diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa
domingo, 8 de julho de 2012
A Donzela dos Cavaleiros de Além.
Não era dessas mocinhas que se vê em filmes de época, não.
Não ouvia novela em rádio. Não escrevia num diário, não tinha coleção de papel de cartas. Não sabia costurar, cozinhar muito menos, nem pregava botão.
Era ligada em todas as novidades tecnológicas.
Mantinha um blog. Escrevia contos, de amor. De ódio também.
Postava fotos diretamente do seu ultramoderno celular.
Vestia-se bem, descolada.
Mas o seu coração era do século XVIII.
Sonhava com amores de príncipes.
Na janela do seu navegador esperava o homem da sua vida lhe mandar uma mensagem.
Esperava ansiosamente por um torpedo do amado.
No aplicativo do celular caçava aquele que lhe completaria a vida.
Suas relações não se resumiam ao mundo virtual.
Mas aquela aura de ilusão permeava todos os seus lances.
De um simples "Oi" entendia um "Eu te amo" ou "Quero viver um romance com você".
Projetava sentimentos e relações vindouras.
Iludia-se.
Os cavaleiros que queria eram seres idealizados e viviam longe.
Tentava, em noites dionisíacas, encontrar o seu Apolo.
Tudo não passava de uma fuga. Queria extravasar um sentimento que era muito maior que o sexo carnal.
Queria um encontro de alma. Um amor. Romance antigo. Namoro de portão. Precisava.
Havia dentro dela uma imensa solidão que precisa ser preenchida.
E o tal amor não chegava.
Seus casinhos não passavam de um primeiro encontro. Um cinema. Um sushi. E por aí acabava. Mas suas projeções iam além.
O engraçado é que não sofria muito. Dois dias no máximo.
Depois tudo era página virada.
E mais uma vez recomeçaria todo o ciclo.
Não se cansava.
Queria alcançar o seu objetivo.
Encontraria, sim, aqueles braços que lhe envolveriam eternamente. Aqueles beijos que lhe fariam feliz por toda vida. O seu amor.
domingo, 1 de julho de 2012
Ir.
Eu tenho medo do que o tempo fará de mim.
O que eu farei com o tempo.
Que me resta.
O implacável senhor de nós nos domina.
Nós o dominamos?
Retardar o quê?
Rumar para o único lugar onde iremos chegar.
O destino comum de todo ser.
Trilhar o caminho.
Em frente, sem mirar o antes.
O instante passado, passado é.
E o futuro que virá quem poderá dizer?
Apenas viver.
O tempo fará de mim o que eu quiser.
Talvez, apenas o que ele puder fazer.
Isso me atemoriza.
Mas o passo segue firme.
Num chão, nem sempre, tão forte e livre.
O caminho é o que importa.
O destino já nos é conhecido.
E pouco me assusta.
Antes, me aterroriza, a forma como lá chegarei.
Sigo. Apenas. E só.
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