diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Poeira

Em que chão pisar? Se não o vejo.
As paredes tão sólidas de ontem onde estão?
A luz que brilhava tão vívida e forte se apagou.
Nenhuma réstia do passado existe.
Apenas mágoa, escuridão. Morte.
Um novo ciclo surgirá.
Quando?
Tantas perguntas me rodeiam.
Respostas que não estão em mim. Estão em outro ser.
E não me alcançam. Não me chegam claras.
O tempo, o tempo, que tempo? Tempo que não passa.
Pára. Exita e não segue seu rumo.
O silêncio e a solidão me tomam o corpo.
Me invadem as narinas como ar contaminado.
Me sufocam.
Sabedoria de um tempo que não se vive.
Experiências adquiridas com o nada.
Tudo vai ser ordenado, tudo vai tomar seu devido lugar.
E eu tenho medo da proporção que certas coisas podem tomar.
O novo me assusta?
Eu não sei mais quem eu sou, quem está comigo. Se alguém esteve.
Viremos as páginas da vida e vamos escrevendo novas linhas tortas.
E que volumes sejam acumulados uns em cima dos outros.
Nas nossas bibliotecas empoeiradas.
Até o dia que eles sejam lidos como documentos antiqüíssimos.
De histórias remotas.
Tristão e Isolda do futuro.
De um futuro distante.
Tão distante assim como tu estás de mim.
E estarás sempre e sempre, sempre.
Sempre ao largo da minha vida e dos braços meus.
Se extiguem em mim as forças e junto o meu sentimento.
E adiante nada restará.
Nem eu, nem o sentimento.
Só velhos livros entulhados.
Comidos pelos tempo.
Cobertos de camadas sistemáticas de poeira.
E fim. De um caso que nem começou.
Uma apressada da lentidão.
Movimento de estagnação.

Nenhum comentário: