diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

domingo, 30 de dezembro de 2007

2007. Custou, mas eis que acaba.
E renovam-se as perspectivas para o próximo ano.
Fazendo uma retrospectiva do ano que termina, vemos uma grande movimentação nos primeiros seis meses. E um enorme marasmo nos seguintes.
O que levo de positivo do ano?
Uma maturidade maior, que já vem se desenvolvendo desde de 2006, tanto no meu ofício como na vida real.
Que apesar de doer algumas separações são necessárias.
Que não devemos guardar sempre a primeira impressão das pessoas.
Que os verdadeiros amores duram mesmo até à distância.
Que devemos estar sempre abertos a novas experiências em todos os campos da vida.
Que nem tudo que parece eterno o é realmente.
O ano teve muitos fatos bons.
Janeiro chega soprando ótimos ventos. Uma nova vida acadêmica, um sonho, o curso desejado, uma universidade federal. Uma conquista.
Fevereiro segue o mesmo sopro, trabalho – o primeiro profissional fora do ninho –, grandes companheiros de labuta, carnaval, o meu C-A-R-N-A-V-A-L, Bethânia e Gal em praça pública, além de Ney, Gil, Elba, Alceu, Maria Rita, Vanessa, Melodia, Fafá... Inesquecíveis momentos.
Março vem com muito trabalho, montagem de cenário, espetáculo, ensaios, sextas-feiras muito agradáveis, estréia. Novo show de Bethânia.
Abril vem com a temporada, muito mais trabalho. Realização profissional. Sentimento de pulsação. Show de Gal.
Maio vem com o início da universidade. Reencontros magníficos. E encontros novos e satisfatórios.
Junho segue com trabalho e estudo.
Julho vem com festival, viagens... Novo elenco. Novos ventos.
Agosto vem tranqüilo, sem grandes aperreios, com uma formação SOLTA, comendo-respirando-vivendo Nelson, novos projetos, perspectivas de trabalho.
Setembro, outubro... Sem grande movimento, muito trabalho, leituras.
Novembro. Fecha-se um ciclo, inicia-se outro, 20 anos. Festival, movimento.
Dezembro vem com idéias para o ano seguinte. Animado, festas, saídas. Pensamentos livres, renovação espiritual.
Em 2007 levantou-se uma quarta parede e ruiu muito mais rápido do que foi levantada. Mas Os Soltos chegam com força, garra, energia e gás. Abençoados por Dioniso, Nelson e Iansã, prometendo sucesso, sendo comentado antes de algo concreto. Almas solitárias que se uniram em favor de uma única causa: TEATRO. Assim nascemos.
As paixões existiram, porém perdendo força, sem muitas novidades, aconteceu o que se pode chamar de “repaixão”, ou apenas uma recaída. E toda queda requer que nos levantemos e sigamos. Queria não mais amar.
Como não amar é não viver, me deixem amando.
Sei que suprimi muitos fatos nesta retrospectiva. Ou nessa perspectiva para 2008.
Seria cansativo e insuportável escrever um texto contando um ano minuciosamente, seria assim um livro.
Passo aqui livremente pelo meu ano. Contando o que marcou. O que me recordo.
O que achei importante.
Que 2008, o ano 1 venha como um ano vermelho de renovação.
Que nos encha de trabalho e amor.
Não nos deixe de mentes vazias e desocupadas.
Que nossos palcos estejam sempre iluminados e nossas platéias cheias.
Merda a todos nós!
Amém a todos nós!
Êparrei a todos nós!
Que Iansã e Dioniso nos guiem neste e em todos os outros anos.



Pessoas Que Marcaram em 2007:

Dete, uma verdadeira mãe, um amor de pessoa.
Dulce, vivemos nos amando e odiando ao mesmo tempo. Dulcinéa de Toboso.
Emmanuel, uma grande exemplo de superação da dor e profissionalismo. Parabéns.
Helena, uma grande amiga pra todas as horas. Salve Hoffmann!
Nely, de ontem, hoje e sempre. Minha outra parte.
Paloma, um amor, figura inigualável.
Regina, um reencontro maduro e feliz. Toquemos nossos projetos.
Sofia, um “reencontro” de outra vida. Minha Bethânia/Vanessa personificada.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Ato de Amores.

