro se apaga atrás de mim.
Minha sombra se desfaz.
Meu corpo pútrido
Insípido cheiro.
Carneficina contra mim mesmo.
Meu trêmulo espírito vaga.
E eu que nunca fui nada.
Apenas uma mancha empalidecida pelo tempo.
Espectro do nada.
Assombração do tempo.
Cavaleiro sem pátria.
Sem mãe.
Sem pária.
Vagabundo nômade.
Estúpido homem.
Excremento social.
Biltre vilão.
O que fiz de mim?
Não há resposta sensata.
O eco se cala.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Noites Antigas

Noites estreladas.
Céu enfeitado.
Bandeiras coloridas.
Luzes de uma cidade.
Na praça acontece tudo.
A bandinha toca marchas.
A mais bela de todas passa.
Faceira, cabelos em tranças.
Vestido simples.
Olhos faiscantes.
Eu tenho saudades e vê-la.
Não sei como vive.
Já há tanto tempo que deixei a cidadezinha.
Devia ser velha.
Cabeça branca.
Curvada a coluna.
Eu já não sou mais o mesmo.
Mas, ainda a reconheceria pelos olhos.
Poderiam se passar milhões de anos,
E aqueles olhos não perderiam o brilho.
Sonhava revê-la.
Não será mais possível.
Ela virou uma estrela.
E hoje, brilha.
Enfeita o céu nas noites de festas.
Como no tempo em que éramos meninos.
Ao som das velhas marchinhas.
Sob as luzes e a bandeiras coloridas.
Naquela antiga cidade.
Escondida no fim do mundo.
Onde tudo ainda é como um dia fora.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Destino.

Tudo tem
sua hora,
seu momento,
seu lugar.
Deixe os astros trabalharem.
O destino comandar.
Espere.
Seja paciente.
E algo virá.
Só.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Choro.

Hoje eu me perguntei:
Por quê não choro mais?
E fiquei sem resposta.
Talvez tenha desaprendido.
Ou endureci?
Quem sabe perdi a sensibilidade,
Apaguei os sentimentos?
Sou vazio?
Tive vontade de chorar.
Mas não consegui.
Invejei quem ainda sabe.
Eu não me dava conta disto.
Meu peito apertou.
E nada.
Refleti mais um pouco.
Peguei papel e caneta.
Comecei a escrever.
E agora, quando termino.
Minhas lágrimas mancham a tinta no papel.

domingo, 16 de agosto de 2009

Amplidão.

Cada passo na amplidão é sem rumo.
O tempo passa.
O vazio me ocupa.
Silêncio ensurdecedor.
Eco que me responde.
Segue o teu destino.
Vai, ao encontro da vida.
Vai, vai direto.
Não para.
O futuro te espera.
Sempre só.
Caminhando suave.
Simples e nobre.
Deixa a dor nas estradas.
Junto ao pó.
Bate em retirada.
Cruza os ventos.
Os mares.
As terras distantes.
E chega.
Afinal.
Em algum lugar.
Sem pensar.
Sem pesar.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Noites

Há noites em que não sonho.
Acordo cansado.
Há noites em que não durmo.
Não acordo.
Há noites em que durmo tranquilamente.
E sonho.
Algumas vezes me lembro.
De flashes.
Outras vezes me esqueço.
Propositalmente.
Prefiro apagar.
Nunca mais tive pesadelos.
Amém.
Queria poder dormir todas as noites.
Às vezes me enfado.
E não quero dormir.
Não respondo aos comandos.
Apenas deito.
Limpo a mente.
E já não estou em mim.
Só retorno quando acordo.
Há vezes que nem acordo.
Passo direto.
E vou dormindo.
Nem sempre sonhando.
Tudo escuro.

sábado, 1 de agosto de 2009

Rasgado

Eu nunca me poupei.
O meu coração também.
Quando era necessário, sofria.
Amava.
Rasgava-se.
Ainda hoje sou assim.
Despudorado.
Nunca tive medo de amar.
Esconder sentimentos.
Hoje me peguei chorando.
Não sei bem o que sentia.
Saudade, tristeza, solidão.
Eu não sei bem o que sou.
O que fiz.
Sei, tão somente, os caminhos que me trouxeram aqui.
E cheguei.
Não sei se vivo.
Mas tão íntegro e inteiro como no primeiro momento.
Fiel aos meus ideais.
Aos pensamentos que tive.
Honesto comigo mesmo.
E sempre.
E fim.
E só.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Viagem.

