Dentro de mim está contido.
O que há dentro de mim.
Em mim existe o fogo de um amor.
As cinzas de amores não concretizados.
O conteúdo é vasto, é extenso.
E perecível.
O verde dos caminhos trilhados.
Azul do céu que me olhou do alto.
O azul esverdeado do mar que me abraçou.
Calor de querer viver mais, intensamente.
Dentro de mim está o que não se pode ver.
Só se sente, se ouve falar.
As palavras de amor e ódio, que se misturam.
Como sopa de letrinhas da infância perdida.
Das memórias esquecidas dentro do meu eu mais recôndito.
E que eu cuspo num papel em branco.
Transformo-as em frases. Meus sentimentos pregados à folha.
Digo tudo que não tenho coragem de falar.
Mas eu tenho coragem. Eu falo.
Eu grito, palavras soltas, desconexas.
Sei que grito no vazio, no oco do mundo.
É preciso fazê-lo. Faço-o.
Perco-me nos caminhos dos assuntos.
Já nem sei o que estava pensando quando comecei.
O conteúdo do meu ser/estando vivo.
Rasgo de inteligência que me partiu o corpo ao meio.
Como os raios de Iansã cortam os céus das noites.
E rapidamente se apagam sem atingir o chão fértil da criação.
Dentro de mim está contido o seu ser.
Os seus eus, os meus eus. Nós.
Atrelados e confusos. Já inseparáveis e indivisíveis.
Dentro de mim está tudo que não cabe no mundo.
E só acha morada nos becos escuros dos cantos perdidos do meu pequeno corpo.
Eu que não gosto de filosofias.
Gosto de vida. De nervos, carne e coração expostos, como numa vitrine de açougue.
Para fora. Quero expelir as pedras que me restam.
Viver ultrapassa todos os pensamentos e leis da proto-filosofia.
Basta estar contido no mundo.
É ao mesmo tempo tão simples e tão complexo.
Vejamos tudo com mais clareza. Não obscureçamos o que é nítido.
Sejamos ingênuos como crianças que acabaram cruzar as portas do mundo.
A primeira passagem.
Trancemos as pernas e não sigamos tão retos.
Curvas são sempre bem vindas.
O conteúdo da vida é estar.
Estar é fazer-se vivo.
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