diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2010...

Este ano, tão cansado e doloroso, chega ao fim. Fecha-se um ciclo. Completa-se a primeira década do novo século. O tempo passa cada vez mais rápido e se não corrermos ficaremos atrás. A cada dia eu vi o tempo passar, tentei correr, não alcancei o ritmo. Este ano foi difícil, talvez por isso mesmo ele marque. Este ano eu não tenho grandes feitos pra contar, tenho apenas novos amores na minha vida, pessoas que ganhei. Alguns pequenos momentos de rara alegria, alguns sorrisos sinceros que colhi durante o ano. Aprendi algumas novas coisas, confirmei coisas que eu já sabia: Aprendi que quanto menos sentimentos tivermos menos sofremos. Aprendi que as pessoas não pensam duas vezes em jogar futebol com o coração dos outros. Confirmei que o amor é uma via de mão única, que amar muito é ruim. Aprendi que não devemos esperar nada em troca. Mas como eu posso prometer não amar mais, amar menos, eu regido por Eros, Pessoa e Lispector? Enfim, tentar mudar minha essência eu não vou prometer, sei que não posso cumprir, nem neste próximo ano nem em ano nenhum. Eu vivo. Pro ano que vem eu prometo me cuidar mais, trabalhar mais, abraçar meus amigos, sorrir mais, ser feliz. Eu vou. Não quero prometer muito, quero fazer mais. O novo ciclo que se inicia com este novo ano promete ser uma era de realizações e eu quero colocar em prática meus planos. Que em 2011 e pra sempre  Iansã e Dioniso me guardem, me inspirem e me façam ter força de seguir em frente.
Amém pra todos nós.

As pessoas que se fizeram presentes:

Lala, meu esteio, meu amor, minha amiga, confidente, nosso eterno e imenso amor.
Regi, meu coração, tão pertinho este ano.
Soufi, de volta pra mim.
Du, outra mulher, madura.
Leli, minha Buba, tão feliz tê-la comigo.
Hermínia, a cada dia mais forte meu amor.
Ludmila, minha irmã tão igual e tão diferente.

As novas conquistas, meus grandes presentes de 2010:

Luna, minha Gisberta. 2011 que nos aguarde.
Aninha, a minha travesti linda!
Carol, praticamente meu livro de auto-ajuda, amor.

Divisão dos Bens.

Vamos dividir o que nunca existiu.
As lembranças são minhas.
A mágoa se você quiser pode ficar.
A saudade é toda minha.
O meu coração hoje em pedaços é seu.
Você pode brincar de quebra-cabeças.
Não, isso não vai lhe interessar.
O seu cheiro fica em mim.
Os meus beijos você pode guardar.
Teus olhos que não me disseram adeus, eu fico com eles.
Meu carinho pus em tua mala.
Sem que você percebesse.
Os últimos fios de cabelo no nosso lençol eu guardei.
Aquela velha foto onde sorríamos felizes queimei.
Não será minha nem sua.
O nosso amor deixará apenas marcas em nós.
Não precisamos de provas do que vivemos.
As únicas testemunhas somos nós.
Ninguém poderá dizer o que existiu.
Apenas o brilho dos nossos olhos, talvez, nos denuncie quando nos encontrarmos outra vez.
Adeus.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Você Não Sabe.

Você não sabe como eu queria esquecer.
Simplesmente acordar e não mais te lembrar.
Apagar da minha alma, do meu corpo, do meu coração.
Você não sabe o quanto ainda me importo.
Sua repulsa ainda me machuca.
Suas fugas de mim.
Que mal eu te fiz, não sei.
Talvez te amar em demasia.
É sempre esse o meu erro.
Você não sabe como eu ainda penso em ti.
Seu nome, seu cheiro, seu rosto ainda vívidos em mim.
E mesmo não querendo mais sofrer ainda sofro.
Mas há de passar.
A ferida vai cicatrizar.
Deixará de doer, um dia.
Você também não saberá.
Guardarei para mim.
Não quero te ver mais.
Hei de perder-me no mundo para te esquecer.
E conseguirei.
Farei promessas, pagarei penitências, mas vou conseguir.
Apagar todo amor que ainda existe em mim.
Se te odeio? Não. Só não posso mais te amar.
É simples.
Foi você quem pediu.
E acatarei seu desejo.
Você um dia saberá quem errou.
O que realmente deveria ter sido feito.
As suas escolhas nos trouxeram ao que somos.
Eu não pude escolher.
Apenas vivi.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

História.

Queria deixar a história e entrar na vida.
Sair da teoria ir à prática.
Fazer o que nunca tive coragem de fazer.
Viver.
Deixar os planos a longo prazo e agir.
Pensar duas vezes não funciona muito bem.
Me prendi muito atrás de conjecturas.
Quando a vida passava correndo por mim.
Eu sempre ouvi: "olhe o tempo passando".
Não entendia bem o que queriam me dizer.
Hoje eu sei.
Se eu soubesse naqueles dias...
Tudo teria sido muito diferente.
Passei todo o tempo contando minha vida.
Vida? Que vida?
Se eu nada vivi. Apenas sonhei viver.
Imaginei castelos e palácio de amores não vividos.
De sorrisos que não existiram.
Queria tanto poder ter outra chance.
De deixar a palavra por dizer e apenas fazer.
Ação!
Não entrei na vida.
Fiquei para sempre na história.
Que eu mesmo inventei.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Voo Final.

O meu prazer de sofrer não chega nem perto do teu prazer em me fazer sofrer.
Por que não pudemos simplificar tudo em algumas poucas palavras?
Meu rasgado e sangrento coração ainda insistiu em pulsar amando.
Quando já nem sabia mais o que é o amor.
Meu peito doeu por não suportar tamanho músculo massacrado.
Quis rasgar minha carne e expurgar todo esse sentimento de dentro de mim.
O que deveria ser bom só me fez um intenso mal.
Eu sei. Sei que tudo é foi minha culpa.
Que eu não sei, nunca soube medir o amor.
Minhas doses sempre transbordaram.
Exacerbei todo meu coração por amar demais.
Essa foi minha única e grande culpa.
E cumpri minha pena.
Não saber mais amar.
Ser vazio e triste.
Culpa por amar muito e intensamente.
O fim de quem ama.
Solidão.
Fim de todo meu coração já esmagado contra as costelas desse peito que ficará oco.
É o destino, escrito e traçado pelas minhas própias mãos que um dia afagaram teus cabelos.
Junto os meus lábios, as minhas pálpebras. Sinto o vento no meu rosto.
É o impulso final. O pulo. O silêncio.
O barulho seco no impacto.
Acabou.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Não ao Natal!

