diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Velha Menina Baiana.



Quando menina ela era careca, depois um fio de cabelo nasceu.
Jogava futebol, era meia esquerda. Fazia gol. Chamavam-na Pinóquio.
Por conta de seu adunco nariz. Como um bico de ave de rapina.
Tem nome de latifundiária baiana.
Mas é apenas baiana.
Um dia recebeu um recado para correr o Rio de Janeiro.
Queriam-na no lugar de Nara.
Mas, de Nova Iorque, recebeu uma chamada anterior.
Substituir Ella Fitzgerald. A menina fazia piadas.
Porreta.
Ela foi ao Rio, foi e não voltou, não voltou para a segunda época de matemática.
Passaram-se quase quarenta e cinco anos.
Hoje esta menina é uma senhora.
Com um longo cabelo, prateado, como uma velha índia.
Diz-se que esta índia vai longe.
Tira e bota no sol, como planta.
Uma encarnação de Orixá.
Senhora dominadora de muitos.
Pulso firme e forte.
Assim é.
Assim será.
Sob o sol escaldante do sertão.
Este carcará canta...
E cantará, muito ainda.


p.s.: à Maria, Bethânia, Berré, Abelha Rainha, pelos seus 63 anos de vida.

Nenhum comentário: