Seu maior medo era ser enterrado como indigente.
Pedia a todos os conhecidos:
- Se eu morrer antes não me dêem um enterro de cachorro! Volto pra puxar o pé!
Morria de medo da morte.
Porém, não largava a boemia.
Um dia, voltando de uma noitade, sentou-se na praça.
E ali mesmo ficou.
Morto.
Os amigos o levaram para casa.
Entregaram-no à família.
Que tratou de tudo como o desejo do finado.
Qando começou o velório lá estava:
O corpo estendido.
As mãos unidas,
Sobre o peito repousam.
Os olhos sem brilho, fechados.
A face levemente arroxeada.
O semblante sereno.
Vestia seu paletó mais bem talhado.
Os cabelos estavam como de costume.
Penteados para trás.
Um terço de madrepérola ornava-lhe as mãos.
Outrora tão quentes e macias.
Agora frias, entrelaçadas.
Os sapatos de verniz, meias de seda marrons.
Os cravos-de-defunto arrematavam aquela fotografia.
A almofadinha de cetim roxo acomodava a cabeça.
Um fino véu lhe servia de coberta.
A madeira era de melhor qualidade.
Os puxadores de bronze.
Nos quatro círios de prata ardiam velas enormes.
As coroas de flores eram inúmeras.
"Ao Grande Homem Fulano de Tal", "Saudades Eternas"
Tanto esmero, para tudo ir pra baixo da terra.
Um buraco fundo e escuro.
Onde todo luxo é indiferente.
Mas, ele assim, queria.
E assim foi feito.
Para que não viesse puxar o pé de ninguém.
Um comentário:
Err... não sei se foi a intenção, mas eu ri. Muito bom esse texto :)
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