Eu não sei se já disse isso: eu odeio o natal.
Não, não é por que eu sou contra o espírito capitalista que tomou conta da data.
Não, não é.
Eu detesto entrar num shopping e ver aquelas horrendas decorações.
Com uma combinação horrorosa de verde e vermelho, fitas xadrez, veludos, neve artificial.
A imagem vendida pela Coca-Cola do bom velhinho!
Não há nada que me irrite mais.
Eu imagino o cheiro azedo que deve existir debaixo daquele casado vermelho.
Impossível não pensar nisso!
Um ser que veste-se inteiro de veludo em pleno verão tropical deve suar muito.
Não que eu vá fazer aqui um discurso religioso do tipo: "perdeu-se a essência do natal...".
Baboseiras. Sim. Convenções criadas pela sociedade.
Talvez meu trauma de natal venha de muito longe.
Eu sempre tive que lidar com esse "clima natalino" na época do meu aniversário.
Isto sempre me encheu o saco.
Nunca fui como os outros que comemoram seus aniversários sem estarem sob o jugo de uma festa maior.
Enfim, eu não tenho a menor paciência pra ouvir aquelas irritantes músicas que se repetem infinitamente nas ruas, nas lojas durante todo o mês de dezembro.
Já há alguns anos em que deixei de montar árvore de natal.
Diziam que eu morreria no ano seguinte. Já fazem uns dez anos que eu deveria ter morrido, então.
Essas tradições bobas, essas superstições que não levam a lugar algum.
Definitivamente eu aboli esta festa do meu calendário. Gosto apenas dos dias de folga proporcionados pela festa.
Os outros que comemorem. Empanturrem-se de peru, rabanada, farofa, bacalhau, uvas passas e castanhas.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Coração vagabundo.

O que fazer com tanto amor guardado?
Distribuí-lo indistintamente sem esperar retorno?
Silenciar no peito até se esgotar?
O coração a galopes querendo pular peito afora.
A boca seca, amarga.
Beijos apodrecendo na língua ainda quente.
Mãos que não conseguem ficar paradas, buscam o corpo amado.
Tão distante e frio.
O corpo que pulsa pelo amor estrangeiro.
A respiração ofegante dos amantes antigos.
Olhos que perderam o brilho por não espelharem a imagem amada.
Tudo que um dia foi alegre apagou-se na escuridão da desesperança.
Apenas saudade.
E o intacto amor inchando o peito dolorido.
Amor virgem, nunca tocado.
Eu não sei por quanto tempo ainda conseguirei escrever sobre amor.
Tenho a impressão que uma manhã qualquer meu coração será frio.
Meu peito oco, vazio.
E eu já não saiba mais dizer uma simples frase:
Eu te amo.
Ou te amei? Ou nunca amei e tudo inventei?
Eu já não sei.
Apenas sinto, sofro, choro, calo e espero.
O fim, o começo, o fim do começo ou o começo do fim.
Pacientemente aguardo.
E é só isso que sei fazer.
Amar e viver.
Viver de amar, amar para viver, morrer de tanto amar.
Pulsações de um ridículo coração que ainda insiste em ter amor.
E bate, bate, bate, bate...

domingo, 12 de dezembro de 2010

Aposento.

Hoje eu entrego os pontos.
Estouro aquela caneta velha no chão.
Quebro o lápis.
Destruo o teclado do computador.
Queimo os papéis. Os escritos.
Os que ainda estiverem em branco.
Não quero mais nenhuma possibilidade de te escrever.
Vou ficar silencioso.
Por quanto tempo eu não sei.
Só sei que para você não escrevo mais.
Esgotou-se meu vocabulário para te dizer do meu amor.
Você não me ouviu, não me ouve.
Não me ouvirá, eu sei.
E nem por isso te culpo.
Respeito sua decisão.
E espero que você acate tranqüilamente a minha.
De hoje em diante aposento meus verbos.
Esqueço tudo que um dia escrevi, amei, senti.
Até um dia em que o amor, talvez o mesmo, ou não.
Venha em mim bater.
E mais uma vez me fazer desequilibrar mesmo com os pés plantados no chão.
Ter vertigem, vertigem de amar.
E aí, quem sabe, você entenda o que eu quis tanto te dizer.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Antes amor.

Eu sentia uma mão a me afagar o corpo.
Era o amor.
Foi bom, doce, suave.
Aquele calor a me envolver.
De repente, num dia qualquer.
Aquela mão pesou sobre mim diferente.
Não, não era mais o amor.
A mão, hoje, me aperta a garganta.
Ao ponto de me deixar quieto.
Com o coração gelado e pesado.
O calor já não me envolve mais.
Eu já não me sinto bem.
Sou fraco.
Silencioso.
Queria ter de volta o amor.
A leveza de viver amando.
Não a sensação ruim de estar morrendo.
Rápida e diariamente.
Definho a olhos vistos.
Estou indo.
Vou triste.
E sozinho.
Depois de ter esquecido como é o amor.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Clichê

Sabe quando a gente se sente sozinho no meio de uma multidão?
Perdido feito cego em tiroteio?
É assim que eu me sinto.
Longe de você.
Sem sentir teu cheiro doce.
Distante da tua voz macia.
Eu fico assim.
Suspenso no ar.
Vazio, completamente oco.
Fazer o que?
O amor é assim.
Lugar-comum.
Igual para todos.
Sem ti me sinto a menor criatura do universo.
A mais abjeta criação de Deus.
Contigo perto, não.
Sei até sorrir.
Amar é ser idiota.
E eu tenho orgulho de ser idiota por ti.
Eu te amo.
Sou clichê, assumo.

sábado, 20 de novembro de 2010

Perfume do vento.

Quando o vento me traz teu perfume.
Eu me pego lembrando de ti.
Relembro os tempos idos, quando vivíamos.
Eu não sei onde o vento busca teu cheiro.
Eu apenas o sinto.
Impregnando todo os cantos da minha alma.
E sinto saudade.
Dos teus olhos, de teu sorriso.
A voz doce, o teu corpo.
Que nunca me pertenceu.
Lembro e tenho saudade.
Apenas.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Eu te amo

Eu não quero entrar no meu próprio coração.
Dele já conheço todos os caminhos.
Quero entrar no teu.
Me deixa conhecer teu ser.
Tua alma, teu corpo.
Me permite entrar em ti.
Revela para mim teus mais escondidos medos.
Tuas angustias.
Deixa eu pegar na tua mão, te ajudar a caminhar.
Quatro pés andam melhor que dois.
Me deixa te amar.
Te abre para mim.
Nossos corpos juntos.
Nossas almas, uma só.
Eu grito. E, por mais que não me queiras ouvir eu insistirei.
Dizendo sempre para mim, para ti, para todos:
Eu te amo.
Não me negues este prazer.
Eu preciso deste sentimento para viver.
Não me deixes vegetando.
Quero ter-te.
Minha, só minha.
Hoje, sempre, amanhã.
Minha alma te pertence.
Está consumado.
Meu corpo se não for teu perecerá.
Eu te quero, anseio por ti, como nunca ansiei por nada nem por ninguém.
Eu te amo.
E isto me basta.
É imenso, é completo, é meu estado.
Teu calor será meu sol.
Teu corpo minha estrada.
Teus olhos meu espelho.
Tua alma a minha.
Tua boca meu desejo.
Silenciarei minha vida perante a tua.
Viverei para ti. Agora e sempre.
Eu te amo

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Meu Adeus.

