diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

sábado, 3 de março de 2018

Vive-se de amor.

Se um dia me perguntarem qual o cheiro do amor, eu direi que cheira a jasmim.
Quando florido exala seu perfume nas tardes de fim de verão.
Anunciando que o sol dará lugar ao céu cheio de nuvens.
Grossas nuvens que vêm assumir seu lugar na abóboda.
O amor é assim.
Antes raios vibrantes de um sol que aquece o coração.
Depois é silêncio e chuva.
Lembro de tudo. Não esqueço todos os momentos.
Eis o mal de se ter uma boa memória.
Hoje só perguntas ecoam em mim.
E eu estou pensando em você.
Mas eu não desejo falar de amor.
Se falo é porque só sei viver de amor.
Como numa monótona música.
Eu só sei viver para o amor.
E onde está?
Um dia eu sonhei. E o sonho me permitiu inúmeras realizações de desejos.
O que a realidade me coibiu o sonho me deu.
Quando pensei que tudo era verdadeiramente realizado, acordei.
E os sonhos se desfizeram na bruma do tempo.
Estou farto de só sentir.
Eu prefiro viver.
Mas a vida não me presenteou com a realização dos desejos mais profundos que acalentei por toda vida.
Entre todos os caminhos que a vida me ofertou eu sempre optei pelos mais longos.
Um esperança de no fim encontrar.
Não sabia bem o que buscava.
Apenas buscava.
E um dia dei por mim e vi que tudo o que eu buscava era tão somente me encontrar.
Precisei andar muitas distâncias para enfim poder entender.
E sentei-me à beira do caminho, vendo passar outros errantes, que como outrora eu fizera, andavam perdidos nas trilhas que não levavam a lugar nenhum.
Um eterno e infindável labirinto que não nos permitia derrubar suas paredes e correr.
Correr loucamente nos campos do mundo.
Quando sofri, sofri calado. Resignei-me sempre. Sem questionar o sentido de tudo.
Nada faz muito sentido na vida, essa é a verdade.
E todos as peças vão se encaixar no fim.
Quando menos esperamos todas partes serão encadeadas, numa sequência cinematográfica tudo percorrerá na nossa frente.
E é a hora dos créditos finais.
As luzes se acendem e a audiência vai tomar um sorvete, vai a um bar, vai simplesmente dormir e já não estamos aqui.
E tudo há de ter fim. E tudo tem, sim, seu fim.
O peito é estufado ao máximo, os pulmões quase não comportam tanto ar.
Inflados, voamos. Como um pequeno balãozinho cheio de hélio subimos, subimos, subimos até nos perdemos das vistas.

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