Ontem eu não queria viver.
Tomei uma cartela de aspirinas.
Deitei.
Ouvi uma revoada de pássaros.
Vi luzes coloridas.
Escutei orquestras de formigas.
E não morri.
Vomitei tudo.
O mundo girava sob meus pés.
O teto estava no chão.
O chão no ar.
A casa estava virada.
Minhas mãos frias.
Meus pés dormentes.
E eu não parava de dançar.
Eu!
Que nem sei dançar.
Minha cama ardia, em brasas.
Eu respirei fundo, não consegui.
O sol raiava, resplandecente.
Eu sentei no parapeito da janela.
E pulei.
Nunca o décimo sétimo andar foi tão perto do chão.
Não houve atrito.
O vento era frio.
E o chão duro.
Enfim, cheguei ao desejado.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Vôo Livre.

Pois é.
O tempo passou.
E eu não me dei conta.
As escolhas que fiz me trouxeram aqui.
Tantos caminhos eu tive por opções.
E aqui cheguei.
Não sei se errei.
Muito menos se acertei.
Apenas escolhi.
Como queria viver.
Os porquês deixei para trás.
E vim.
Sem sentir.
Algumas vezes tive medo.
O novo.
Assustou.
Porém não matou.
Veio, simples.
Doloroso em momentos.
Vitorioso e macio em outros.
O tempo foi implacável.
Hoje olho o ontem com satisfação.
Não me envergonho.
Fiz o que deveria.
Não me arrependo.
Talvez me arrependa de ter deixado de fazer.
Não sei ao certo.
Vim, vim, sem ter muito cuidado.
Sem pensar em como, quando, onde e por quê.
Com poucas ressalvas.
Abri-me ao mundo.
Aos mundos desconhecidos.
Novos horizontes.
Novas pessoas.
E cheguei.
Daqui deste alto, não do fim.
O fim está muito longe.
Subirei muito mais alto.
E lá me sentarei.
Ficarei olhando tudo.
Os que passaram, os que forem comigo.
E finalmente pararei.
Mirarei o céu.
Esperando ver o pôr-do-sol.
O último que verei.
E partirei.
Assim como os pássaros batem em revoada.
Alcançarei a imensidão.
Sem presas.
Só a liberdade de voar eternamente.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Personagem

Enfim.
Não chego ao fim.
Cansei de ser figurante.
Sem papel de destaque penduro as chuteiras.
Vou-me, para outro filme, para outras vidas alheias.
Tentar ter presença, ser personagem importante.
No teu caminho fui apenas uma pedra.
Uma árvore, que passou.
Não.
Não quero mais.
Vai, segue o teu caminho.
Que eu vou seguir o meu.
Caminhar, desorientadamente no mundo.
Até que luzes brandas me foquem.
E eu passe a ser principal.
No filme, na vida, na hora de alguém.
E só.
Enfim.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Somewhere.

Eu nasci no tempo da desordem e da loucura.
Mas em meio a esse caos me encontrei.
Vivi cercado de espelhos e luzes.
Mas não me via refletido.
Em um tempo fracionado, partido.
Eu vivi correndo num campo livre.
Atrás de montanhas altas.
Eu queria gritar.
Mas o eco não me respondia.
Muitas mãos, muitos pés.
Pessoas iam e vinham.
Nunca me tocaram.
Eu quis, eu quero.
Não sei mais.
As luzes brilham, cada vez mais.
Incessantemente.
Sucessivamente.
As pessoas não são mais as mesmas.
Eu, eu não sou mais o mesmo.
Em algum lugar, longe, distante léguas daqui.
Tem de haver um pote, cheio de outras coisas.
De outras vidas.
De histórias que não foram contadas.
Escritas em folhar antigas.
Personagens que nunca viveram.
E um dia viverão.
O céu, tão azul e altivo.
Pinceladas de tinta branca o mancham.
Minhas dúvidas derretem.
Como balas de açúcar.
Em algum lugar haverá uma mulher.
Cantando, correndo no palco, nos palcos.
Desafinando, como na vida.
Envelhecendo como vinho.
Haverá em algum lugar música.
Ouvidos apurados.
Tem de haver.
Senão de que adiantará tanto sofrer.
A vida haverá de ter um fim.
Um happy end.
Sei que um dia minha memória ficará branca.
Não saberei mais nada.
Nem quem fui.
Tenho medo.
Medo de perder o passado.
De esquecer o presente.
E não viver o futuro.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sei, sabia.

