diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Um novo (velho) mundo.

Desmedido impulso me levou. Plantado estou. Fincado ao chão como raíz de uma centenária árvore de floresta. Não sai deste lugar. Meu tempo foi aqui. É aqui. E será. Um dia serei lembrança. Passado. Longínquo e morto. Da realidade eu apenas vi uma parte. A que passava em minha janela. O medo do mundo grande me manteve preso nesta casa. Com suas paredes maciças. Suas pesadas portas coloniais. Suas cortinas empoeiradas que barram a luz do sol. Um ímpeto me fez descerrá-las. Ao primeiro raio de luz ceguei momentâneamente. Fui, devagar, abrindo meus olhos. Acostumando-me com a claridade. Num súbito desatino, ainda maior, abri as grandes janelas. O mundo me tomou. O ar turbulento me encheu os pulmões, me fazendo cambalear. Aprumei o corpo. Ereto ergui-me novamente. Pus a cabeça pra fora. Vi pessoas. Que passavam apressadamente pela rua. Tão barulheta. Ninguém notava que naquele instante eu conhecia um mundo novo. Além das minhas paredes. Um mundo de cores que jamais pude imaginar. Encerrado naquele mundo cinzento. O mundo não parou. Não observou minha grande descoberta. Depois de horas debruçado sobre o parapeito, já entediado. Fechei as janelas fazendo um grande barulho, cerrei as cortinas. Tudo voltava a ser como antes. Silencioso e sombrio. O meu mundo percebia, sim, tudo que eu fazia. Não quero, não vou viver num mundo em que tudo é trivial. Banal. Onde ninguém observa as consquistas e descobertas dos outros. Prefiro me enfiar neste meu infinito. Onde posso me controlar. Lá, tudo acontece como quero. E a menor mudança é notada. Um passo mais pesado e tudo muda de lugar. Aqui eu sou o rei. Absoluto. Louco, mas absoluto. Centro de tudo. Tudo era cinza, mais uma vez.

Um comentário:

Karol Melo disse...

Bem interessante. Li várias vezes a partir daqui "O mundo não parou. Não observou minha grande descoberta..." até o fim do texto. Essa parte me fez refletir.

Abraços!