diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

[Série] Cartas

Mamãe,

Eu sei que sou muito danado. Mais Mas prometo pra senhora que eu vou tentar ser bonzinho!
Não vou mais brigar com Laurinha, vou comer verduras, vou fazer minhas lições e escovar os dentes antes de dormir.
Prometo também que não vou mais arrumar brigas no colégio.
Mas por favor mamãe me deixe andar de bicicleta todos os dias com os meninos da rua. Se eu levar outro tombo e ralar o joelho não vou chorar, eu juro.
Mamãe, mesmo sendo esse pimentinha eu te amo.

Um beijo do seu filhinho.

domingo, 26 de janeiro de 2014

[Série] Cartas

Querido,

Te escrevo, mesmo sabendo que não lerás estas tortas linhas. Mas a necessidade de escrever é urgente. Lembro-me de quando nossos olhos se cruzaram pela primeira vez. Eu vestia branco, lembro deste detalhe porque não era comum naquele tempo eu vestir branco, bem sabes que sempre gostei de vestir-me coloridamente, hoje já não tanto, não fica bem, a idade já não me permite tantas extravagâncias nas roupas. Mas quando nosso olhares se cruzaram eu sabia, tu sabias, palavras não foram precisas pra que existisse o primeiro contato de nossos lábios. E assim aconteceu. Tudo foi tão rápido e nos tomou, nos embriagou, nos tirou chão e ar. Mas tudo, como começou, terminou rapidamente. Segui meu caminho e tu seguistes o teu... Já não sei onde andas, com quem andas, como vives, se ainda te lembras de mim... Eu mudei, o tempo me cansou, já não tenho mais aquela vivacidade de outros tempos, empalideci, emagreci, meus cabelos pratearam e meus olhos perderam o brilho. Há momentos em que me pego pensando em ti, imaginando o que fazes, o que fizestes nestes tão longos anos que nos separam daquele último momento onde nossos lábios se tocaram pela última vez e nossas mãos deram-se os derradeiros acenos. Teus cabelos, tuas mãos, teus olhos ainda são os mesmos? Em mim guardo ainda a tua imagem como eras... Sei que já não és assim. Será que mudamos tanto que, talvez, não nos reconheceríamos ao nos cruzar outras vez? É possível que isto já tenha acontecido... Mas de que isso importa? Sei que não tornarei a ver-te, então que me fique a memória de tua jovial beleza que partiu rumo à distância de mim naquela manhã de sábado chuvoso. Não sou triste, espero que também não sejas, vivi o que a vida havia me reservado, mas guardo lembranças de todos que passaram por minha vida, e tu, apesar de uma passagem relâmpago, tens um especial lugar na minha história. Não trago amarguras no peito, isso nos faz pesar, e eu, bem sabes, gosto da leveza, da leveza dos voos dos pássaros, do vento e do céu. Sofri, sim, nos primeiros tempos longe de ti, mas o tempo encarregou-se de me acalmar a saudade e amansar minha alma. E eu fui feliz, sim.

Com afeto,

Alguém que um dia muito te amou.