A saudade é tão comum.
Mas, cada um que a sinta maior.
Eu tenho. E calo.
Abre a janela do mundo.
Vem ver quantos sofrem.
Eu sei. Silencio.
Quando amei?
Algum dia foi.
Sei que não amo. Mais.
Flores brotaram, no passado.
Morreram.
Outras nasceram.
Virou o tempo.
Fechou o tempo. Riscos.
Coriscos. Raios.
Chuva. Como em mim.
Cinza, escuro.
Triste e gélido.
A vida é como dizem.
Calei-me.
Para o todo sempre.
Não, amém.
Antes e futuramente.
Como dissonância eterna.
Foi. É. Será. Seria.
Sabia. Não mais sei.
Apenas.
Como o som dos saltos nos tacos.
No piso antigo de madeira.
A subida das escadas.
O ranger das tábuas.
Hoje não se ouve mais.
As portas batem ecoando pelas paredes.
Paredes que estão sem cores.
Brancas.
Pálidas.
A casa vazia.
O copo vazio. Derramado.
Fotografias rasgadas.
Cartas queimadas.
Silêncio.
Eu, sentado. No fundo deste cenário.
Esperando...

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Velha Menina Baiana.



Quando menina ela era careca, depois um fio de cabelo nasceu.
Jogava futebol, era meia esquerda. Fazia gol. Chamavam-na Pinóquio.
Por conta de seu adunco nariz. Como um bico de ave de rapina.
Tem nome de latifundiária baiana.
Mas é apenas baiana.
Um dia recebeu um recado para correr o Rio de Janeiro.
Queriam-na no lugar de Nara.
Mas, de Nova Iorque, recebeu uma chamada anterior.
Substituir Ella Fitzgerald. A menina fazia piadas.
Porreta.
Ela foi ao Rio, foi e não voltou, não voltou para a segunda época de matemática.
Passaram-se quase quarenta e cinco anos.
Hoje esta menina é uma senhora.
Com um longo cabelo, prateado, como uma velha índia.
Diz-se que esta índia vai longe.
Tira e bota no sol, como planta.
Uma encarnação de Orixá.
Senhora dominadora de muitos.
Pulso firme e forte.
Assim é.
Assim será.
Sob o sol escaldante do sertão.
Este carcará canta...
E cantará, muito ainda.


p.s.: à Maria, Bethânia, Berré, Abelha Rainha, pelos seus 63 anos de vida.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Mariana.

Ela nasceu numa noite de chuva. Seu pai, na sala, ouvia um disco antigo na radiola. Sua mãe, no quarto, gemia baixinho. As tias, todas reunidas em volta da mãe. Quem a trouxe à vida foi a avó, uma mulher forte, grande, parteira das boas. Nasceu silenciosa. Não chorou. Só quando a tia mais velha a pegou nos braços foi que percebeu que respirava. Respirava devagar, faquinha, franzina. Ninguém punha fé que se criava. Mas cresceu, não muito. Não puxou a família da mãe, saiu ao pai. Pequena, olhos grandes, braços finos, pernas curtas. Quando fez cinco anos, ganhou uma bruxa de pano. Tia Salviana foi quem deu. Disse-lhe:
- Este é seu presente. Uma bruxinha, feia como tu.
Não, não era só Tia Salviana que a achava feia. Era criada escondida, trancafiada em casa. Não brincava na rua, não conhecia outras crianças.
Sua mãe foi quem lhe ensinou o bê-a-bá. Só foi à escola depois dos nove anos. Lá todas as crianças não lhe tinham afeto. Tratavam-na com desprezo, pois era muito feia. Magra. Os cabelos muito negros, sempre presos. A farda estava sempre impecável, sentava-se com leveza, não podia amarrotar a saia azul-marinho.
Quando terminou o colégio não sabia o que queria ser. Suas tias diziam-lhe que deveria arrumar uma profissão, pois dificilmente conseguiria um marido.
No dia de seu aniversário de dezoito anos resolveu dar um passeio na praça, ficou lá, sentada em um banco, imóvel, parecia um desses bustos, tão comuns nas praças. Viu crianças brincando, mães passeando com seus filhos, ouviu o canto dos pássaros. De súbito sentiu-se vazia, triste. Lembrou da infância, das paredes do quarto, dos seus brinquedos, suas únicas companhias quando menina. Lembrou-se da boneca que ganhou da tia. Sem sentir, sem esforço uma lágrima correu-lhe peça face. Levou a mão ao rosto, enxugou-o. Permaneceu estática por um bom par de horas. Num ímpeto, levantou-se, correu até uma árvore e começou uma escalada apressada. Quando consegui alcançar o galho mais alto parou. Desde desse dia ninguém mais ouviu falar de Mariana. Virou lenda, sua mãe garante que a menina virou um passarinho. Suas tias acreditam que enlouqueceu e perambula pelo mundo sem rumo. Seu pai sentou-se em sua velha cadeira de balanço, ao lado da radiola, ali passa todos os dias, ouvindo aquele mesmo disco que ouvia no dia do nascimento da filha. Quando chove nas sextas-feira, todos se poem mudos dentro da casa. Esperando que se ouça novamente aquela respiração baixinha.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

amor

la flor y el color de la vida.
estoy aquí.
simple y vivo.
así como el mundo gira.
gira mi cabeza.
con tuyo amor.

Quanto?

Quanto tempo se passou.
Quanta gente mudou.
Quantas águas rolaram.
Quantos corações amaram.
Quantos morreram.
Quanta vida vivi.
Quantos caminhos percorri.
Quantas estradas andei.
Quantos amores tive.
Quanta saudade sinto.
Quanto tempo perdi.
Quantos dias restam.
Quanta força há em mim.
Quanta verdade há.
Quanta felicidade tive.
Quantas alegrias.
Quanto tempo se passou?
Quanta gente mudou?
Quantas águas rolaram!
Quantos corações amaram?
Quantos morreram...
Quanta vida vivi?
Quantos caminhos percorri!
Quantas estradas andei...
Quantos amores tive?
Quanta saudade sinto!
Quanto tempo perdi?
Quantos dias restam?
Quanta força há em mim?
Quanta verdade há...
Quanta felicidade tive?
Quantas alegrias?
Quantas coisas existem.
Quantas perguntas me faço?
Quantas respostas existem.(?)
Quantididades infindáveis da vida dura.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sem me perceber, parei.
Pensei na efemeridade do tempo.
Na sua implacabilidade.
Em sua crueldade.
Como acaba com os corpos.
Desfaz a beleza e jovialidade.
Mas não destrói a alegria.
Apesar de levar nossas pessoas.
Vamos relocando as pessoas.
Dando novos postos na escala de querer.
E assim seguimos.
As luzes bruxuleam mais com o tempo.
Tornam-se mais fracas.
Assim como as vidas, vão perdendo força.
Até o extinguir total.
E terminar tudo.
Sem ponto final.
Quem sabe reticências.
Para um dia tudo recomeçar.
Ressurgir de onde menos se espera.
De forma inesperada e assustadora.
Quando todos pensarem que é fim.
É pausa.
Apenas isso, só isso, nada mais que isso.
E o tempo não parou, nem um segundo.
Estou minutos mais velho do que quando comecei a escrever.
Ficarei muito mais velho cada vez que estas linhas forem lidas.
Leiam-nas, leiam-nas sempre, direto.
Para que meu tempo se passe mais depressa.
E tudo se finde.
Assim.

terça-feira, 21 de abril de 2009

quem perde?

eu não perco.
pois eu divido.
quem soma.
perde.
pois se isola.
se deixa roer.
pela solidão.
amor divido é lucro.
correspondido é bônus.
ônus pra quem não ama.
eu ganho.
pois amo.

Aposentadoria

Quando eu pensei em parar de escrever me sentei.
E comecei a pensar nas palavras que escreveria.
O papel me espera, limpo. Branco.
E uma enxurrada de frases se armaram em minha mente.
O relógio era implacável.
Minhas mão nervosar pegaram a pena.
Trêmulo arrisquei os primeiros versos.
Minha caligrafia já não era tão firme como antes.
Mas, mesmo assim continuei.
As palavras foram se organizando.
Desvirginando o papel.
Como o sol invadindo a manhã.
Os versos saiam fluídos.
Quando me dei conta o relógio havia dado duas voltas.
E eu estava no mesmo lugar.
Debruçado sobre laudas e laudas.
Sairam de mim várias páginas escritas.
E enfim descansei.
Aposentando a pena e minha mente.
Para nunca mais.
Para o sempre.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

