diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Caminho à morte

 Sinto-me cada dia mais perto.
Aproxima-se o dia.
Vejo tudo à distância.
A voz que amei.
Vozes que se perderam com o tempo.
Cheiros que já se confudem nas minhas narinas.
Imagens que passam, cada vez mais velozes.
A fúria da vida já desvaneceu.
Dissiparam-se todas as mágoas.
Esquecidos todos o momentos ruins.
Ficaram apenas o amor.
Aquele que nunca chegou.
Meu coração guardou tudo.
Tanto que não coube durante a passagem.
Rebentou, como mar revolto.
Mas tudo isso já não tem mais sentido.
O rumo só teve um sentido:
Em frente.
Voltar nunca.
Regressar jamais.
Seguir, a diante, sem temer.
Tropeçando às vezes.
Respirando fundo e caminhando.
A vida exigiu pressa.
Pressa para me levar ao destino eterno.
A próxima parada é desconhecida.
Ou será desde sempre conhecida?
Sei, sabemos, todos sabem onde essa estrada vai dar.
E não sei como agirei diante dela.
Ela que é por muitos temida, indesejada, inesperada.
Caminho certo, impassível, ereto e consciente.
Vou abraçá-la sem medo.
Sem ânsia de saber o que virá depois.
Há depois?
Pouco importa.
Vou.