diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Discos, poeira e pó.

Sentava-se, quieta, ligava sua vitrola, colocava um disco antigo, a voz afinada saia. O som impuro, ruídos. O disco girava, girava, girava. Dor-de-cotovelo, tocava horas sem parar. Samba-canção. Discos arranhados, agulha limpa. Girava, girava, girava. Os pequenos sulcos gravados no vinil, códigos indecifráveis. Músicas belas, de tempos idos. Naquele cômodo escuro, marrom, úmido. Grandes vozes por ali habitavam. De quem ninguém mais sabia a existência. Só ela. Saudosa de tudo. Era assim. Ela e seus discos. O cheiro de pó, guardado. Suas prateleiras tão cheias de antigos discos. Girava, girava, girava. O mundo redondo e negro, selos. Um furo no centro. Entre uma faixa e outra apenas o ruído da agulha contra a superfície de plástico. Nomes apagados das memórias. Apenas ali, naquela casa, saudosista, reinavam, como nos áureos tempos das grandes vozes do rádio. Era assim. Era ela, os discos, as vozes, a vitrola, o ruído.

Um comentário:

Karol Melo disse...

Felizes os que possuem os tesouros de seus anteriores. Viver o passado é bom, só na arte!

Abraços!