não quero nada pra mim

mora em mim um velho.
que me deixa sério.
impaciente.
quisera morrer no tempo dele.
deixa estar.
um dia através do universo eu morrerei.
e minha poeira se espalhará no mundo.
como um jorro de alegria.
com um sopro do vento norte.
serei passado.
estarei quieto e silencioso.
como nunca fui em vida.
deixa estar.
tenho vontade de jorrar palavras de ordem.
mas calo.
aguardando que meu velho aja por mim.
ele que ancião sabe mais que eu.
meu velho espírito cansado.
de vagar através dos tempos.
não chore, não chore, ainda, não.
você tem balas de limão?
eu gosto de balas.
não sei nem por que falei em balas de limão?
me lembram minha infância.
deve ser isso.
deixa estar.
deixa ficar como está. como ficará eternamente.
de boleros antigos na vitrola penso em nada.
quando você se lembrar de mim.
lembre.
ou esqueça.
como queira.
tanto faz.
eu não quero mais saber.
nem ouvir.
às favas com lembranças longínquas.
todos estão velhos, desfeitos, borrados.
ou mortos.
ninguém sobreviveu a mim.
eu restei, só.
quantos passaram, ficaram atrás.
não!
eu não quero ser um velho.
eu quero ir antes.
deixem-me ficar atrás.
me percam no caminho.
esqueçam de mim.
se percam de mim.
desapareçam.
não tem chuva caindo.
nem banda passando.
não tem violão, banquinho, ipanema, copacabana.
nada.
tem fome, sede, miséria.
amores perdidos.
sangue em minha alma.
silêncio e som.
escuridão.
ladainhas ao longe.
requiéns para mim.
que me fui.
deixei de existir.
caí.

murro em ponta de faca

quanto mais sangram minhas mãos mais eu luto.
esmurrar ponta de faca.
eu sei que é minha a culpa.
não culpo ninguém.
tudo pertence a mim, a minha cabeça.
meus sentimentos.
eu sei.
gotas de sangue uso para escrever-te.
sem forças.
eu tento desorientadamente ainda amar.
e meus dedos vão ficando frios.
só sossego quando meu coração esfriar.
e pingar a gota de sangue final.

ofício

eu tenho medo de muitas coisas.
mas nunca tive medo de me atirar do trampolim.
de estar sob as luzes do palco.
ser seres que estão guardados nos armários de bibliotecas empoeiradas.
eu sempre quis ser outros.
o meu lado de várias faces.
eu consegui.
ter o privilégio de ser muitos.
e ao apagar das luzes voltar a ser eu.
que não tão simples sou.
desfeita a maquiagem, tirada a roupa.
voltando ao real.
o palco me permite gritar e se ouvido.
no mundo todos estão surdos para os normais.
eu vivi na ribalta.
vivi nos bastidores, chorando.
ilusão, esta é a marca de mim.
os momentos vividos não são meus.
as personagens me tomam.
eu já fui.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Rezamor

Na hora, no lugar, com a alguém errado.
Ninguém entende nada.
Quanto mais se relativiza tudo é relativo.
Nada é mais objetivo.
Subjetividades que tomam-nos.
A palidez dos rostos assombram.
Ninguém ama mais.
O amor é ultrapassado.
De séculos atrás.
E eu me envergonho.
Por ainda amar, por querer amar.
Solidão me assombra.
O futuro do mundo é a escuridão.
Engolidos pelo monstro de ser só.
Nada é relativo.
Tudo é superlativo.
Amor banalizado. Esquartejado.
Quebra-cabeça de sentimentos sérios.
Amém!
Que o futuro esteja convosco.
Não comigo!
Eu quero as relações do passado.
As estruturas convencionais!
Pelo amor de alguém superior.
Eu anseio por isto.
Mas meu grito é oco, vazio, surdo.
As novas relações dominam os seres.
Salve-se quem ainda quer ser amado.
Ascendam ao plano superior.
E lá esperem alguém.
Ou morram por aqui.
Nesta calamidade sentimental que se instala.
Que permanecerá.
Amém!
Ave Afrodite! Vênus!
Rogai pelos poucos filhos teus que ainda resistem.
Que Eros nos proteja, hoje e sempre!


(pra lala, filha de eros assim como eu)

terça-feira, 7 de abril de 2009

não ter vergonha de viver

o ímpeto de estar vivo.
e de querer estar.
a vontade incessante.
o querer viver.
livre.
despudoradamente.
criando visões e ruas.
assim.
com sede eterna.
aprender antes,
durante e depois.
apenas querer.
estar no mundo.
sem dívidas.
em cores vivas.
luzes brilhantes.
sem poços,
escuridões, tristezas.
viver jorrando vida.
transpirando alegria.
jogando e dançando.
toque o que tocar.
simples e só.
viver.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Sem Direito

Você não tem direito.
Não pode ficar pensando que me manobra.
De querer chegar em mim quando desejar.
Entrar na minha vida a qualquer momento.
Visitar meus sonhos ao seu bel prazer.
Não, você não tem esse direito.
Eu não vou mais permitir essa invasão tresloucada.
Sei que permiti muitas coisas.
A minha permissividade talvez tenha estragado tudo.
Mas, agora, chega!
O tempo passou, para você.
Eu não quero. Não sei nem se queria mesmo.
Acabado tudo. Salvas as almas que restaram.
Fechadas as feridas que existiam.
Restam apenas cicatrizes ínfimas.
Que não doem mais.
Não te permito mais nada em mim.
Nem que penses em mim.
Sentir saudade, nada, absolutamente.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Meus sonhos...

Quando os pensamentos estão firmes numa outra pessoa permeamos os sonhos delas.
Não sei se isso seria ruim ou bom. Hoje só te vejo em flashs de meus sonhos.
Mas não são sonhos em que sejas personagem principal, não.
Apareces penas como uma longínqua citação.
Sinal de que em breve não existirás mais em minha vida.
Nem sequer pequenas migalhas de amareladas lembranças.
E isso me conforta, sim.
Hoje já não há a dependência de notícias tuas para que eu possa viver.
Vivo independentemente de ti.
Peço-te apenas que me esqueças também.
Não me visites nem em sonhos mais.

domingo, 15 de março de 2009

O tempo passa, chéri!

Esses dias eu andei pensando sobre como as pessoas pensam que serão eternas. Não essa eternidade referente à imortalidade, não! Mas de como alguns seres acreditam que viverão eternamente na cabeça dos outros. Ninguém é insubstituível. Quando se ama alguém e esse alguém não nos corresponde o amor se finda. E assim a pessoa para de existir em nós. Mas, para uns isto não é tão claro. Acreditam que esse amor perdurará por todo tempo. Não. Eu digo que não. As vezes pode até demorar a se extinguir, mas desaparecerá, sim! E hoje eu estou de desvencilhando de um sentimento tão intenso e tão grande, mas que por não ter sido correspondido me fez - e faz - mal. Talvez a pessoa à quem dediquei tanto tempo pense que isto será para sempre, como nos contos de fadas. O ser humano tem se mostrado cada dia mais egoísta. A satisfação própria é a única coisa que lhes interessa. Não se pensa no outro, mesmo que esse outro esteja sofrendo. As pessoas só pensam em sí próprias. E isto não é bom. Eu tenho medo do futuro. Não sei o que ele fará de mim, mas estou vivendo. Fazendo hoje para que possa colher num tempo a frente. E saiba você que os espaços vazios estão sempre prontos para serem ocupados. E talvez esta ocupação não demore muito a acontecer. E você verá que nada é eterno. Eterno só no tempo em que existiu. Nada tem prazo determinado. E ser eterno é um prazo. Sem vencimento, mas é um prazo. Na vida as coisas abstratas não podem, não devem ser estipuladas e rotuladas. Elas existem em si, em seu próprio sentido de existir. São feitas para um fim. Chegue ele quando chegar, nós devemos estar preparados para súbitas mudanças de atitude, de situação de comportamento. É assim, desde o início, e acredito que será até o fim desta raça.

sexta-feira, 13 de março de 2009

As formigas são educadas...

Ontem enquanta fumava o último cigarro da carteira, me peguei pensando no sentido da continuidade das coisas. De como as coisas acontecem sequencialmente na vida. Tudo que acontece hoje tem ligação com algum fato pretérito. E assim pude analisar passivamente o que me acontece. Percebi que a sensibilidade e a verdade são coisas primordiais para o artista. A verdade com que se expressa e comunica seus pensamentos para o mundo. Vi uma fila de formigas e me dei conta de quão educadas são. Talvez sejam os animais mais sensíveis do mundo. Cumprimentam-se sistematicamente. Além de uma obediência nunca vista entre outros animais. Seguem cegamente um caminho traçado sabe-se lá por quem. O cigarro queimava despudoradamente e me lembrei de uma conversa que participei uns dias atrás. O fumar é para os viciados o maior prazer da vida. Diferente do sexo, em que outra parte pulsante está participando. O ato de fumar é um prazer solitário, onde você e o seu parceiro (o cigarro) estão em comunhão, não sendo ruim para nenhuma das partes. É o fim em si próprio. Este é o sentido de fumar, ter prazer sozinho, sem importar o que acha a outra parte. E meus devaneios seguiram por outro rumo. Lembrei de pés descalços, de pernas que caminhavam. De pessoas que estiveram na minha vida. E hoje não estão mais. E aceitei bem os fatos postos hoje em dia. Sem mágoas, sem rancor. Apenas e simplesmente aceitei. Pensei novamente na estória da sequência das coisas. E me lembrei dos trabalhos, do segundo que começa a se arregimentar, e que terá algumas ligações com o primeiro. Apesar de todas as diferenças. É como se se tratasse da construção de um pensamentos, surgido de cabeças diferentes, mas que em dado momento convergem para um único fim. E resultam nesta contrução. O afastamento é outro assunto que me ronda nestes tempos. E mais uma vez resignadamente tenho que aceitar. Afinal, não depende da minha vontade. Mas a volta é muito mais satisfatória. E as coisas não vão parar. Haverá um hiato, acredito que não. O sentimento motor da sensibilidade artística continuará pulsando, mesmo que longe. E os membros presentes não deixarão a chama se apagar, com muita verdade farão o caminho durante este momentos de ausência dos demais. E por fim, o cigarro se consumiu em cinzas, o meu devaneio findou. A realidade me chamou à tona. E a vida seguiu.