Quem éramos nós?
Vagantes moribundos.
Orbitávamos no mundo.
Os ventos cênicos nos sopraram.
Unimo-nos. Formamos uma célula única.
Que, como bem sabemos, se divide, de reagrupa.
Somos parte de um mesmo organismo vivo.
E vivo estamos, hoje, depois de juntos água, terra, fogo e ar.
Elementos em amálgama.
Barcos que rumam ao horizonte.
Repleto de luzes brandas e palcos infinitos.
Atrás de cortinas rubras.
Tablados que nos comportem.
Felizes e Tristes aos mesmo tempo.
Tragicômicos. Gregos e Urbanos.
Montéquios e Capulletos.
Estados Unidos e União Soviética.
Judeus e Hitlerianos.
Dia e noite.
Simplesmente juntos.
De mãos dadas.
Caminhando na estrada dos tijolos amarelos.
O caminho das artes.
Fingindo, esse é o nosso ofício.
Mentir aos povos. Fazê-los crêr no que contamos.
Ou cantamos, ou apenas dizemos.
Dando vida à corpos inertes.
Fazendo as palavras grafadas há séculos pulsarem no papel.
Tomarem formas sonoras e chegarem aos ouvidos alheios.
Não nos cansemos. A jornada está só começando.
Juntos sigamos até o fim.
Quando de canudo nas mãos possamos mostrar ao mundo a que viemos.
Brincar de brincar de ser artista.
E sê-lo tão sério como nos convém.
Como deve e deverá ser sempre.
Simples e claros.
Atores.
E não só isso. Mas tudo que possa-se agregar ao termo.
Cênicos profissionais.
Mandantes da arte teatral.
Senhores absolutos dos afazeres.
Capacitados seres de artes.
Ato de amores.
Amadores dos Atos.
E sentir a ânsia costumeira ao abrir as cortinas.
E entrar dominando todas as platéias.
Até o momento do último suspiro das personagens.
Ao ouvir os merecidos aplausos.
Que toquem as batidas Molière.
Estaremos prontos.
Merda!

Quase Ultimatum.

O caos urbano me toma.
Os motores estão arrancando eternamente.
O calor infernal absorve meus líquidos.
Eu tento não entrar na paranóia da cidade.
Impossível. A sociedade neo-liberal capitalista no corrói.
Não faço apologias a uma nem outra forma de governo.
Sou apartidário. Nem direita, nem esquerda.
Sou livre. E como cidadão livre não admito qualquer regra.
Não permito que me rotulem. Sou absolutamente impune.
Quero fazer o que tiver vontade. Apenas viver.
Sem ter quer responder a nada, ninguém.
Transpassar a vida e não restar mais que cinzas.
No momento em que deixá-la.
Penso como os grandes criadores do mundo.
O filósofos da arte. Minha obrigação única no mundo é ser artista.
Viver de arte, comer, respirar, sonhar de, com, para arte.
Ser uma alma diferente dos simples mortais.
Não por ser superior. Apenas por ser artista.
Por estar mais perto das forças ocultas superiores.
Por não temer a morte. Por ser um ser de ação.
Não estar passivo aos desmandos dos mundos.
Vão para suas casas mandar nos seus subordinados.
Em mim niguém manda. Faço o que tenho que fazer.
Nada a mais. Nem tampouco a menos.


P.S.: À memória de Fernando (Genial) Pessoa e seus Eus.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Fim de Ano.

Os dias não passam. O ano não acaba!
Por que querer que o ano acabe? Se nada vai mudar.
Apenas passa-se um mês, não há uma drástica mudanças de comportamento, de tempo, de nada. Tudo permanece imutável. As minhas dores serão, sempre, as mesmas, quer queira ou não.
Vocês que me vêem assim normal não imaginam o que passa no meu interior. Minhas carnes tremem de ódio. O meu coração está dilacerado de dor. A minha alma está fria.
E eu continuo o mesmo.
O tempo virá aplacar minha dor.
Mas não apenas a mudança de um ano para outro. Um tempo muito maior.
Talvez séculos, talvez só em novas vidas que eu venha a viver eu consiga parar de me doer.
Talvez nunca minhas carnes cicatrizem.
Pois ao findar uma desilusão aparece outra.
E assim a vida segue.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Uma Manhã Não Dormida.

Sinto novas pulsações para escrever.
Prometo não me alongar tanto quanto antes.
Dormi mal aquela noite. Tive pesadelos horrendos.
Suei muito na cama. Saí dela e fui para o sofá, que por ser pequeno quebrou-me a coluna.
Não sei por que não consegui chegar ao terceiro estágio do sono, o profundo.
Meu corpo queimava no colchão.
Tive pensamentos tropicais. Praia, mar. E o tempo estava gélido, quase glacial. Meu papagaio gritou a noite inteira. Ajudando ao meu não conseguir dormir.
Tomei calmantes, barbitúricos, sedativos. Nada me apagou. Não consegui aforgar-me em mim mesmo.
Não sonhei quase nada. Pesadelos. O sol tostava-me pelas frestas das janelas. E o tempo esquentava. Não queria olhar o dia pela janela do quarto. Tinha medo de ver a cidade correndo sem parar.
As buzinas tomavam uma proporção absurda aos meus sensíveis ouvidos.
Minha cabeça parecia conter uma bomba-relógio, pronta a explodir a qualquer momento. Quando menos se esperasse. E o relógio corria como louco.
E nada de sono. Apenas uma leve sonolência. Que não conseguia me derrubar.
O orvalho da manhã banhava as plantas. Bah! Quanta baboseira poética.
Vão às favas com poesia. Cansei das letras.
Tudo que se escreve deve antes ser vivido. Não apenas grafado.
Bocas devem antes murmurar as aleatórias letras. Não as mãos escrevê-las.
E lá vou me estendendo além do desejado.
Por que tudo brota? Não sei a razão.
Apenas obedeço impulsos.
Como o coração nos põe vivos.
Inconscientemente.

Diário de Uma Madrugada.

Preciso escrever. São quatro horas da manhã.
Vejo a janela, a cidade toda acesa aos meus pés.
Tenho vontade de correr por entre os prédios. Talvez conseguisse.
Se meus pés me obedecessem. Não tenho controle sobre meu corpo.
Nem tão pouco sobre minhas mãos. Que digitam rapidamente.
Letras aleatórias que vão formando palavras que meus lábios não conseguem dizer.
Apenas graficamente representá-las no papel. Que papel? Se escrevo num computador.
Rendendo-me à tecnologia que afoga o mundo capitalista do século XXI.
Preciso escrever, cada vez mais, mais rápido, mais desordenamente.
Textos, peças, poemas, poesias, rabiscos. Tudo que contiver palavras.
Quero expressar todo o meu complexo ser. Complicado viver. Eternamente confusa mente.
Eternamente absorto no meu mundo interior. Não sei se autista. Ou artista. Eu apalermado.
Inconscientemente escritor. Conscientemente nada. Fragmento externo de uma célula interna.
Constituinte de uma geração alienada. Vertente diferente para mim busquei. Talvez superior.
Não sei! Talvez inferior. Também não o posso dizer. Apenas realizante para meu ser interior.
Inteiramente entregue ao difícil ofício de representar. Não só na dita vida real. Mas também nas vidas ilusórias as quais a profissão me permite. Sonhar hoje, dormir amanhã, ser o presente.
O momento existente entre o abrir e o fechar das vermelhas cortinas dos meus diversos palcos.
Luzes brandas ao fim, aplausos calorososo, mesmo que de um único assistente. Personalidades que me ensinam a como viver, e também como não se viver. Apenas estão lá mortas, esperando uma alma que as faça viver. Personas que visto como uma mão calça uma luva. Parcelas de vidas que adquiro e somo à minha vida. Vidas que trago arraigadas em mim.
São quase quatro e meia da manhã. A luz vai subindo, a lua vai perdendo seu brilho e fulgor.
A cidade vai se apagando, recebendo aos primeiros raios da manhã. Eu ainda estou assim. Estático, escrevendo em frente ao computador. Penso em não mais viver.
Tive pensamentos nefastos. Pensei em findar com tudo.
Não o fiz. Parei, pensei, como sempre, em quem me rodeia. Não tive coragem.
Por que minah vida é tão cheia de negações? Senti um frio me tomar. Ao vento da manhã.
Vem chegando o dia, meu maior inimigo vai reinar impunemente no céu.
A lua perde seu posto, cai no ostracismo até a hora do vilão se retirar do firmamento.
Trocas diárias. Que me enervam. Só durmo de dia, pois tenho medo do escuro.
E como não tenho nenhum braço pra me confortar não durmo a noite.
Minha cama é muito grande. Meu corpo se perde, como uma agulha no palheiro.
Imerso em sonhos que nunca se tornam reais tento dormir.
A janela ao meu lado parece se mexer. Tive um sobressalto. Suspirei.
Vi mais uma dúzia de janelas se apagarem. Estrelas sumirem.
Alvas aves gorjeiam. Irritantemente.
Buzinas e ronco de motores vão se fazendo ouvir.
E eu não penso em parar de escrever. Meu interno quer saltar corpo a fora.
Tento conter todos os meus impulsos criativos.
Vontade de gritar, correr entre as ruas agitadas da cidade, bater nas pareder.
Quebrar vidros, espelhos, rasgar cartas, queimar fotos. Destruir livros.
Remexer nos baús antigos e fazer extinguir-se todo e qualquer vertígio do passado.
Seja ele remoto ou não. O ontem já devia ter-se apagado de mim.
E tudo fica pregado na minha pele como uma tatuagem indesejada.
Vontade de beijar os tijolos que me sustentam. Arquétipos de um protótipo de ser humano.
Não tão humano, desejos e sentimentos animalescos. Atitudes comedidas.
Desmedidas idéias. Apenas idéias. Ações discretas. Chamativas afirmativas.
Minha cabeça roda. Tenho fobias inexplicáveis. Tenho horror a tudo que faça medo.
Tive, um tempo, medo do amor. Acho que ainda tenho. Me entrego, jogando a vida toda pro alto.
E perco tudo, tudo se quebra ao voltar ao solo. Até eu me quebro. Fico desregrado. Desmedido. Irreal, surreal. Neoliberal, socialista, marxista, neoclássico. Toda e qualquer qualificação político-social-artística. Nada e tudo ao mesmo tempo. A voz que é a fricção entre o tudo e o nada.
O ser e o não ser. Yin e Yang. Jeans e camiseta. Aos gritos de "Pega, Mata e Come". Onde queres algo sou totalmente diferente. Sou igual a você, eu nasci pra você. Sou Pessoa na Bahia. Sou Lispector na Rosa-dos-Ventos. 1971, eu nem pensava em ser vivente. E ela brilhava livremente. Com censura, e ela lá. De negro. E viva. Gritando pela liberdade. O que a deixa feliz. O que nos deixa feliz. Somos filhos de Iansã. Rainha dos Ventos, Raios e Tempestades. Tempestuodo Orixá. Filhos seus são rascantes. Marcantes. Lancinantes.
São seis da manhã. O medo me toma por completo. Tenho que parar de escrever. Desligar o computador. Deletar o texto. Não guardar nada dessa infernal madrugada. Indo me esconder do dia que brilha livremente na cidade. E me aflige. Paro agora, pois não devo continuar. Pelo menos agora.

Satisfação

Que tal espírito me toma?
Que força magnética exerces sobre mim?
Que olhos me perfuram a alma?
Por que me fazes te amar?
Quisera porder odiar-te.
Afasta-te de mim.
Não só hoje, mas sempre.
Vai-te para longe.
Passa como os ventos.
Deixa tua marca.
Já que impossível seria.
Retirar as chagas que fizestes em mim.
Abristes meu corpo ao meio.
Escarnando-me total.
Absolutamente entregue a ti.
Fizestes de mim teu escravo.
Apenas ao teu olhar tremo.
Palpita-me o coração ao menor rumor teu.
Teu cheiro me enoja. Não me excita mais.
Teu corpo é horrendo aos meus olhos.
Não és mais tão bela quanto antes.
Pois não te consigo odiar.
Tento imaginar-te diferente.
Não obtenho sucesso.
Quero livrar-me de ti eternamente.
Desejo ardentemente teu fim.
E não mais tu junto a mim.
Não! Não, minhas palavras estão loucas.
Não sei mais o que digo.
A desilusão nos faz enlouquecer.
Tudo é mentira.
Tu bem sabes.
Quero-te cada dia mais.
Cada segundo sem ver-te é um século.
Teu cheiro sinto ainda em mim.
Tu que nunca estivestes corpo a corpo comigo.
Minha amiga. Qual o quê?
Quero-te mulher.
Minha, só minha.
E de mais nenhum outro par de olhos flamejantes de desejo.
Meu sentir estar-se esvaindo.
Meu corpo não resiste mais as dores.
Entranhas estão em brasa.
Ardendo por ti, para ti.
E tu finges não saber.
Regojizates ao me ver assim.
Vibras com meu penar.
E eu te amo tanto.
Eu te amo...

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Vestígios Apagados.

Onde estão os braços que envolviam?
Os olhos que me fitavam dias à fio?
Mãos que me acariciavam?
Lábios que me esquentavam?
Pés que caminhavam comigo?
Coração que compassava com o meu?
Não te tenho mais...
Na realidade nunca tive.
Sempre sonhos, imaginações.
Pensamentos positivos.
Resultados negativos.
Solidão. Eterna e firme.
Alma dilacerada.
Olhos sem vida.
Mãos frias.
Lábios secos.
Braços inertes.
Pés estáticos.
Coração que não bate mais.
Não há vestígios do que um dia fui.
Sou outro.
Absolutamente diferente.
Menos humano.
Mais imóvel.
Quase um ser sem vida.
Um total corpo pesado.
Sentidos apagados.
Nada do anterior tudo.

Veloc-i--d---a----d-----e...

Não há tempo pra esperar.
O mundo não pára de girar.
Os dias se sucedem, ininterruptamente.
Não tenho mais o que pensar.
Apenas agir.
Correr.
O tempo urge.
Ventos passam ligeiros.
Estradas infindas.
Caminhos sem volta.
Rapidez veloz.
Dias seqüenciais.
Palavras jogadas ao vento.
Luz. Velocidade atroz.
Não há espaço para parar.
Proximidade do fim.
Deixarei palavras imcompletas.
Forças extintas.
Fraquejo, escurece a vista.
Morro.
E finalmente paro.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Imersão no Mundo Passado

Parei um instante...
Fui tomado por uma enxurrada,
de lembranças.
Não tive defesas.
Me deixei tomar completo.
As imagens foram brotando.
Como ramos enredados.
Uma puxava outra, assim a diante.
Foi ruim.
Não sei.
Tive vontade de chorar.
Guardei as lágrimas.
Senti saudades imensas.
Quase me abati.
Então pensei.
Se saudades sinto é que tudo valeu.
Tudo foi bom.
Momentos sem igual.
Cada um em sua particularidade.
Todos bem vividos.
Tempos idos que marcaram.
Lembranlças eternas.
Sulcos da minha vida.
Respirei fundo.
E emergi daquele baú velho.
Vivo novamente o presente.
Que amanhã será parte do passado.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Vitoriosa.

Vai olha a vida com toda audácia.
Que te cabe no pequeno corpo.
Ontem uma menina. Que conheci.
Hoje uma mulher, que não sei mais quem é.
Está tão diferente.
Mais altiva e soberana de sua vida.
Dona, proprietária de seu destino.
Não tem vergonha de amar.
Ama despudoradamente.
Já não sei se choras.
Choravas, antigamente.
Ainda é bela, sempre bela.
Tão bonita como a clara lua.
Iluminavas todos que te cercavam.
Ainda tens esse brilho?
Era eterno?
Já não sei.
Sinto saudades.
E choro, por não ter-te mais perto.
Mais longe que nunca.
Quase irreconhecível, tempo.
Alegrias do passado ainda vivas.
Lembro-me de ti sempre.
Teus olhos, tão lindos, e precrustadores.
Observantes retinas, verdes.
Vai, não olha pra trás.
Um grande futuro te espera.
Já não posso mais acompanhar-te.
Segue sobre teu altar.
Rainha de si.
Audaciosa matreira menina.
Vitoriosa mulher.
Avante!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Não Me Arrependo

Não, não me arrependo de nada.
Está tudo vivido.
Tudo passado.
Cavei sempre e a cada dia meu poço.
Procurei afundar-me na solidão.
Que um dia tanto me apavarou.
E me desarvarou.
Virou minha eterna companheira.
Já que ninguém o quis.
Não, não me arrependo de nada.
Está tudo varrido.
Estilhaços recolhidos.
Mil faces impressas nos restos de mim.
Pedaços que não se juntarão.
Amores que valeram.
Medo de não amar.
Estio de um tempo sem fim.
Não, não me arrependo de nada.
Está tudo apagado.
Nada restará quando eu morrer.
Ninguém se lembrará.
Jamais marquei em algo.
Apenas passei.
Como o vento que se sente e não se vê.
Quem sabe no céu estarei.
Esperando um outro coração completar-me.
Se nunca me arrependi.
Não será agora, no fim de tudo que hei de fraquejar.
Não, não me arrependo de nada.
Está tudo vivido, varrido, apagado...

domingo, 9 de dezembro de 2007

Piaf...

Que voz marcante.
Habitando num corpo tão franzino.
E maltratado pela vida.
Dura vida, de cabarés.
Amores, paixões rascantes.
Agudos inigualáveis.
Mãos que contavam sua vida.
Canções que contavam sua história.
Aparência simples.
Alma artista, desde sempre.
Sonho realizado.
Tropeços superados.
Uma vida que não foi tão cor-de-rosa.
Hino ao amor.
Deu voz aos amores do mundo.
Vida curta.
Sofrimentos imensos.
Fechou-se a cortina.
Calou-se o pardal.
Vôou aos céus.
Longe, tão longe que não lhe ouvimos mais.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Ação do Tempo

Eu que pensava em tudo eterno.
Não vi o tempo passar.
As pessoas mudaram.
Transmudaram-se em coisas opostas.
Hoje não mais sei quem conheço.
Temo encontrá-las na rua e não reconhecer.
Pensei que tudo que passávamos seria pra sempre.
Qual o quê? Nada.
Tudo passou.
Ninguém sabe mais lembrar.
As lembranças foram totalmente apagadas.
Feitas pó.
Que se espalhou com o vento.
Vendavais que passaram arrancando tudo.
Amores fincados nos peitos amantes.
Foram tirados como filhos de suas mães.
Não restou absolutamente nada.
Apenas nós, cada um com seu mundo particular.
Perdidos em nossos pensamentos.
Talvez humanos, sempre mesquinhos.

Capitalistamente secos.
Pessoas que apenas vivem.
Já que nem mais respiram.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Sobre Tudo

Sobre a vida, muito tenho que falar.
A dizer eternamente.
Sobre a voz...
Que voz? A rouca voz que me guia.
Embalando todos os momentos do meu ser.
Sobre o palco, declarações de amor.
A minha vida, minha paixão.
Meu espaço de luz e som, alma em mim.
Sobre os amores, tudo.
Quantas pessoas amei...
Tantas lágrimas chorei.
Tanto tempo dediquei.
Sobre o mundo, apenas pena.
Que fizemos? Para onde vamos?
O que fizemos do mundo!
Terminantemente infeliz.
Triste e sofredor.
Sobre amigos, poucos.
Passageiros, importantes
Marcantes, interessantes.
Inesquecíveis. Eternos.
Sobre o tempo, passou.
Implacavelmente arteiro.
Me transformou, nos mudou.
Levou alguns, trouxe outros.
Enbranqueceu minha fronte.
Enrugou minha face.
Não me reconheço mais.
Sobre o que guardo, memórias.
Lembranças de um passado remoto.
E perto ao mesmo tempo.
Fotografias em preto e branco.
Tons de sépia.
Color.