diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

domingo, 17 de fevereiro de 2019

O silêncio, a solidão, a morte.

A solidão tem um cheiro forte.
Um gosto de não saber.
A solidão pede silêncio.
A solidão é o silêncio.
Há dentro de mim uma euforia.
Um corre-corre que não cessa.
Mas o silêncio está aqui.
Penetra-me as carnes.
Enrijece-me as partes.
O silêncio, que é a solidão, paralisa-me.
O seu cheiro entra pelas narinas de forma sutil.
E quando vejo-me já não sou mais eu.
O meu corpo já não é o meu.
Envelheci. Entristeci.
Entretanto há ainda uma confusão dentro de mim.
Que é a mesma, que será sempre a mesma.
Um barulho ensurdecedor que me acompanha por toda a vida.
Fora não. Fora reinam todas as tristezas que colecionei pelo caminho.
Todas as infindáveis mágoas que feriram-me a derme.
O cheiro é como o cheiro do éter que se espalha pelo ar fazendo-o evaporar.
Fazendo evaporar em mim o que resta de felicidade e de brilho no olhar.
Centelhas de amores que um dia cultivei já estão se apagando.
Estão morrendo.
Enfraquecendo como meus músculos.
Apodrecendo como minha cabeça.
Estão morrendo. Como eu morro um pouco a cada dia.