domingo, 8 de março de 2009

Dor da Saudade

Tudo aperta.
A saudade aumenta aos segundos que passam.
O meu peito está cada dia mais silencioso.
A minha alma cada momento mais triste.
Saudade, a saudade de todos os sentimentos.
Do teu cheiro, dos teus cabelos, dos teus olhos.
Saudade de ti.
Quero-te perto, mas não posso. Eu sei.
E sofro.
Vivendo essa saudade até não sei quando.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Servidão

Para que uso as pessoas são destinadas?
Uns merecem o fim.
Outras são de muita serventia.
Quando se dão inteiras para outras.
Se fazem serviçais, escravos delas.
Eu ainda sou submisso.
Talvez ainda o seja por bom tempo.
Quando meus grilhões se quebrarem,
Possilvemente não saberei ser livre.
E terei de me ater a outro alguém.
Não nasci para ter asas e voar.
Meus pés devem permanecer fincados no chão.
Sendo obediente e servo dos outros.
Minha vida é isso.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Eu Te Amo

Tão fácil de ser dito.
Difícil mesmo é ser entendido.
Absorvido pelos outros.
Três palavras.
Frase forte.
E séria.
Eu já sei dizer.
Sempre soube.
Tão intensa e vívidamente como respiro.
Grito e só escuto meu eco.
Num rebatimento surdo de sons desencontrados.
E tento fazer-te me ouvir.
Eu te grito e tu não me ouves.
Aprenda. É fácil.
Diz-me: Eu te amo!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Incompreensão

Eu sei que não devia querer-te.
Mas, tentar eu bem tentei.
E não consegui.
Tentei encontrar as razões de tu não querer-me.
Não as consegui.
Estas respostas e muitas outras permanecerão contigo.
E nunca as possuirei.
Triste fiquei. O amor borbulhava em mim.
Tu não quisestes recebê-lo.
É incompreensível pela sabedoria humana.
O que pensas?
Ninguém merece ser amado? Não.
Não é tão assim. Alguns realmente.
Mas eu, hoje, tenho mais clareza.
O amor só existe unilateralmente.
E as pessoas que não sabem aproveitar bloqueiam-se.
Pensando idéias mil a respeito do que amam.
Tu me fechastes o teu coração.
E eu jogarei ao mar todo o meu sentimento.
Para que ele se afogue e desapareça.
Assim como eu dapareci da tua vida.
E me prepararei para um novo amor.
Enfim

Ciclo

Quando a noite chega, toda minha força se esvai.
A solidão e a dor me tomam.
E eu fico encolhido num canto escondido.
Esperando numa escuridão sem fim.
Aos primeiros raios da manhã volto a me sentir.
Meus ânimos vão surgindo.
E assim sigo bem, até o fim da luz do dia.
Quando retorna toda a agonia.

Franqueza

Quis ser forte. Mais duro que o maior dos rochedos.
Ruí, como castelos de areia derrubados pelo mar.
E hoje desmancho-me de sentimentos.
Eu tenho saudade dos tempos felizes.
Se é que foram alegres.
Estou sim, fadado a sofrer por amor.
Como o maior de todos os poetas.
Sonhando com meus últimos suspiros.
Quando enfim descansarei de todas as agruras vividas.
E sairei deste mundo.
Para ir a outros universos.
Meus abraços foram vagos, vazios.
Os beijos que dei, sem gosto.
Frieza foi o que me acompanhou nos últimos momentos.
E eu sofro muito mais por isso.
Por não poder dizer: Eu te amo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

De tanto amor

Quem muito amou:
De amor morrerá.
Aquele que muito falou:
Estará relagado ao silêncio eterno.
O que nunca demonstrou:
Ficará condenado e preso.
Quem não viveu:
Permanecerá na escuridão.
Os que não se rasgaram:
Covardes para sempre.
Quem não se permitiu amar:
Solidão até o fim.
Aos que nunca quiseram ser amados:
Minha eterna pena.
Pois viver é amar.
Amar é sofrer.
E sofrer é estar pulsando.
Coração agitado, cabeça doida.
E assim sempre nos trilhos da vida vadia.
Vãs emoções soltas no espaço do mundo.
No oco dos seres que se querem construir pessoas.
De almas levianas.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Poeira

