diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Aniversário

Qual o sentido de completar anos?
Ter tantos janeiros?
Primaveras...
Antes envelhecer que morrer.
Quando menino que gostava de festas.
Depois o tempo passou.
O meu gosto também.
Hoje prefiro parar, e refletir.
Eu pensava que nunca chegaria aqui.
E cá estou.
Como há séculos, parado.
E nada mudou.
Apenas eu, que passei.
Como o tempo.
Que mudei com ele.
E tenho hoje muito mais que naqueles tempos.
Olhos mais treinados.
Mãos nem tão firmes.
Voz impavida.
Aplausos para um fim que está longe.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Cheiro de Amor

A vida lateja nas minhas veias.
Tenho vontade de sorrir eternamente.
Os meus poros transmitem alegria.
Tenho o cheiro do amor.
Todos os dias me esperanço mais.
Meus olhos brilham.
As mãos gelam.
A voz treme.
Saio de mim.
Corro em direção ao amor.
Sinto a vibração do sentimento.
Tenho vontade de gritar.
Bradar aos ventos o meu amor.
Não tenho medo do ridículo.
Afinal, se amar é besta.
Mil vezes besta seja eu.
Hoje, ontem e sempre, sempre...

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Para ela.

Jeito de menina.
Menina levada.
Faceira.
Morena que encanta.
Perfume de mulher.
Altiva dona de si.
Voz potente, simples.
Sereia que vive na terra.
Doce sentimento.
Sorriso que prende.
Olhos negros iluminados.
Mãos que afagam diferente.
Lábios que ninam.
Palhaça que espanta a tristeza.
Amor que eu quero pra mim.
Sempre, e tanto como o ar.
Paixão terna.

Quem é ela?
Uma coisa inventada?
Ela há. Está aqui.
Vive ao meu lado.
Quero estar perto, todo os dias.
Sinto falta de sua voz macia.
De seus sorrisos alegres.
Suas mãos nas minhas.
Seu corpo junto ao meu.
Respirações iguais, ofegantes.
Disparo do meu coração.
Ao simples olhar seu.
Lembra-te sempre de mim.
Que sempre te amei, e amarei.
Jamais no silêncio.
Amo ao som de tua voz.
De minha voz, da música que fizemos juntos.
As notas que construímos quando éramos apenas.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Lição

Quando eu era menino aprendi:
A escrever com os dedos
E amar a vida inteira.
Não sei se segui à risca a lição.
Amei dois dedos...
E escrevi a vida inteira.
O que levei da vida?
Quase nada.
Imagens plasmadas transparentemente.
Futuros hologramas não formados.
Sentimentos ainda não sentidos.
Recordações esmaecidas na tela do amor.
Eu não sei bem como cheguei aqui.
Talvez caminhando por pedaços.
Se fizesse direto me cansaria no início.
Tentei outros caminhos, voltava sempre.
O destino meu traçado estava.
Simples e puramente escrito na minha cara.
Que voz me guiou durante a minha caminhada?
Que alentos eu tive em braços alheios?
Quanta vezes parei e não quis recomeçar?
Inúmeras.
Empurrões não faltaram.
Pés que me fizessem tropeçar e cair, também.
Mas eu consegui vencer mundos.
Distintos e infinitos.
E hoje estou aqui.
Escrevendo mais uma vez.
E amando cada vez menos...

domingo, 4 de novembro de 2007

Noite Rara, Clara.

Noites de ventos.
Tive medo.
Noites silenciosas.
Tive vontade chorar.
Noites mansas.
Tiva belos sonhos.
Noites quentes.
Sofri de amor.
Quantas noites já vivi?
Sei que dias foram poucos.
Não sou criatura diurna.
Noturno sempre.
Silente.
Clamando por noites.
Sempre a escuridão.
O enfado do sol passe longe.
Noite raras quero passar.
Luas esplêndidas e brilhantes.
A única luz que aceito.
Estrelas para comporem a cena.
Coadjuvantes do filme escuro.
Céu negro de noite.
Negrume do dia.
Praias desertas esperam a hora.
O mar espera receber o beijo da lua.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Trópico do Meu Ser

Todo ciclo tem seu ponto de retorno.
Com que cores pintei-me?
Que personagens interpretei?
Quantas regravações fiz?
De quem cerquei-me a vida inteira?
Penso não caber no mundo o peso de minhas palavras.
Que voz ouvi todo instante?
Que circos armei durante meu caminho?
Que rumos tomou minha vida?
Tantas perguntas...
Quase nenhuma resposta.
Vidas vivi.
Que vísceras usei para amar?
Os pés que chutei os amores.
As mãos que afagaram meus cabelos.
Sentimentos vadios.
Contundentes dores passadas.
Sob as luzes dos refletores tomei choques.
Ai, que tempos idos longes.
Vermelhos carmins eu usei.
Tropeços à parte, estou aqui.
Jamais mirei atrás.
Sempre avante seguindo.
Orgulhando-me das glórias do passado.
E por que as derrotas não?
Sim!
Tudo foi tijolo na construção que hoje se apresenta.
Tudo foi válido pra eu ser o que sou.
Quem sou?
Eu sou o abismo que há entre o que fui e o que serei.
Sou uma dissonante nota musical fora da pauta.
Uma personagem fora do papel.
Retiências, e não ponto final.
Abstrações mundias de tudo que resta quando não somos vivos.
Vento da contra-mão.
Que corações me encontrem.
Olhos que mer perseguem, prescrutando minha alma.
Bocas que murmuram meu destino.
Línguas que guardam minhas memórias.
Folhas em branco sendo pintadas.
Em cores fortes, tropicais.
Calor do vento norte.
Sul de meu ventre.
Tecidos se agitem como os coqueirais das praias.
Areias quentes.
Velas que nos levam longe, longe.
E tão perto de nada, que sempre há de existir.
E um pouco mais do que se possa imaginar.