diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

sábado, 12 de outubro de 2013

Pedido

A minha fraqueza é a mão que não se mexe para escrever-te.
Minha dor é não ter-te junto a mim.
Envolto em outros braços teu frágil corpo que um dia me pertenceu.
Minha solidão é um escuro que me engole como o buraco negro cósmico engole estrelas.
Não que eu seja estrela, meu brilho e viço já há muito perderam-se nas estradas secas.
O caminho atrás é poeira e lembranças quase apagadas da velha memória.
As lágrimas secaram antes de o chão tocar.
Não criei um rio, não escrevi um livro.
Eu apenas amei.
Amo, já nem sei mais.
O meu silêncio, a tua ausência que me estoura as veias, onde corre o meu fraco e anêmico sangue.
Já não quero continuar.
Cansei.
Desisto de tudo.
Eu não aguento mais.
Os pés estão abertos em chagas que queimam.
Fostes tu. Ou melhor, foi a tua não presença.
O teu afastamento tão de súbito.
E eu que quedei-me por estes recantos escuros do vazio da vida dos sem amor.
Nos escombros dos castelos de areia que construí em meus sonhos.
Meros devaneios de uma vida pela frente.
O breque foi inevitável.
O freio que me agarrou pelos dentes, como arreio do alazão.
E me fez estancar neste lugar.
Tu seguistes, galopante em teu pégaso.
Eu cá, destronado do posto que um dia ocupei junto ao teu coração de gelo.
Medo eu nunca tive, bem sabes.
As cartas que não te enviei, nem sequer escrevi-as.
Mas sei todas de cor, guardo-as ditadas a mim mesmo no silêncio do meu quarto.
A coragem de dizer-te hoje que ainda te espero já não tenho.
Esmurrar uma faca para quê?
Fazer sangrar os dedos que outrora te acariciaram a face?
Não.
Sofrer, já o faço por toda a vida.
Cruzando-nos outra vez, peço-te, mira ao lado oposto, não te aproximes.
Pois sou fraco.
E sei que não resistirei. Meu coração não aguenta.
Palpita dentro do peito, galopa em disparada carreira.
E o teu não.
Deixa-me. Resignado com o meu destino.
Trôpego nos caminhos que ainda me restam.
Errarei nas veredas que se abrirem a minha frente.
E só.
Peço-te.

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