Dentro de mim não mora um anjo.
Arde um fogo que incendeia meu coração.
E que eu exalo pelos poros do meu corpo.
Sangue quente e vermelho, brilhante.
Habitam em mim as paixões do mundo inteiro.
Neste pequeno e frágil habitat estão presentes as dores.
A vida que é pouca e que ainda resta.
Meus olhos são espelhos de tudo que há em mim.
Dentro de mim, talvez, também more um anjo.
Eros.
Pequenas asas brancas que alcançam alturas inimagináveis.
Há, sim, em mim o que há em todos os outros seres terrenos.
Pele, ossos, músculos e ânima.
Não, não sou ser etéreo e fantasmagórico.
Sou pó, de onde vi, para onde irei.
Terra.
Abro a boca para engolir o que ontem cuspi.
Busco retomar tudo que expurguei há tempos passados.
Eu vivo. É isso.
E tudo cessa, e isso me basta.
Vãos delírios de tardes quentes e simplórias.
Eu existo. Eu estou. Eu sou.
Presente. Balanço.
Gritos que ultrapassam as barreiras do som.
Sobem aos céus distantes.
Um, dois, três, sete.
Já não me pertencem e alegro-me porque eu não os quero presos em mim.
E cá estou.
Apenas tentando dar vazão aos meus desejos e instintos carnais animalescos.
Com urros de prazer e dor.
Adieu.