Houve um desejo. Porém, ele se acabou. Na vida tudo tem um fim. Amor não cultivado fenece muito rápido. Como a flor mais delicada que não é regada. Tu não soubeste, ou não quiseste, me nutrir. E, hoje, tudo se findou. Agora, sim, tenho mágoa. Lá na frente, talvez, não tenha mais. Isso só o tempo é quem poderá dizer. Cansei de amar sozinho, de querer só. Até o maior trovador cansa de bradar aos ventos os seus cantos. Agora me calo e sigo meu caminho, mais uma vez destruído e solitário, até onde a vida queira. Até onde os meus pés puderem e conseguirem me levar. Sem rumo, caminhando ao sabor dos ventos. Debaixo de sol e chuva. Me vou. Adeus. Até breve, não. Adeus.

domingo, 14 de novembro de 2010

Ilusão...

Sonha com um mundo que jamais irá encontrar.
Imagina uma gente que não existirá.
Acredita num amor que nunca terás.
Vive num mundo teu, particular.
Dentro de uma bolha de sabão.
Que a qualquer momento estourará.
E tu cairás de cabeça na realidade.
Onde tudo é monocromático e infeliz.
Teus sonhos, anseios e desejos não tem vez.
Morrerás à míngua, esperando tudo acontecer.
Acorda.
O mundo é duro e cruel.
Seco e violento.
Tudo que imaginas não passa de mera ilusão.
Devaneios de uma mente limpa.
De um coração puro e inocente.
Que ainda acredita na vida.
Se perde em esperanças vãs.
O verde.
Eu observo tudo calado.
Pois já sei onde tudo vai dar.
Em nada, lugar algum.
Talvez o poço.
No fundo.
O fim.
Escuro e sombrio.


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Tatuagem.

Eu quero te guardar em mim.
Para mim.
Fica assim, parada.
Quero te fotografar com a minha pele.
Marcar cada pedaço teu.
Para jamais te esquecer.
Tu em mim.
Silenciosa e calma.
Teu corpo inscrito no meu.
O meu amor só teu.
Teus olhos em frente aos meus.
Nós dois.
Sem o mundo.
Silêncio profundo de amar.
Calado em nós o nosso segredo.
Eu e você.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Do ofício.

Para que escrever?
Se quem deveria ler não lê.
Ou lê e se esquece que leu.
Finge que não leu.
Por que não me dizes?
Eu não tenho mais vontade de escrever.
O sentido do que escrevo só é completo quando tu lês.
Se não o fazes por que me interessa continuar a escrever?
Não.
Não o farei mais.
Até o dia em que me digas que me amas.
E se isso não acontecer.
Jamais porei letras no papel.
Folha em branco.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O que deveria ser e não será.

A quem interessar possa:

Agora, agora não é.
Talvez quando for não seja mais.
O tempo de tempo muda.
Hoje não é amanhã.
O amanhã poderá não vir.
E, assim não seremos mais.
Eu, eu. Você, você.
Seremos, talvez, eu, você e você, eu.
Papéis invertidos.
O que será?
Diferentes.
Não é.
O que é certo?
O que não é confuso?
Viver nunca foi fácil.
Não se deve fechar portas para o amor.
O amor de hoje pode não ser amanhã.
E quem poderá julgar?
Tudo na vida é findável.
Perene.
Amor não regado fenece cedo.
É, enfim, esquecido.
Se acaba.
Morre.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Cenas de um dia triste e de saudade.

"Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu."
(Chico Buarque)


Hoje, um dia quente, parado, triste, vazio. Um feriado morto. Não um feriado DOS MORTOS. Acorda-se muitas vezes durante a noite. De manhã também. Enfim, levanta-se. É preciso viver. Por mais doído e complicado que seja. O dia é realmente quente. A dor de cabeça é enorme, reflexo da noite alcoólica. O tempo é lento, lentíssimo. Há uma certa ansiedade no dia de hoje, onde nada acontece. Onde só existe desencontro. Inquietude que permanece o dia inteiro. Uma saudade que me consome. Há dias em que não se deve ouvir certas músicas. E por falta de atenção ou mesmo esquecimento ouve-se. Músicas que terminam de estilhaçar sua alma, já inteiramente alquebrada. E lá estava Maria, cantando canções que há muito eu não ouvia. E que hoje me tocam muito mais que em outros momentos. Rasgam a pele, furam os músculos até perfurarem sem piedade a minha alma. E o que me resta, além de aguentar silenciosamente esse flagelo auditivo e fumar desregradamente. Esperando que os minutos que se arrastam infinitamente terminem e este feriado fique esquecido no passado. Até amanhã, outro dia, um dia cheio, um dia onde minha esperança de te ver é renovada.

P.S: Do DVD que me perfurou neste 02 de novembro:










sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Tentativa.

Para que eu tento, em vão escrever coisas novas. Te dizer coisas bonitas, eu tão pequeno. Meu curto vocabulário não atinge o meu grande sentimento. Não há motivos para eu tentar te dizer coisas pois essas coisas já foram ditas naquela canção antiga de Chico. Me leva para sempre. Me ensina a voar, a não andar com os pés no chão. Quero viver contigo sempre à beira do abismo da felicidade, eu tão trôpego, tão torto. Vamos ser felizes. Será que é loucura? Comédia? Não despencaremos nunca. Ah... se eu pudesse entrar na sua vida... Baila, leve, para mim. Voa... E eu derramarei uma lágrima feliz por te saber viva e parte de mim. Sempre em mim, marcada. Olha.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Promessas.

Promessas, para que fazê-las? Se sabemos que não conseguiremos cumpri-las? A vida nos leva, por mais resistência que façamos. Tudo já está traçado, riscado, escrito. E não adianta lutarmos contra. Ela é o leme que nos guia. Eu prometi tanto e muito pouco cumpri. Eu queria ter conseguido, mas os caminhos viraram outros, mais longos, mais duros, pedregosos e sofridos. O mundo mudou, eu mudei, nada será como antes, cada segundo vivido é posto no passado, esquecido, apagado. E os olhos não sabem ver atrás só adiante e em frente seguimos certos de algo que nem ao certo sabemos o que é, apenas sabemos que esse algo está a nos esperar em algum lugar recôndito em qualquer esquiva vazia. E mesmo sem cumprir promessas anteriores vamos prometendo mais e mais. Uma promessa a cada passo. E promessas deveriam, sim, ser cumpridas. Mas, na vida o querer nem sempre é válido. E seguimos...

domingo, 24 de outubro de 2010

Azul.

E hoje, ao fim de uma tarde cansada de um domingo morno eu vi o céu. Não era carmesim alaranjado como num conto antigo de Andersen, era azul. Ia de um azul de azulejo de piscina até um azul breu, passando por um turquesa forte. O céu era azul. O fim de tarde era macio, o sol descansou por trás da cidade calma, naquele domingo sem grandes alegrias, como é costumeiro de todos os domingos.
O céu era azul



Domingo, 24.10.10

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sentimento vadio.


Meu amor vaga pelo mundo buscando pouso em algum coração que o receba bem...

domingo, 3 de outubro de 2010

Olhar.

De uma longa e linda mulher nasceu a lua.
Que nas noites escuras ilumina os corações desesperados.
Os teus olhos, filhos da lua.
Iluminam o meu coração.
O fulgurar desta luz me encanta e faz viver.
Viver claro, brilhante.
Feliz por saber de tua existência.
De tua tão cândida e inebriante luz.
No meu céu és rainha.
Soberana das noites minhas.
Senhora alva do meu terno amor.
Guia dos meus passos.
Norte do que serei.
Olhos reluzentes e fortes.
Iluminai sempre.
Resplandece teu fulgor eternamente.
E serei feliz.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Voo livre.

Voar livre e alto.
Pedaços de alegria que aprendi a sentir.
Rastros de felicidade que eu não sabia que existiam.
E me foi ensinado a observar o mundo de outro ponto.
Montei um quebra-cabeças com momentos mínimos.
Fiz uma colagem de sentimentos que eram dispersos.
Apenas uma questão de sentir diferente.
Olhar tudo com outros olhos.
Enxergar cor onde antes só via escuridão.
Ser livre, leve.
Alçar voos cada vez mais altos e longos.
Voar... Voar...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Grito!

Vai grito sem fim, me rasga a garganta e te espalha pelo mundo. Uma dose virulenta de dor no mundo já tão cheio de dor. Fere-me as entranhas, faz-me cuspir sangue ou fogo. Vai, me deixa. Vai pensamento pesado, eu prefiro a leveza dos campos limpos sem ideias. Eu quero não sentir. Eu preciso explodir. Expurgar tudo que me consome sistemática e diariamente. Vira-me pelo avesso, expõe todo meu corpo, minhas carnes fracas. Arranca-me o coração a cru. Decepa-me os membros, fura-me os olhos, para que eu não veja mais a dor, a imensa e obscura dor que me aperta o coração. Eu quero ser pedra. Papel, voar leve. Subir, alçar voos longínquos. Perder-me no espaço, alto e claro. Virar algo que não sinta. Pedra. Tropeços, nos outros provocar. Sai, grito faminto de ar. Deixar tudo que está preso ser liberto. Vai, vagão vazio de trem enferrujado, correndo solto pelos trilhos. Pomba malhada arrulhando nas tardes de verão. Eu quero não combinar nenhum pensamento. Apenas viver. Aprender. Jogar. Azar. Vômito viscoso e azedo, bile esverdeada cuspida longe, pela janela do décimo quarto andar do prédio. Esparramado no chão. Colado ao solo. Adentrando o solo. Vai, meu grito, eco vazio do meu ser. Espelho do meu interior, neste instante. Corrói os ouvidos de quem te ouvir. Come a felicidade alheia. Seja muito egoísta. Assim como eu sou, fui, serei, ontem, hoje, sempre, agora ou nunca. Em mim, em ti, passado quase se apagando no presente e inexistente no futuro. Futuro que nem sei se chegará. Ave de rapina, bico curvado, assassina. Voa, voa, cai. Fruto podre da árvore da vida. Meu espírito encarnado no vento. Grito, alto, contraio minhas costelas contra meus pulmões, até que elas os perfurem. E eu cuspa todo o sangue. Como os românticos. Morrer do mal do amor. Vai, pássaro ardente. Vai, meu grito, tão longe e tão alto quanto meus pensamentos. Que eu já não saio do chão. Agarrado a minha morada final. Amém.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Vielas

Caminho por entre ruas mortas.
Becos silenciosos.
Vejo nos sobrados antigos janelas iluminadas.
Cortinas puídas.
Gordas mulheres sustentam seus farto seios nos parapeitos.
Observam, caladas, as vidas.
Suas vidas se resumem a isso.
Tomar conta do movimento.
Hoje muito fraco e escasso.
Dantes estas ruas latejavam de vida.
Agora são velhos casarões o estreitos e compridos dilacerados.
Telhados desfeitos.
Ruínas.
Os postes enferrujados...
A luz vacilante...
Eu passo.
Sem me dar conta de que um dia estarei assim.
Como aquelas ruas.
Silencioso e morto.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Retalhos

Durante a vida fui costurando pequenos pedaços de lembranças, alegrias, tristezas...
Juntando como quem monta um quebra-cabeças.
Parte por parte.
Peças que me trouxeram aqui.
Que me fizeram ser quem sou...
Pedaços de minha história...
Retalhos de vidas, cruzadas, trocadas.
E continuo...
Costurando até que um dia terminarei minha vestimenta final.
Enfim...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Procura-se:

Procura-se um coração.
Para alugar.
Tempo de contrato indefinido.
Um coração inteiro.
Jovem.
Inexperiente.
Pronto pra amar.
Sofrer.
Se despedaçar.
Paga-se bem.

domingo, 1 de agosto de 2010

Ainda há tempo.

Ainda há tempo...
Tempo para se viver.
Por que então guardar?
Explorar todos os sentidos.
É assim que deve ser.
Colocar o interior para fora.
Nem o céu pode ser limite.
Ainda há tempo...
Não deixar passar.
Por que ter medo, receio?
Vontade deve-se realizar.
O pudor deve estar longe.
Colocar-se amostra.
Ainda há tempo...
Viver incontrolavelmente todas as paixões.
Deixar-se dominar pelo amor.
Rasgar o peito com desejos avassaladores.
Ainda há tempo de viver.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O homem amarelo.

Ele tinha uma cor de mofo.
Assim, meio amarelado.
Talvez estivesse mais pra desbotado.
Seus olhos eram opacos.
Vivia com aquelas roupas velhas.
Farrapos, trapos jogados sobre o magro corpo.
Seus dentes fracos, careados.
O cabelo sem brilho, já grisalho.
Suas mãos eram grandes, de dedos longos.
Poderia ter sido pianista.
Seu cheiro era de flores.
Não de flores cheirosas, mas, de cravos de defunto.
Um cheiro abusado.
As pernas cansadas já não andavam tanto.
Os pés já não eram firmes.
Passos incertos.
Seu tom ocre esmaecido podia até ser belo.
Visto de longe, bem longe.
Ninguém gostava de ficar perto por muito tempo.
Alguns tinham náuseas, outros horror.
Não se encara o feio.
Tira a vista.
Olha para o outro lado.
Como olhar para o outro lado se o mundo é cruel?
Suas palavras, não sabíamos, eram sábias.
Mas, ditas por tal figura dantesca não eram acreditadas.
Morreu. Um dia. Como que de tão mofado se desfizesse.
Apenas restaram os trapos, os dentes, os ossos.
E um pequeno livro, pequeno mesmo.
Com folhas garranchadas à mão.
Do que se conseguiu decifrar, apenas uma frase guardei:
"O maior valor da vida é amar".
Era, sim, um sábio.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Berré.

