diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Tentativa de Conto...
Amanheceu sem saber quem era. Olhou-se no espelho e urrou de horror. Via uma mulher que dizia na noite anterior estar apaixonada por si. Quase enlouqueceu. Não sabia que estava diante de si mesma. Apenas imaginava que aquela mulher refletida na superfície prateada queria tomar-lhe o corpo, percorrer seus caminhos com ardente desejo. Seus gritos eram ocos, não saiam. Fazia força, gemia, suava e não conseguia emitir nenhum som. Desistiu do desespero. Parou. Olhou a face refletida no espelho, pensou que aquilo era como que um portal mágico, e que aquela figura alí contida poderia a qualquer instante pular para fora de lá e cravar-lhe as unhas no pescoço. Já que não permitia que aquela mulher desconhecida lhe tivesse desejo e paixão. Ardia no horror de ter que dividir o mesmo espaço com ela. Correu dentro do quarto, como uma bêbado em volta do próprio corpo, não estacou um segundo durante quase duas horas. Suava, as janelas estavam fechadas. Seu penhoar estava ensopado de suor. Seus poros expeliam um suor salgado. Cansou. Caiu no chão sem forças, quase inerte. Do fundo de suas quase extintas energias mirou novamente o espelho, e a figura ainda estava lá, estampada, como um cromo de coleção, uma figura de álbum. Quis dizer-lhe palavra, estava ainda muda. Apenas gestos espasmódicos. Seu rosto se defigurava. O da mulher do espelho estava impassível. Começou a golfar sangue. Acessos de tosse lhe tomaram os fraco corpo. Golfou mais um vez. E caiu morta. Da sua cama um corpo se ergue. Acordava, olhava o espelho e via-se, sabia agora quem era. Tudo não passara de um sonho. Correu, aprontou-se, e seguiu no lotação para o consultório de seu médico. Enquanto aguardava a entrada pensou novamente no sonho. Já no consultório teve a notícia, que tanto temia, estava tísica.
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