diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

quinta-feira, 16 de abril de 2009

não quero nada pra mim

mora em mim um velho.
que me deixa sério.
impaciente.
quisera morrer no tempo dele.
deixa estar.
um dia através do universo eu morrerei.
e minha poeira se espalhará no mundo.
como um jorro de alegria.
com um sopro do vento norte.
serei passado.
estarei quieto e silencioso.
como nunca fui em vida.
deixa estar.
tenho vontade de jorrar palavras de ordem.
mas calo.
aguardando que meu velho aja por mim.
ele que ancião sabe mais que eu.
meu velho espírito cansado.
de vagar através dos tempos.
não chore, não chore, ainda, não.
você tem balas de limão?
eu gosto de balas.
não sei nem por que falei em balas de limão?
me lembram minha infância.
deve ser isso.
deixa estar.
deixa ficar como está. como ficará eternamente.
de boleros antigos na vitrola penso em nada.
quando você se lembrar de mim.
lembre.
ou esqueça.
como queira.
tanto faz.
eu não quero mais saber.
nem ouvir.
às favas com lembranças longínquas.
todos estão velhos, desfeitos, borrados.
ou mortos.
ninguém sobreviveu a mim.
eu restei, só.
quantos passaram, ficaram atrás.
não!
eu não quero ser um velho.
eu quero ir antes.
deixem-me ficar atrás.
me percam no caminho.
esqueçam de mim.
se percam de mim.
desapareçam.
não tem chuva caindo.
nem banda passando.
não tem violão, banquinho, ipanema, copacabana.
nada.
tem fome, sede, miséria.
amores perdidos.
sangue em minha alma.
silêncio e som.
escuridão.
ladainhas ao longe.
requiéns para mim.
que me fui.
deixei de existir.
caí.

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