diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Promessas

Você jurou que não iria me fazer mal.
E agora o que eu faço com os restos de mim?
Minha alma despedaçada.
As lágrimas que chorei nas noites frias em que remexia-me na cama, sozinho.
Suas promessas foram vãs.
E você me fez mais triste.
Desacreditado de tudo.
Vendo um mundo sombrio e cinzento, como paisagens londrinas.
Suas juras secretas foram levadas pelo vento.
E suas palavras não se firmaram, não eram verdadeiras.
Levianas.
Promessas, promessas nunca cumpridas.
Seu amor, por mim tão desejado, foi-se.
Apenas em mim ficou a saudade.
O último pilar que ainda me sustenta de pé.
E eu me pergunto o que me acontecerá quando a saudade passar?

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Cartas da saudade...

Hoje eu tive vontade de escrever cartas.
Cartas de saudade.
Aos amigos que há muito não vejo.
Que o tempo distanciou, me tirou do convívio.
A vontade chegou às pontas dos dedos.
Escrever cartas é coisa esquecida.
Já não se usa.
Mas eu ainda sinto vontade.
E escrevo-as.
Falo das minhas saudades.
Compartilho com os queridos as minhas alegrias e tristezas.
Que não pude dividir presencialmente com eles.
Amigos, saudades, cartas, papel e palavras.
Paixões já esquecidas, amores já cicatrizados.
É vontade de me escancarar na folha em branco.
Abrir meu coração, minha alma.
Dizer da falta que sinto.
A saudade que me toma.
E que faz meus olhos marejarem.
Saudade.

sábado, 12 de outubro de 2013

Pedido

A minha fraqueza é a mão que não se mexe para escrever-te.
Minha dor é não ter-te junto a mim.
Envolto em outros braços teu frágil corpo que um dia me pertenceu.
Minha solidão é um escuro que me engole como o buraco negro cósmico engole estrelas.
Não que eu seja estrela, meu brilho e viço já há muito perderam-se nas estradas secas.
O caminho atrás é poeira e lembranças quase apagadas da velha memória.
As lágrimas secaram antes de o chão tocar.
Não criei um rio, não escrevi um livro.
Eu apenas amei.
Amo, já nem sei mais.
O meu silêncio, a tua ausência que me estoura as veias, onde corre o meu fraco e anêmico sangue.
Já não quero continuar.
Cansei.
Desisto de tudo.
Eu não aguento mais.
Os pés estão abertos em chagas que queimam.
Fostes tu. Ou melhor, foi a tua não presença.
O teu afastamento tão de súbito.
E eu que quedei-me por estes recantos escuros do vazio da vida dos sem amor.
Nos escombros dos castelos de areia que construí em meus sonhos.
Meros devaneios de uma vida pela frente.
O breque foi inevitável.
O freio que me agarrou pelos dentes, como arreio do alazão.
E me fez estancar neste lugar.
Tu seguistes, galopante em teu pégaso.
Eu cá, destronado do posto que um dia ocupei junto ao teu coração de gelo.
Medo eu nunca tive, bem sabes.
As cartas que não te enviei, nem sequer escrevi-as.
Mas sei todas de cor, guardo-as ditadas a mim mesmo no silêncio do meu quarto.
A coragem de dizer-te hoje que ainda te espero já não tenho.
Esmurrar uma faca para quê?
Fazer sangrar os dedos que outrora te acariciaram a face?
Não.
Sofrer, já o faço por toda a vida.
Cruzando-nos outra vez, peço-te, mira ao lado oposto, não te aproximes.
Pois sou fraco.
E sei que não resistirei. Meu coração não aguenta.
Palpita dentro do peito, galopa em disparada carreira.
E o teu não.
Deixa-me. Resignado com o meu destino.
Trôpego nos caminhos que ainda me restam.
Errarei nas veredas que se abrirem a minha frente.
E só.
Peço-te.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Solidão

Tenho uma companhia que está sempre ao meu lado.
Há dias em que ela se afasta, pouco.
Mas há dias em que ela me encosta à parede.
Aperta-me contra o reboco frio.
Põe sua mão gélida sobre o meu peito numa tentativa de me resfriar o coração.
Quase petrifica-o.
A minha respiração é quase nula.
E minha companheira me domina.
Silenciado revejo todo os caminhos, como um filme que projeta-se naquela parede fria.
Lágrimas salgadas correm dos olhos e caem no chão.
Sobre o qual estão meus pés, mesmo que eu não os sinta mais.
É um vazio.
Meu corpo sem suas entranhas.
Apenas o coração, resistente, fraco, que ainda palpita, agarrando-se às últimas lembranças.
De repente tudo se desfaz.
A respiração retoma seu ritmo compassado.
O filme tem suas imagens esmaecidas.
E minha companheira descansa.
Fraca, vai preparar-se para o seu próximo ataque.
Que é sempre inesperado.
Até breve, amiga.