Em que chão pisar? Se não o vejo.
As paredes tão sólidas de ontem onde estão?
A luz que brilhava tão vívida e forte se apagou.
Nenhuma réstia do passado existe.
Apenas mágoa, escuridão. Morte.
Um novo ciclo surgirá.
Quando?
Tantas perguntas me rodeiam.
Respostas que não estão em mim. Estão em outro ser.
E não me alcançam. Não me chegam claras.
O tempo, o tempo, que tempo? Tempo que não passa.
Pára. Exita e não segue seu rumo.
O silêncio e a solidão me tomam o corpo.
Me invadem as narinas como ar contaminado.
Me sufocam.
Sabedoria de um tempo que não se vive.
Experiências adquiridas com o nada.
Tudo vai ser ordenado, tudo vai tomar seu devido lugar.
E eu tenho medo da proporção que certas coisas podem tomar.
O novo me assusta?
Eu não sei mais quem eu sou, quem está comigo. Se alguém esteve.
Viremos as páginas da vida e vamos escrevendo novas linhas tortas.
E que volumes sejam acumulados uns em cima dos outros.
Nas nossas bibliotecas empoeiradas.
Até o dia que eles sejam lidos como documentos antiqüíssimos.
De histórias remotas.
Tristão e Isolda do futuro.
De um futuro distante.
Tão distante assim como tu estás de mim.
E estarás sempre e sempre, sempre.
Sempre ao largo da minha vida e dos braços meus.
Se extiguem em mim as forças e junto o meu sentimento.
E adiante nada restará.
Nem eu, nem o sentimento.
Só velhos livros entulhados.
Comidos pelos tempo.
Cobertos de camadas sistemáticas de poeira.
E fim. De um caso que nem começou.
Uma apressada da lentidão.
Movimento de estagnação.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Reza

Como o tempo passará.
Tudo acabará.
E não mais olharei atrás.
O mundo virará.
As pessoas mudarão.
Meus sentimentos se extirparão.
E nada mais restará.
Assim, seja.


P.S.: Alteração no nome por sugestão de Moema. (09 de fevereiro de 2009)

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Quero-te.

Queria ter coragem.
Para dizer-te tudo que me arde no peito.
Todo meu amor derramar em ti.
Mas, me calo, espero.
Até que outro entre em tua vida.
E eu me retráia.
Guarde para mim tudo que sinto.
Eu bem sei que não devia me reservar.
O acertado seria te roubar para mim.
Ter-te em meus braços.
Dar-te os beijos com que tanto sonho.
E quem sabe assim seríamos felizes.
Só nós, juntos ao infinito.
Mas, não.
Escureço no meu peito todo o meu amor.
Até que ele apodreça.
E o tempo me faça te esquecer.
Para não te perder de vista finjo-me teu amigo.
Quando meu sentimento é muito maior.
Afastar-me de ti seria o sensato.
Quem disse que sei agir assim.
Quero-te no meu colo.
Nos meus braços pra sempre.
Afago os sonhos que tenho contigo.
Pois eles serão os únicos momentos em que serás minha.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Caminhos Cruzados

De antes eu não me lembro.
Nem necessidade há.
O que importa é o depois.
Agora e pra frente.
Que nossas vidas pregressas estejam guardadas.
Hoje, somos assim.
No futuro o tempo fará e dirá tudo.
Se nossos caminhos se descruzarem,
Ficarão as lembranças de hoje.
Dos momentos vividos.
As alegrias compartilhadas.
Das fraquezas mais escondidas em nossas almas.
Os traços desenhados no papel branco.
Brindemos com os copos cheios as nossas vidas.
Com risos e lágrimas, com os movimentos normais.
E que o destino haja por nós.


*Dedicado à ti.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Um momento da vida

Quando se chega a um momento da vida nada mais tem força.
Não se vê mais as cores fortes que nos passam.
Pensa-se que um segundo é uma imensidão sem fim.
As flores não têm o mesmo perfume.
São restos de saudade no peito alheio.
Os cigarros não fazem a mesma fumaça.
A vida passa sem grandes mágoas.
O passado nos ronda eternamente.
As lembranças surgem em todas as esquinas.
Ruas desertas tocam músicas serenas.
Palavras não são mais ordenadas como outrora.
Nada mais faz sentido.
Aguarda-se sentado o destino, o fim.
Que teima em nos deixar esperando.
Por um momento em que tudo virá como um filme.
E chega-se aos créditos finais.