diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

sábado, 27 de março de 2010

A ave, a caixa, a casa, o quintal...

No quintal daquela casa azul e branca.
Um terreiro grande.
Há um periquito, amarelo e verde.
Enterrado numa caixa de perfume.
Me veio a lembrança instantânea.
Da minha memória de criança.
Naquela caixa, verde com uma flor rosa.
Foi sepultado o pobre pássaro.
Assassinado por sua companheira.
A periquita, azul e branca, com manchas cinzas.
Como a casa, hoje, abandonada e suja.
Tive vontade de entrar naquela casa novamente.
Rever os cômodos.
As grandes janelas.
A cozinha arejada.
O terreiro.
Buscar a pobre ave sepultada.
Uma ânsia do passado.
Frescor da infância.
Me senti de novo pequeno.
Quase do tamanho da última morada do pássaro.
Que não mais cantou.
Nunca mais.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Feliz.

Vá ser feliz.
Se você puder.
Tente.
Já que eu não fui.
Não infeliz.
Apático.
Sem cor.
Vivi assim.
Morno.
Morto.
Vá e seja feliz.
Consiga.
Viva.
Eu tentei.
Não consegui.
Mas, seja.
Alcance.
Suba muito.
Vá ao céu.
Vibre.
Grite.
Ame.
No ápice de felicidade.
E, assim, eu serei também.
Feliz por ti.
Contigo.
Sinto-te.
Como parte de mim.
E quero que sejas.
Feliz.
Apenas.
Nem mais nem menos.
Só.
Feliz.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Sobre o tempo...

Era tempo.
Tempo de quê?
Sobre o tempo só sei uma coisa:
Ele passa.
E quando menos se espera:
Foi.
O tempo, quando é tempo, é.
Eu nunca esperei.
Apenas vivi.
Ele passou.
Quanto?
Não sei.
Apenas está riscado atrás.
Em que cores?
Não as vejo.
Apenas sinto.
Frequências luminosas.
Que incidem em diversas intensidades.
E o limpo à frente.
Que espera ser colorido.
O tempo.
É tempo.
Tempo, quando é tempo, tempo.
O infinito um dia terá fim.
O tempo chegará.
Passará.
E ninguém se dará conta.
Apenas será.
Ficará atrás.
Esquecido.
No novo tempo que chegará.
O tempo será passado.
Esmaecido.
Apagado.
Descolorido.