diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

domingo, 20 de julho de 2008

Devaneio.

Faz tempo não escrevo.
Não me sentia apto à tal.
Hoje me deu vontade, necessidade, desejo, fome de comer laudas e mais laudas de um papel virtual.
E aqui estou de caneta invísível em punho, escrevendo despudoradamente como eu amo. Ouvindo uma voz cantar aos meus ouvidos, sons já de há muito conhecidos.
E eu não me estabeleço em lugar nenhum, eu habito no universo paralelo criado pelos autistas.
E continuo livre.
Eu sonhei com morte, porém não chorei.
Há tempos que também não choro, e nem tampouco me sinto à vontade para fazê-lo.
Eu tive coragem e dei a cara à tapa, apanhei muito, e não me arrependo nem um pouco.
Nem pretendo me arrepender.
Quero viver assim, correndo, pulsando como meu coração insano que palpita no peito.
Uma anti-forma de vida.
Um fado sambado, um frevo abolerado.
Uma multidão perdida no deserto.
Um oásis na avenida.
Trilhos aéreos, ruas marítimas.
Marulho, barulho, silêncio.
Eu absurdo, obsoleto, audacioso.
Clemente e temente, não demente.
Vivente. Tratados desfeitos. Acertos errados.
E a voz me entoa cantigas antigas nos ouvidos, que não estão cansados de ouvi-las.
Quero e não posso, deixar de te amar.
Posto que é imortal. Visto que não é infinito.
Que não dure o tempo necessário, ou melhor que não dure tempo nenhum.
Eu quero morrer.
Mas chorei a morte dos 101 anos de vida louca. Desci.
Crepita árvore vocal da mulher de nariz adunco.
Violinos enchiam o ar de emoções.
Eu sonhei, um dia, em ser músico, mas a matemática não me entra na cabeça.
Virei artista. Atormentado, atormentador.
Vivi vidas alheias e nunca a minha.
Queria que eu fosse psicólogo.
Acho que até hoje acreditam que eu o sou.
Mas. Sem mais delongas.
Com mais alongamentos.
Crescendo, alargando, como vias públicas.
A Nossa Senhora das Cantoras Brasileiras, quem é?
Jornal. Morte. O que são as palavras?
Aglutinamento de letras.
Mas assim são, aleatoriamente ou não?
Eu não sei mais de nada.
Eu que queria saber de tudo.
Mudar tudo. Viver tudo. Ser amado.
Não sei, não mudei nada, nem ninguém, não vivi nada, nem muito menos fui amado.
Só amei, ah, isso isso. Aí eu caprichei.
E me arrebentei, me estabaquei, caí, quebrei a cara, as mãos, os braços, as pernas, foi uma legítima carnificina.
Meus punhos doem.
De tanto escrever, meus olhos pesam na face, pálida, triste e velha.
Meu cerébro não quer mais pensar.
E eu paro por aqui, esse escrito.
Esse verdadeiro devaneio. Que talvez nunca exista.

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