diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

sexta-feira, 21 de junho de 2019

Cais

Andei mundos, longos caminhos em busca de algo.
Em busca de alguém que me preenchesse o vazio.
Voltei ao lugar de origem.
Voltei como saíra outrora: vazio.
Todos os corpos por onde passei ficaram para trás.
Eu sempre fui passagem.
Travessia para passantes.
Meu corpo sempre foi caminho.
Nunca porto.
Atracar em meu cais nunca puderam ou apenas não quiseram.
Ancorar nas águas profundas da minha alma ninguém tentou.
Sempre passagem, sempre caminho.
Marinheiros vadios que passearam por meu corpo preferiram aportar noutros corpos.
E eu fiquei, recebendo as pancadas do mar.
Vazio.

domingo, 16 de junho de 2019

Pouco importa

Pouco importa o que virá.
Onde esse caminho vai dar?
Quando chegaremos a algum destino?
Pouco importa o futuro, amanhã já é futuro.
E tudo é incerto.
Eu quero o agora.
Quero-te neste instante.
Em que minha língua percorre toda a extensão do teu corpo.
A provocar-te arrepios e prazer.
Estes momentos em que nossos corpos se enroscam.
E quando cansado tu adormeces ao meu lado.
Tua respiração fica mais profunda e te entregas ao sono.
Enquanto eu vigio teu corpo adormecido e nu.
Isto é o que vai ficar.
Está aí o que importa.
Reside nestes momentos irrepetíveis o que é importante.
O resto é firula.
Não quero enfeites, badulaques.
Quero-te cru, osso.
Peles, carnes, humores, sangue e suor.
Assim já me basta.