Meu respeito, minha devoção.
A voz tão seca e grave.
Árvore crepitando na paisagem seca do sertão.
Eco supremo dos grandes nomes.
Meu sincero e devotado amor.
Sobre o mel derramado no país.
Meu ofício ouvir e acatar tudo.
Minha paixão primeira e maior.
Dona de todas as cenas e palcos.
Meu coração bruto e sertanejo.
Toques regionais do meu ser.
Maria, minha.
E de quem mais se dedicar.
Apenas isso.
Voz que preenche todo meu vazio.
Vazio de amor.
Timbre forte e marcante.
Minha atriz primeira.
Minha Adela nunca realizada.
Joana martirizada no morro.
Voz maior de um grande e extenso mundo.
A ti, todo meu ouvido entrego.
Acalenta-me em todas as horas.
Para todo o sempre.
Minha senhora completa.
Dona de mim.
Dona de um dom supremo.
Voz rascante, de grandes gestos.
Me guarda em teu canto
Hoje e sempre.
Amém.

*Para minha Bethânia, guerreira, guerrilha.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Hiato.

De tempos em tempos eu paro de escrever.
Mesmo com inúmeras e imensas palavras na cabeça.
Escrever é um ofício, uma sacerdócio.
Eu não sou escritor.
Nunca me propus a tal.
Apenas penso.
E por isso escreve.
Quando repenso não quero escrever.
Por me sentir pequeno.
Diante de tantos grandes.
Mas, mesmo assim insisto.
Imprimo minha cabeça no papel.
Tal como é.
E não me envergonho.
Digo.
Nos tempos em que paro sinto um vazio.
Uma falta.
Então retomo.
Sem grandes compromissos.
Apenas simples.
Os parâmetros mudam, os pensamentos, as convicções mudam.
Essa é a graça da vida.
Mutação.
Vontade e não vontade.
Os opostos que se complementam.
Hoje eu resolvi escrever.
Sobre escrever.
Sobre ser.
Viver.
Afinal, não sei escrever sobre outra coisa.
O que eu vivo, sinto, percebo, absorvo.
Hoje findou-se um tempo em que passei sem escrever.
Talvez, hoje mesmo, comece outro tempo de hiato.
Escrever, para mim, é assim mesmo.
Quando dá, quando quer, quando vem.
Surge.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Batidas.

Os nós dos meus dedos estão doídos, de tanto bater na surda porta.
E tu, atrás dela, fingias não ouvir.
Quando cessavam minhas batidas ouvia tua ofegante respiração.
No silêncio profundo que se instalou, era possível ouvir tuas lágrimas caindo ao chão.
Eu sei que me querias do mesmo lado da porta.
Mas, teu orgulho foi maior.
E ficamos separados, eternamente, por uma dura e resistente placa de madeira fria.
Assim nossas vidas seguiram caminhos opostos.
Sempre.

sábado, 19 de junho de 2010

Da vida.

Guiado pela linha mais forte de minha mão,
Que aqueles pequenos olhos verdes me disseram ser meu destino,
Eu vou.
Sem amor, dinheiro ou vida longa.
Sigo na minha labuta.
Fazendo o que ainda sei fazer.
Não sei até quando.
Onde, como ou por que.
Sabendo que todos serão esquecidos.
Um dia.
Eu também.
Nada restará nas lembranças de cabeças alheias.
Quando penso em mim, sinto um vazio.
Um nó no peito, amargo na boca.
Eu apenas trabalho.
Vivo.
Sem muita preocupação.
Apenas.
Ninguém foge do que está traçado.
Marcado em vincos.
Desenhado nas mãos.
Em todas as mãos.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Grito parado.

Eu tenho um nó na garganta.
Uma coisa atravessada.
Um incomodo eterno.
Verborragia travada na glote.
Um grito pela metade.
Sons reprimidos na laringe.
Vontade de expelir essa dor.
Um vazio para ser preenchido.
Pelo som alto e estridente dos gritos meus.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Era...

Era o silêncio.
Era a quietude de um campo vasto e verde.
Era o azul de um céu ensolarado.
Era o que queria, desejava, ansiava ser.
Era o silêncio.
Era a igreja dourada vazia e solitária.
Era o tempo.
Era o caminho mais belo de todos os caminhos existentes no mundo.
Era o vermelho mais bonito de todas as rosas.
Era a vida seguindo seu curso.
Era o que era.
Era só.

Discos, poeira e pó.

Sentava-se, quieta, ligava sua vitrola, colocava um disco antigo, a voz afinada saia. O som impuro, ruídos. O disco girava, girava, girava. Dor-de-cotovelo, tocava horas sem parar. Samba-canção. Discos arranhados, agulha limpa. Girava, girava, girava. Os pequenos sulcos gravados no vinil, códigos indecifráveis. Músicas belas, de tempos idos. Naquele cômodo escuro, marrom, úmido. Grandes vozes por ali habitavam. De quem ninguém mais sabia a existência. Só ela. Saudosa de tudo. Era assim. Ela e seus discos. O cheiro de pó, guardado. Suas prateleiras tão cheias de antigos discos. Girava, girava, girava. O mundo redondo e negro, selos. Um furo no centro. Entre uma faixa e outra apenas o ruído da agulha contra a superfície de plástico. Nomes apagados das memórias. Apenas ali, naquela casa, saudosista, reinavam, como nos áureos tempos das grandes vozes do rádio. Era assim. Era ela, os discos, as vozes, a vitrola, o ruído.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Dias felizes...

Todos os dias ela sentava em frente à televisão, tomando seu leite quente, num copo de vidro barato e pensava na sua solidão. Seu corpo era mirrado. Como de criança desnutrida. Suas mãos ossudas e de dedos longos. Seus pés, já deformados, pelos sapatos velhos, gastos e apertados. Vestia sempre uma camisola florida, de margaridas rosas. O cabelo sempre muito bem penteado, já começava a rarear. A vista fraquejava, ou talvez fosse culpa da fraca lâmpada que iluminava o ambiente. A janela sempre aberta, deixando entrar a leve brisa das noites estreladas. Em época de chuva, não sentava, não tomava leite quente, não vestia a camisola, não pensava na solidão. Deitava-se cedo. Perdia-se em lindos sonhos coloridos, se entregava alegre por longas noites. Era feliz.

domingo, 23 de maio de 2010

Bolha de Sabão.

Leve.
Transparente.
Redonda, quase sempre.
Brilhante.
Furta-cor.
Aérea.
E num simples 'plim' desaparecer.
Eu queria ser assim.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Vai.

Eu não estou.
Você pode bater o quanto quiser.
Eu cansei.
Aqui você não vai mais entrar.
Chega.
O tempo passou.
A minha vida já não é mais a mesma.
Eu vivo.
Em outras cores.
Outra sintonia.
Você ficou atrás.
A casa está vazia.
Vazia de você.
Pode continuar batendo.
Não mais permitirei a dor.
Em meu coração não há lugar.
Estou repleto de vida.
Vá bater em outra porta.
Aqui você não entra.
Estou cheio.
Cansei de você.
O dia é outro.
Você ainda está igual.
Basta.
Canse.
Bata até não ter mais forças.
Desista.
De mim, de tudo que foi vivido.
De uma história passada.
Vai, segue outro caminho.
Me esqueça.
Eu já te esqueci.
E isso me basta.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Diferente

Eu queria ser tranquilo.
Não tão irriquieto.
Raso, não tão profundo.
Introspectivo.
Eu desejo ser aberto.
Sem tanta seriedade.
Sisudo.
Quero ser fácil.
Decifrável.
Constante.
Não tão instável.
Sem tanto amargor na alma.
Doce, terno, calmo.
Eu queria não gostar de música.
Ouvir zoada.
Falar bobagem, sempre.
Ser açúcar granulado.
Não pó.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Anti-Titã

Que olhos me rodeiam e fazem-me menor. Amedrontado com o brilho intenso. Como partiu toda a minha coragem. Para sempre. Eu. Sou o que sou. Quando fecho os olhos ouço as respirações me circulando. Sinto um arrepio frio percorrer meu corpo. O que posso fazer? Apenas ficar parado. Sem caminho para seguir. Vejo através de suas cabeças grandes e coloridas. Mas, só vejo o escuro. Uma luz estroboscópica que me cega mais que o brilho dos olhos vivos. Juntos. Tudo é cegante. As vezes murmurantes dizem coisas ininteligíveis. Eu fico procurando sentido nos gemidos guturais das bocas vermelhas e carnudas. O ar começa a ficar escasso. E então começo a diminuir. As figuras vão se tornando titãs, gigantes absurdamente disformes. Consigo fugir por uma brecha entre as pernas avantajadas. Só o escuro. O chão escorregadio. Percebo o significado disso tudo. O meu lugar no mundo não é aqui. Não é com essas pessoas. Eu sou o que sou. Tenho que tomar meu lugar. Fechar-me em mim. Infinitamente particular em meus pensamentos. Fechado em colchetes. Trancafiado em minhas entranhas. Sem contato com nada exterior. Preso em meus próprios nós.

sábado, 8 de maio de 2010

O peso do amor.

Eu não conheço o peso do mundo.
Pensava que minhas dores eram grandes.
Não são.
Enquanto os homens exerces seus poderes.
O mundo se desfaz.
Enquanto as pessoas seguem para seus destinos.
Eu volto trôpego, bêbado, embriagado para casa.
No caminho vejos os trabalhadores seguindo suas labutas.
E eu, não sei se privilegiado, posso viver mundos outros.
Eu não sei o quanto pesa a dor dos outros.
Sei o peso, simples, das minhas dores.
Eu penso, não sei mais falar.
Enquanto o sol nasce eu me fecho no quarto.
Vou dormir.
O dia brilha cedo, eu me recolho, exausto.
Eu não sei quantos gritos de horror são dados neste momento.
Apenas sei que existem.
Talvez bem perto de mim.
Mas, eu tampo os ouvidos para eles.
Apenas quero sossegar na minha cama.
Eu não conheço o peso do mundo.
O mundo é vasto, imenso, talvez sem dimensão exata.
Apenas aproximações, conjecturas.
Eu descobri.
Não sei se hoje, ontem...
Ou se ainda descobrirei.
O peso do mundo é o amor.
Como disse louco poeta anos atrás.
O peso do mundo é o amor.
O peso do mundo é o amor.
Seja de que forma for.

domingo, 2 de maio de 2010

Foi.

Era o que era, era o que queria ser.
E não sofria.
Era o tempo, sentado na calçada.
Era o vento, soprando pela fresta da janela.
Era o sol, queimando o corpo amado.
Era o céu, lambendo a terra.
Era a relva, abraçando com carinho.
Era a cama, deitando sobre o amor.
Era o desejo, se entregando inteiro.
Era o cheiro, exalando no quarto.
Era o amor, completo.
Era, sim o que ansiava.
Era a fera, talvez a Quimera.
Era o peso, jogado sobre o mundo.
Era o fogo, ardente em brasa.
Era o que pensava ser.
E era assim.
Era a mão, afagando o sexo.
Era a vida, em pleno gozo.
Jazia, por fim, morto e entregue aos braços de outrém.

sábado, 24 de abril de 2010

Pouco Tempo.

Eu não tenho tempo de sobra. Tenho o tempo exato para o que me é necessário. Não me faça perder tempo com coisas que não são necessárias. Não procure-me. Esqueça de tudo. Do que já foi vivido, do que já passou. O meu tempo é medido, não quero perdê-lo. Não contigo. A minha vida já me consume todo o tempo que tenho, não posso viver tua vida. So me interessa ser feliz. Isso você não poderá me fazer, não mais. Tudo acabou. Só ficou a lembrança. Num passado esquecido numa gaveta qualquer. E, hoje eu vivo livre. Sem amarras, sem nada que prenda. O teu amor me sufocou. Não se pode viver sem ar. Preciso respirar, ares novos, puros. Não mais aquele ar pesado que respirava ao teu lado. Passou. O céu se abriu, as nuvens negras se dissiparam. O meu viver é muito mais fácil e forte, a fragilidade, o sofrimento ficaram amarrados em ti. Prendendo teus pés, não permitindo que seguiste em frente. Preso à um tempo que já não existe. O tempo que era de sobra. O excesso do tempo. Hoje tudo é contado, medido, justo. O meu tempo é exato para mim.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Vontade

Uma leveza que eu não tenho.
Sopro forte que suspende tudo.
O ar, voando sempre.
Malabarismo com as palavras.
Instantâneos do cotidiano.
Recortes das vidas.
Paisagens urbanas.
Personagens reais.
Sentimentos humanos.
Desejo, sexo.
Pluralismo (in)consciente.
Eu queria ser assim.
Escrever desta forma.
Sem amarras.
Com a alma tranquila
E feliz.
É tudo.

domingo, 18 de abril de 2010

Como?

