Os amores mais lembrados são sempre os irrealizados.
Parece-me que a memória só quer guardar sofrimentos.
Sangram eternamente as feridas.
Estive posto à mesa como animal abatido em caça.
Abriram-me o peito e expuseram minhas entranhas.
E o que viram?
Apenas o meu coração.
Nada mais havia dentro de meu corpo.
Fizeram um banquete com minha carne.
Lambusaram-se com meu sangue.
E partiram.
A cada novo jantar pouco sobrava.
Dos restos reerguia-me.
Tentando estancar o sangue das chagas.
E recém elas saravam novamente era caçado.
Abatido devorado e consumido pelo amor.
Amor que nunca foi completo.
Nunca se deu inteiro e realizado como eu.
Apenas servi.
Cegamente servi ao amor.
Aos amores.
Aos passantes.
Aos que fingiam, mentiam, diziam palavras falsas.
Mas não me arrependo.
Não olho para trás com mágoa.
Aprendi que o tempo leva para longe tudo.
E todos.