diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

sábado, 23 de janeiro de 2010

Cinzas...

Eu sentia aquele cheiro forte em mim. Fumava, mas não gostava de dormir com aquele cheiro nas mãos. E por mais que as lavasse o cheiro permanecia. Meu estômago reclama pela manhã, quando acordava e sentia aquele odor no travesseiro. O cheiro de fumo é a lembrança mais vívida que tenho. O cinzeiro repleto de pontas de cigarro ao fim do dia. A casa parecia tomada pela fumaça angustiante. Já não havia ali aquela atmosfera corrompida, aquela frieza estava longe. As paredes úmidas. O ar praticamente irrespirável. A coleção de isqueiros espalhada pela sala, nas mesas, estante, cadeiras. Só o cheiro, hoje abominável, de cigarro queimando. Eu quis tudo, eu tive tudo, só não soube guardar. Eu tive você e não soube cativar, conquistar mais um pouco a cada novo dia. E assim tudo que eu pensa ser eterno se acabou. O amor se extinguiu. Você se foi, levando consigo os melhores anos da minha vida, os meus momentos mais felizes. Uma parte de mim, um braço, uma perna, talvez. Não, levou o meu coração. Eu fiquei. Sem lágrimas. Apenas fumando, vendo os espirais se desfazerem no ar e fugirem pelas janelas. A casa ainda é a mesma, as coisas ainda são as mesmas, mas não se parecem com o que foram. Cada centímetro disto tudo me é estranho a cada novo olhar. Eu pensei, não agi. E deixei escapar, como a fumaça do cigarro escapa. Minha vida foi como um cigarro, cheiro bom antes, um ardor durante e depois...

Um comentário:

Karol Melo disse...

Eu gostei desse texto, cara.

Abraços!