Não me peça felicidade.
Isso eu não posso te dar.
Não exija que eu te solucione.
Sou muito pequeno para isso.
Não queira resolver o mundo.
Ele é assim, confuso.
Não, eu não vou me zangar com você.
Fale, escutarei.
E te amarei sempre.
Apenas não pense muito.
Não se perca em divagações.
Viva.
Sem medo. Livremente.
Não me peça facilidade.
A vida é cruel.
É crua.
Se tudo fosse fácil que graça teria?
Essa montanha-russa é o interessante.
Não, não tenho todas as respostar por que procuras.
Eu tento, mas está além de mim.
Não me peça alegria.
Pois, até eu sou triste.
Apenas quero te fazer feliz.
E não sei como.
Ainda, ainda não descobri.

Comum

Eu sou um pessoa comum. Simples.
Caminho como todos os mortais.
Não me ponho em posição superior.
Nunca o quis.
Sou rasteiro. Pés fincados na terra.
Não me perco em pensamentos.
Objetivo.
Tenho meus erros, todos temos.
Sou humano. Normal.
Como todo e qualquer ser.
Às vezes sou planta, noutras animais.
Sou mesmo comum.
Lugar e pessoa.
Sou assim.
Sem muito ter nem para que.
Eu.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Sã consciência.

Quando se quer falar, nada se diz. Muitas vezes nada se tem para dizer. Melhor calar. O tempo de tudo se encarrega. Espalha, separa, junta, cola, faz, desfaz, refaz. O mundo não para. Por mais que queiramos. Ele segue imponente o seu rumo. Sem pressa. Para me olhar no espelho e ver que tudo é permanente, neste e em outros mundos. Mudam apenas as gravidades. Mantém-se o resto. Um fluxo contínuo que nos sai do peito, pulsante. Pensamentos desconexos, mas juntos. Eu não penso há um bom tempo. Não paro pra pensar em mim, nas minhas coisas. E tudo corre frouxo, à revelia. Eu preciso tomar pulso, retomar as rédeas do meu coração. Controlar as emoções. Diminuir as explosões, as mudanças de humor. Ser mais recional. Esquecer o passionalismo. Concluindo. Devo mudar. Devo? Não sei. Sempre estive assim. Vivendo numa corda-bamba, beirando o abismo. Num toverlinho mundano. Mereço ser seco como árvore velha? Devo assim ser. Para crepitar nas noites vazias e solitárias. Para não mais sofrer. Para não me doer mais. Assim, calmo. Como um lago nas noites de lua cheia. O vento sopra forte, canta nos galhos das árvores frondosas, diferentes de mim. Galho velho, sem folhas. Vai tua vida. Segue cantando e sorrindo. Que eu fico. Cá. Quebrando-me, em pensamentos tristes e sombrios. Tronco rouco num campo verde. Até que o sol me queime. Carvão. Serventia final de minha vida. O melhor que eu pude fazer de mim. Quanto tempo ainda resta? Para que tudo se finde em mim e no mundo? Eu não poderia dizer. Aos sóis e luas eu resisto, ainda. Até quando não quero nem saber. Vai minha vida, pássaro descontente. De canto sofrido e marginal. Ave nua. Voando nos céus despudorados de um mundo caótico. Ondem ninguém mais olha para o outro. Fecham-se em suas próprias cascas. Esquecendo do primeiro sentimento. O amor.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Sobre o tempo e o fim.

E pensando sobre o tempo percebi que nunca aprendi a lidar com ele, não sei sair bem de despedidas, me sinto totalmente desconfortável. É inútil querer que tudo dure eternamente. Muitas vezes as coisas e as pessoas se acabam no auge. Provavelmente para não se verem desgastadas, poídas é melhor que seja assim. Ficará uma lembrança boa. Eu não consigo. Talvez um dia, eu saiba como me portar diante disto. Não sofrer. Não sentir. Hoje, ainda, não sei. O tempo é assim. Ele nos envolve e quando nos damos conta, já foi. Passou. E findou-se. É esse o princípio da vida. O começo, o meio, o fim. E então eu me sempre me pego pensando sobre este sentido da viver. Tudo vai se acabar. Pra que tanto sacrifício? Vamos como barcos à vela, à vontade do vento. E só.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Esquecido.

Estar relegado ao fundo de uma gaveta, às vezes é condição sine qua non, para mim.
Ficar esquecido num canto de sala.
Escondido, num canto recôndito.
Absolutamente esquecido.
Obsoleto objeto antigo.
Não peça rara de museu.
Tralha. Sim.
E saber porta-me é necessário.
Silencioso.
Longe de escândalos.
Subserviente aos outros.
Olhos baixos. Jamais fitar o superior.
Aceitar, calado, o que me cabe.
A minha inferior posição.
Deixado para depois.
É assim.
Até quando eu assim quiser.

sábado, 27 de março de 2010

A ave, a caixa, a casa, o quintal...

No quintal daquela casa azul e branca.
Um terreiro grande.
Há um periquito, amarelo e verde.
Enterrado numa caixa de perfume.
Me veio a lembrança instantânea.
Da minha memória de criança.
Naquela caixa, verde com uma flor rosa.
Foi sepultado o pobre pássaro.
Assassinado por sua companheira.
A periquita, azul e branca, com manchas cinzas.
Como a casa, hoje, abandonada e suja.
Tive vontade de entrar naquela casa novamente.
Rever os cômodos.
As grandes janelas.
A cozinha arejada.
O terreiro.
Buscar a pobre ave sepultada.
Uma ânsia do passado.
Frescor da infância.
Me senti de novo pequeno.
Quase do tamanho da última morada do pássaro.
Que não mais cantou.
Nunca mais.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Feliz.

Vá ser feliz.
Se você puder.
Tente.
Já que eu não fui.
Não infeliz.
Apático.
Sem cor.
Vivi assim.
Morno.
Morto.
Vá e seja feliz.
Consiga.
Viva.
Eu tentei.
Não consegui.
Mas, seja.
Alcance.
Suba muito.
Vá ao céu.
Vibre.
Grite.
Ame.
No ápice de felicidade.
E, assim, eu serei também.
Feliz por ti.
Contigo.
Sinto-te.
Como parte de mim.
E quero que sejas.
Feliz.
Apenas.
Nem mais nem menos.
Só.
Feliz.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Sobre o tempo...

Era tempo.
Tempo de quê?
Sobre o tempo só sei uma coisa:
Ele passa.
E quando menos se espera:
Foi.
O tempo, quando é tempo, é.
Eu nunca esperei.
Apenas vivi.
Ele passou.
Quanto?
Não sei.
Apenas está riscado atrás.
Em que cores?
Não as vejo.
Apenas sinto.
Frequências luminosas.
Que incidem em diversas intensidades.
E o limpo à frente.
Que espera ser colorido.
O tempo.
É tempo.
Tempo, quando é tempo, tempo.
O infinito um dia terá fim.
O tempo chegará.
Passará.
E ninguém se dará conta.
Apenas será.
Ficará atrás.
Esquecido.
No novo tempo que chegará.
O tempo será passado.
Esmaecido.
Apagado.
Descolorido.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Baixo marulho.

