diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Enquanto.

De que adiantou ladrilhar aquela rua?
Mesmo sendo minha, mesmo ficando bela.
Minha amada por aqui não passou.
Nem passará, nem será flor amarela.
Meu buquê de perfumadas rosas murchou.
Não consegui entregar.
Meu pombo-correio se extraviou.
Não chegou ao seu destino.
Minha saudade não bateu na tua porta.
Meu olhos não cruzaram com os teus.
Minha boca já não sabe mais teu nome.
Minhas mãos não conhecem teu corpo.
Eu não consigo deixar de te amar, mesmo assim.
Mesmo que sejas, hoje, para mim, uma figura desconhecida.
Um borrão na minha frente.
Mancha de tinta fosforecente.
Ah, quem me dera poder refazer teus traços.
Como pintor que dá vida à tela.
Que transforma uma superfície branca em cores.
Mas não adianta.
A minha vida passou, você passou em mim.
Você marcou meu corpo. Como uma funda tatuagem.
Que não me largará nunca.
Pregada a mim como uma eterna cicatriz.
Do corte brutal que tu fostes em mim.
E de canto em canto eu digo ao mundo.
O que foi, o que é e o que será meu amor por ti.

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