Era um sábado. Despretensiosamente eu me reencontraria com
uma das grandes vozes da minha vida, da música brasileira, do canto do mundo.
Eu fui, quase sendo levado. Lembrava daqueles minutos presos à frente do
computador, numa sala praticamente desmobiliada, numa noite fria em São Paulo,
quando ouvimos pela primeira vez o disco. Um viva à tecnologia! Ouvíamos em
primeira mão. Éramos dois jovens, naquela solidão paulistana, como aquele grupo
de baianos jovens que aportaram naquelas terras na longínqua década de 1960. E
ouviam seus vinis. Nós ouvíamos MP3. Mas a tensão e a expectativa eram as
mesmas. Ouvimos de uma tirada só. 11 faixas. Um disco curto. As primeiras
impressões foram de estranhamento. Era novo. Quebrava parâmetros como a música
que eles mesmos inventaram anos atrás. Disco comprado logo em seguida, ouvido
diversas vezes, até que aqueles sons que pareciam dissonantes tornavam-se
familiares. Disco guardado. Expectativa para o show. Ingresso comprado, show
adiado. Medo, tensão. Chegou o dia. Aquela companhia da primeira audição
estaria comigo no show. Alegria. E lá estávamos, a caminho do tão esperado
reencontro. No carro ouvíamos o disco. E chegamos. Amigos, conversas. Segundo sinal.
Sentei-me, as pernas já não pareciam me pertencer. Toda minha descontração se
fora. Minhas mãos tremiam como da primeira vez. Meus olhos aguardavam
ansiosamente por rever aquela figura tão querida. Abrem-se as cortinas, as
primeira notas. A VOZ. O sorriso, que parecia ser para mim, direto.
Desarmei-me. Embarquei. Emocionei-me, como tantas vezes. Era o meu reencontro
acontecendo, só ela e eu. O mundo parado ao redor. O seu canto, já é um “Recanto”,
é novo e é o mesmo. O tempo passou. Tudo mudou, mas a voz, a voz é eterna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário