diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Sonho (ardente) de uma noite (quente) de verão


A F.L., mas que mais parece chamar-se P.


Há muito tempo eu não escrevo à mão.
E você me inspirou a retomar a escrita no papel.
Eu viro a cabeça e cheiro meu ombro, teu cheiro ainda está em mim.
Tua cabeça ainda pesa sobre o meu peito.
E posso sentir nossas pernas entrelaçadas.
Nosso corpos nus esparramados numa cama grande.
Nossos prazeres ressoando nas paredes e um quarto quente.
É verão. E a noite foi alegre. Como as noites de verão numa cidade litorânea do Nordeste do país.
E eu te abracei, você me beijou, nossos pés arriscaram passos e uma dança desajeitada.
Teu corpo suado exalava um aroma bom e que eu gostaria de sentir por toda eternidade. Mas...
Amanheceu. 
Eu refiz o caminho de volta pra casa.
Teu sorriso matinal e o primeiro beijo de bom dia com gosto de menta ardia em meus lábios.
No meu quarto, também quente, de uma tarde, deitei-me em minha estreita cama, agarrado a um livro que havia semanas eu tentava terminar de ler. Consegui.
Foi duro dar o último suspiro junto à personagem retratada, era Joana, mas podia ser G.H., poderia ser também Laura, a galinha, não.
Era a escritora que morreu de câncer.
Envolta em sua aura de mistério.
Mas quando o vento, o pouco do vento que soprava, entrou pela janela, meu corpo exalou o teu cheiro. O cheiro a nossa noite, quente, feliz, de orgasmos.
E teu olhos apareceram para mim.
Como uma visagem, como uma miragem de um oásis no deserto do meu coração.
E eu sorri. Um sorriso tímio, confesso.
Pois, em mim ainda pulsava a esperança de um último reencontro antes que partas para tuas terras estrangeiras.
Que, enquanto escrevo, não sei se acontecerá.
Ponto final.

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