diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Voo livre.

Voar livre e alto.
Pedaços de alegria que aprendi a sentir.
Rastros de felicidade que eu não sabia que existiam.
E me foi ensinado a observar o mundo de outro ponto.
Montei um quebra-cabeças com momentos mínimos.
Fiz uma colagem de sentimentos que eram dispersos.
Apenas uma questão de sentir diferente.
Olhar tudo com outros olhos.
Enxergar cor onde antes só via escuridão.
Ser livre, leve.
Alçar voos cada vez mais altos e longos.
Voar... Voar...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Grito!

Vai grito sem fim, me rasga a garganta e te espalha pelo mundo. Uma dose virulenta de dor no mundo já tão cheio de dor. Fere-me as entranhas, faz-me cuspir sangue ou fogo. Vai, me deixa. Vai pensamento pesado, eu prefiro a leveza dos campos limpos sem ideias. Eu quero não sentir. Eu preciso explodir. Expurgar tudo que me consome sistemática e diariamente. Vira-me pelo avesso, expõe todo meu corpo, minhas carnes fracas. Arranca-me o coração a cru. Decepa-me os membros, fura-me os olhos, para que eu não veja mais a dor, a imensa e obscura dor que me aperta o coração. Eu quero ser pedra. Papel, voar leve. Subir, alçar voos longínquos. Perder-me no espaço, alto e claro. Virar algo que não sinta. Pedra. Tropeços, nos outros provocar. Sai, grito faminto de ar. Deixar tudo que está preso ser liberto. Vai, vagão vazio de trem enferrujado, correndo solto pelos trilhos. Pomba malhada arrulhando nas tardes de verão. Eu quero não combinar nenhum pensamento. Apenas viver. Aprender. Jogar. Azar. Vômito viscoso e azedo, bile esverdeada cuspida longe, pela janela do décimo quarto andar do prédio. Esparramado no chão. Colado ao solo. Adentrando o solo. Vai, meu grito, eco vazio do meu ser. Espelho do meu interior, neste instante. Corrói os ouvidos de quem te ouvir. Come a felicidade alheia. Seja muito egoísta. Assim como eu sou, fui, serei, ontem, hoje, sempre, agora ou nunca. Em mim, em ti, passado quase se apagando no presente e inexistente no futuro. Futuro que nem sei se chegará. Ave de rapina, bico curvado, assassina. Voa, voa, cai. Fruto podre da árvore da vida. Meu espírito encarnado no vento. Grito, alto, contraio minhas costelas contra meus pulmões, até que elas os perfurem. E eu cuspa todo o sangue. Como os românticos. Morrer do mal do amor. Vai, pássaro ardente. Vai, meu grito, tão longe e tão alto quanto meus pensamentos. Que eu já não saio do chão. Agarrado a minha morada final. Amém.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Vielas

Caminho por entre ruas mortas.
Becos silenciosos.
Vejo nos sobrados antigos janelas iluminadas.
Cortinas puídas.
Gordas mulheres sustentam seus farto seios nos parapeitos.
Observam, caladas, as vidas.
Suas vidas se resumem a isso.
Tomar conta do movimento.
Hoje muito fraco e escasso.
Dantes estas ruas latejavam de vida.
Agora são velhos casarões o estreitos e compridos dilacerados.
Telhados desfeitos.
Ruínas.
Os postes enferrujados...
A luz vacilante...
Eu passo.
Sem me dar conta de que um dia estarei assim.
Como aquelas ruas.
Silencioso e morto.