Em que mares naveguei?
Que marés violentas enfrentei?
Até que de repente o mar serenou.
As ondas baixaram.
O vento ficou ameno.
Pode-se, enfim, avistar mais adiante.
O mar revolto ficou atrás.
Naveguei tranquilo.
Em terras distantes aportei.
E lá pensei viver.
Mas o mar me chamou de volta.
Eu, marujo de todas as horas.
Não consegui viver em chão firme.
A vida marítima é meu destino.
Navegar sempre.
Içar velas, levantar âncora.
A música dos pássaros vão se afastando.
Essa é a melhor sensação, para mim.
Só o barulho d'água.
As ondas que batem com força contra o barco.
Dias de mar bravo, dias de calmaria.
É assim.
Seguir, aonde o vento me levar.
Navegando nos mares do mundo.
Como quem invade e rasga corações.
Cortando almas pelo tempo que passa.
Ir deixando rastro, que em breve se apagarão.
E nada mais restará.
Além da despedida, da lembrança.
E voltar ao mar.
Até que ele me leve para o fundo.
Escuro e frio.
Não mais vendo a luz.
E depois as algas me revestirão.
Os escafandristas virão remexer nestes restos.
Nesses pedaços de um naufrágio.
E de lá, do descanço profundo, sairei.
Para onde? Não sei.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sertão.

Onde haja uma promessa.
É lá que quero ir.
Mas, eu vivo no meio da confusão.
Onde só há desordem.
Eu pensei em cantos claros.
Em terras calmas, mansas.
E só caminhos conturbados se desenharam na minha frente.
O meu povo, ficou atrás.
Procurei uma paz, em vão.
Só loucura achei.
Cavando em terras infertéis.
A sina de quem não pensa é essa.
Meus grãos não germinaram.
Morreram secos no árido chão.
O pó da terra me cobriu inteiro.
Eu segui, catando folhas secas.
Sacudindo a poeira que trazia sobre os ombros.
Pisando forte, com os pés cansados.
Até achar uma terra mole.
Onde haverá promessa.
E isso me basta.
A promessa de algo bom.
Uma nova ilusão.
Até que o sol venha e queime tudo.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Viagem.

Ela caiu num espiral. E foi levada por longos minutos naquele túnel. Não sabia onde pararia. Pensava em terras imaginárias. Talvez Oz ou o País das Maravilhas. Quem sabe, ainda, poderia ir parar através do espelho? Em algum lugar sabia que iria chegar. Além, muito além, de onde estava. Rodando dentro daquele túnel colorido, onde as coisas passavam voando por ela. Sua sensação não era de estar subindo ou descendo, não sabia, não percebia em que direção era levada. Ouvia uma linda canção entoada por pássaros de plumagem brilhante que passavam ali. E o fim daquele túnel não chegava. Ela pensava: Alice teve o seu destino e por quê eu não posso? Podia sim. E continuava seu percurso, em alguns momentos o espiral ficava apertado, ela mal consegui passar, em outro ficava tão largo que ela perdia as paredes de vista. Ela sorria. Mesmo sem saber de nada. Sorria. E enfim chegou aos seus olhos uma enorme claridade. Parecia a "luz no fim do túnel", e era de fato. Ela desejou estar chegando numa terra colorida. Mas, não. A realidade a chamara. Voltara ao seu celeiro. Em tons de sépia. Onde tudo era normal e quieto. O sonho acabou.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Cinzas...

Eu sentia aquele cheiro forte em mim. Fumava, mas não gostava de dormir com aquele cheiro nas mãos. E por mais que as lavasse o cheiro permanecia. Meu estômago reclama pela manhã, quando acordava e sentia aquele odor no travesseiro. O cheiro de fumo é a lembrança mais vívida que tenho. O cinzeiro repleto de pontas de cigarro ao fim do dia. A casa parecia tomada pela fumaça angustiante. Já não havia ali aquela atmosfera corrompida, aquela frieza estava longe. As paredes úmidas. O ar praticamente irrespirável. A coleção de isqueiros espalhada pela sala, nas mesas, estante, cadeiras. Só o cheiro, hoje abominável, de cigarro queimando. Eu quis tudo, eu tive tudo, só não soube guardar. Eu tive você e não soube cativar, conquistar mais um pouco a cada novo dia. E assim tudo que eu pensa ser eterno se acabou. O amor se extinguiu. Você se foi, levando consigo os melhores anos da minha vida, os meus momentos mais felizes. Uma parte de mim, um braço, uma perna, talvez. Não, levou o meu coração. Eu fiquei. Sem lágrimas. Apenas fumando, vendo os espirais se desfazerem no ar e fugirem pelas janelas. A casa ainda é a mesma, as coisas ainda são as mesmas, mas não se parecem com o que foram. Cada centímetro disto tudo me é estranho a cada novo olhar. Eu pensei, não agi. E deixei escapar, como a fumaça do cigarro escapa. Minha vida foi como um cigarro, cheiro bom antes, um ardor durante e depois...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Nau.

Gritem aos marujos:
Levantar velas!
O barco precisa zarpar.
Vamos navegar pelos mares.
Sem destino.
Continuar ao favor do vento.
Deixem que as velas nos guiem.
Não importa em que porto paremos.
Sem medo das tormentas.
Num remanso eterno.
Sem marolas.
Meses sem avistar terra firme.
Apenas a imensidão do oceano.
É isso que quero.
Velas hasteadas.
E partamos.
Sem demora.
Esquecendo tudo que deixamos pra trás.
Navegar.
Navegar.
Navegar.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Tua ausência.

Ontem um vento soprou forte na minha janela, e eu me lembrei de ti. De teus cabelos macios que se enroscavam em meu pesçoco. De tua mão, às vezes frias, que me afagavam o rosto. Teus olhos claros e brilhantes. Naquele instante uma estrela brilhou mais forte no alto céu. De tudo que guardei de ti só me restou o perfume. O cheiro adocicado que trazias em teu corpo. Ainda posso senti-lo entranhado em mim. Tua ausência é ainda a maior presença dentro das paredes da nossa casa. Esqueci algumas coisas. Mas, teu perfume é único. Eu fiquei parado na janela. Escutando aquela música que o vento soprava. Não sei quanto tempo fiquei ali, inerte. Envolto nas lembranças e inebriado com teu cheiro, que parecia vivo, como se estivesses ao meu lado, com tua cabeça recostada ao meu peito. Quando enfim dei por mim percebi-me sozinho, sem teus lábios para beijar. Sem tuas mãos, às vezes quentes, para acariciar. Ali, naquele momento eu senti um medo, uma coisa que me apertava o peito e me deixava com uma respiração precária. O frio me tomou. Fechei a janela com muito barulho. Encerrando-me naquela casa vazia.