diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa
terça-feira, 15 de maio de 2012
Às margens do rio.
Costumava sentar-se à beira do rio balançando os pés na água morna. Foi dali que avistou, na outra margem, o belo moço. Era jovem, formoso, branco de cabelos negros. Sentia de longe seu perfume selvagem e amadeirado. O moço sorriu e acenou para ela. Encabulada deu um leve adeus e um tímido sorriso. Foi assim. Apaixonou-se perdidamente. O moço seguiu seu rumo do lado de lá. A jovem de longas tranças e vestido simples já não pensava em mais nada, apenas naquele belo rapaz. Todos os dias voltava ao mesmo ponto da margem do rio e ali ficava à espera do amado. Buscou saber informações ao seu respeito, mas ninguém sabia nada. Esperava-o sempre no mesmo horário. E assim passou-se uma semana, um mês, um ano. Ele nunca mais apareceu. Começou-se a comentar na pequena vila sobre a moça. Era chamada de "a noiva sem marido". Corridos alguns anos demorava-se cada vez mais sentada a esperar o seu homem. Trazia sempre os cabelos em tranças e vestia o mesmo simples vestido estampado com pequenas flores. Dez anos correram nos calendários. Para ela o tempo não passava, fora ontem que havia avistado o seu rapaz querido. Já não fazia outra coisa a não ser sair de casa para ir à margem do rio. Tomavam-na por insana. Seus olhos guardavam um brilho estranho, como os olhos dos loucos, dos apaixonados. Cantarolava canções que ninguém mais lembrava. Seus cabelos foram prateando, seu vestido se puindo. Um dia saiu de casa e não voltou. Os que dizem tê-la visto naquele dia, passaram por ela e a viram sentada no habitual local, as horas da tarde já iam avançadas, começava a escurecer. No dia seguinte o rio estava calmo, suas águas mais cristalinas que o habitual. E sumiu-se assim. Sem deixar rastros, apenas as histórias que o povo contava. Do moço também não se soube mais, nem se envelhecido havia. E findou-se.
domingo, 13 de maio de 2012
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