Quando chegou, ainda menina, pisando levemente, despudoradamente.
Cantou, queimou como árvore seca, as agruras de um sertão longinquo.
O tempo foi tornando-a mulher.
Dramática dona de cena, uma cena muda.
Voou alto, como um pássaro proibido, num vôo da manhã.
É uma pedra rara, um talismã.
Guarda na sua tez morena as histórias de sua terra.
Os sambas-de-roda, riscados nos pratos de louça.
Disse Pessoa, como jamais ouvimos antes.
Sonhava em ser Adela.
Pulou de vários trampolins durante a vida.
Hoje, uma senhora, tão diferente e igual àquela menina.
A menina que ainda reside no seu interior.
A criança que se chama instinto criador.
É assim, tão simples, tão soberana, tão rainha.
Dissonante voz feminina.
Ave de rapina, abelha de doce mel.
O tempo marcou tua face com graves sulcos.
Teus cabelos muito mais longos que antes perdem a cor.
Teu semblante é muito mais sereno que outrora.
A voz, a cada dia mais macia.
Curtida como vinho antigo.
Tua estrela reluz sobre nós.
Esse brilho jamais se apagará.
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