diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Malditas mãos

Passos e pés.
Caminhos que me levam onde eu não sei.
Enquanto seus pés estão fincados naquele mesmo lugar.
Eu vestia branco, era noite.
Nossos olhos se cruzaram.
E verdades eu vomitei, sem medo.
Saltar sem redes, meu exercício preferido na vida.
A sensação de nada esperar e esperar tudo ao mesmo tempo.
Mãos que se entrelaçaram até o momento do adeus.
O adeus que ficou sempre escamoteado ante a vontade das mãos de permanecerem juntas.
Mas o fim chegou. A partida inevitável, o adeus no cais, sem direito a lenços brancos acenados.
Apenas o silêncio. As noites tão frias de junho.
O vento que abraça meu corpo.
E eu sabia que teu corpo já estava sendo abraçado por outras mãos que não se levantariam para o adeus.
Acariciariam as partes de ti que outrora cabiam às minhas mãos acariciarem.
E minhas mãos, hoje frias, ainda sentiam teu corpo.
O teu cheiro ainda entrava por minhas narinas e colocava-me num torpor nostálgico.
E eu lembrava-me daquele momento: o Adeus.
Aquele instante de vida que eu queria não ter vivido.
O aceno que eu não queria ter dado.
Um último beijo que ainda trago na boca agora amarga.
Os olhos cinzentos e sem brilho que hoje tenho olham a vida sem grandes esperanças de novos amores.
Quero curar-me de ti, esquecer-me de teus olhos, teu cheiro, teu corpo, tua boca, de tuas mãos...
As mãos são as grandes culpadas da minha tristeza.
Malditas!
Antes eu as tivesse cortado fora para que não se levantam-se naquele aceno que decretou o fim de nós.

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