Na verdade eu sempre soube.
Desde muito cedo tive a plena certeza.
Dessas que são raras ao longo da vida.
Logo entendi o que estava trilhado.
Aceitei a tal certeza pois sabia que assim seria.
E assim tem sido.
A certeza se mostrou cada dia mais clara, mais óbvia.
O que fiz, o que faço durante o caminho é simples:
Engano-me.
Finjo não saber o que sei.
Faço de conta que a revelação nunca existiu.
Cedo ao mais baixo dos sentimentos humanos: esperanço!
É uma fraqueza, eu sei.
Mas ainda não consegui superá-la.
Eu me atropelo todo e fico cegado pelo engano.
Acreditando que é possível, que agora vai vingar, que desta vez vai dar certo.
E de repente, como num passe de mágica, num átimo de segundo, num piscas de olhos, no rápido bater de asas de um beija-flor, tudo desmorona.
E a certeza se plasma à minha frente.
Como a rir de minha imbecilidade, mais uma vez.
E sua gargalhada me fere os ouvidos.
A certeza crava suas unhas no meu peito, me sacode e repete: - Acorda! Não te enganes. Tu não tens esse direito. Tu não terás, tu não viverás o amor. Não sonhes! Teu destino é a solidão. O quarto escuro e úmido que te enlouquecerá com seu eterno silêncio.
E silente eu sigo rumo ao meu destino.
Ou até o próximo tropeço no engano.