diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Quando dormem os homens?

Todos os dias.
Os dias todos.
Cada vez um novo vinco.
Uma nova nervura.
Cada vez menos brilho e viço.
Quando me vejo.
Já não me reconheço.
Onde?
Que espelho refletirá o que há?
E não o que aparento.
Cada dia.
Todos os dias.
Quantos dias ainda restam?
A estrada já se anuncia seca.
Será o fim?
Ou o retorno?
Tudo se acaba como começou.
E o findo será infinito.
Eterno retorno que sempre se mostrará diferente.
Não é mais e é ao mesmo tempo.
Todos os dias, o ciclo.
O sol.
E cada dia menos chão.
A terra.
E sempre e só e vazio e criminoso.
A ponta que aponta na direção de lá.
Quando?
Em que face eu me verei?
Quantas faces eu terei ao chegar?
Já nem sei mais.
Eu vou.
Perdendo, ganhando, ora sou herege ora santo.
Sou carne e alma.
Body and soul.
E já serei pó.
Silêncio de pássaros de bicos fortes.
E quando?
Um dia me bastará.
E de repente já não serei ajuntamento de sangue, músculos, ossos, derme e líquidos.
Em minha incompletude completarei o a trilha de tudo que há para ser vivido.
E tudo, então, terá valido a pena.
Numa tarde ou numa manhã, quem sabe numa noite, já não habitarei.


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