diário, escritos, rascunhos, pulsações de uma vida quase completa

domingo, 30 de setembro de 2007

sertão interno

queria tanto poder chorar.
olhos secos.
face enxuta.
alma sem vida.
coração pétreo.
que de mim nada sobre.
queria poder fazer rolar
do canto estreito do meu olho,
uma única e furtiva lágrima.
mas água não há mais em mim.
apenas a aridez da desilusão.
só o sertão de mim.
seca a boca, longe dos beijos.
mãos úmidas estão, hoje, mortas.
frias, tensas, duras, como as minhas feições.
seriedade, serenidade.
amargo gosto de saudade.
que lágrimas secaram no meio do caminho.
nunca saíram dos olhos fundos.
hoje cerrados definitivamente.
findo o meu ser.
extinta a minha alma.

sófia

não sei que tempo, não sei se de outros tempos.
sei que já habitava no meu redor.
um dia nós nos encontramos.
meio que por acaso, será?
talvez o mundo nos empurrou no mesmo trilho.
nos juntamos num ofício.
ouvindo aquela rouca voz unimo-nos num som.
quero muito contigo, sempre, aprender.
me ensinar a ser como és.
quem dera um dia saber ter um sorriso como o teu.
se algum dia eu souber viver, muito terá sido por causa de você.
trilha tua sina de luz e paixão.
deixa aos que ficam um rastro de tua poeira iluminada.
de longe observarei teu grande sucesso.
tua altiva e merecida vastidão alegria.

que os céus te guardem debaixo de suas luzes!

sábado, 29 de setembro de 2007

Em cada coração...

E depois de uma noite o que sobrará?
Apenas o frescor de um amanhecer.
Orvalho leve e passageiro.
Brisa matinal que se extinguirá.
Sombras que mudarão de lugar.
Luz que dura pouco.
Amores que são de éter.
Volatéis.
Pessoas que nos amam momentaneamente.
Ou talvez nem isso.
Brinquem, joguem com nossos sentimentos.
Cansei de ser só, manipulado.
Quero viver sem amor.
Dor que queima minhas entranhas.
Solidão no meio de uma multidão.
Siêncio que se ouve no barulho.
Clarão das noites escuras.
Pedra de ar, terra e fogo.
Sonhei tanto com o amor.
E que idealizei-o demasiado.
Hoje sei que não há nem haverá
amor de mão dupla.
Pequena e estreita via única.
Sem direito a volta.
Apenas a poeira que sobrará
Depois de uma desvairada noite amorosa.
Só os resquicíos do que fomos no amor.
Na vida que passamos.
Em cada coração que moramos.
Mesmo sem permissão pulamos de vida em vida.
Perturbamos as almas atormentadas.
Atormentamo-nos muito mais com esses pulos.
Não nos aquietamos quando somos sós.
Precisamos de alguém para quem viver.
Algum objetivo humano à nossa frente.
Erguendo a fronte e seguindo.
Até a noite passar e o dia raiar.
Auroras que nos trazem à realidade.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

epitáfio

não sobrou nada de mim
apenas uma vaga lembrança
do que eu era.
isto é, se eu um dia fui algo.
quero apenas jazer no meu último leito.
apenas repousar sereno e calmo.
não quero que me recordem.
apaguem-me de vossas memórias.
passei, vivi, porém não fiquei.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Medo de Amar

Quando o amor nos bate...
Devemos, sim, recebê-lo.
Não temer suas consequências.
A vida é feita de amores.
Pra que resistir?
Vivamos.
Abram-se, ostras, para o amor.
Silenciem suas bocas com beijos.
Afoguem-se de abraços.
Percamo-nos nos carinhos alheios.
Sorrir, sempre.
Voemos com asas de anjos.
Deixem-se serem amados.
Entreguem-se de alma e corpo aos prazes.
Deitemo-nos em lençóis macios.
Sonhemos em conjunto.
Quando o dia seguinte chegar,
nada mais valerá.
Tudo já foi vivido.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Daqui pra frente...

Quero descortinar palcos.
Percorrer mundos.
Acender refletores à minha cabeça.
Sonhar com terras desconhecidas.
Viver gente diferente.
Ser um andante erra.
Absorver as culturas.
Sentar numa alta montanha.
E mirar o mundo sob meus pés.
Largar longe, muito longe a tristeza.
Sorrir todos os dias.
Pensar o quão feliz sou.
E serei.
Não temer nenhum obstáculo.
Superá-los, sempre!
Confirmar dia após dia minhas certezas.
Estar apto a reconhecer meus erros.
Levantar a cabeça depois de um tropeção.
E seguir viagem.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Como assim?

Como ser assim?
Tão só, e só.
Queria ser diferente.
Mudar.
Ser como me querem...
Ou não?
Ser inteiro, ser eu.
Assim como fui.
Como sou.
E como serei?
Quem sou eu no mundo?
Em que vácuo me encaixo?
Horizontes perdidos e vastos.
Longes verdes campos.
Infeliz comigo.
Feliz contigo.
Sempre calmo, calado.
Impressionantemente meu.
Absurdos à parte.
Comicidade estranha.
Pensamentos desvendados.
Cabeça particular.
Passos trôpegos e mansos.
Como ser assim tão só?
Como ser infinitamente tão solitário?
Pensar em ir e não sair do canto.
O meu canto é canto de ninguém.
Voz minha espreita o coração.
Silêncio que me toma internamente.
Gás que inflama meu ser.
Penso em não ser assim, tão só.
Tenho vontade de ser alguém.
De ter meu espaço no mundo.
Sonho ter um ser comigo.
O meu ser externo e terreno.
Aéreo sonho que se desfaz.
Éter eterno.
Mente eternamente.
Expressão cuspida de mim.
Excremento do meu ser.
Fração milionésima de algo.
Microfragmentos das vidas alheias.
E só, e sente, e...

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

O quê?

Por que querer fazer o impossível possível?
Se o impossível já é por si só.
Como querer mudar o curso da natureza?
Por que é tão difícil mudar o mundo?
Seria possível que tranformássemos as pessoas?
Queria poder ter esse poder.
Seria tão mais simples se fácil fosse.
De que vale querer e não ter.
E ter o que não queremos?
Ou mais ainda não termos absolutamente nada!
O nada é fato, como o céu não é o limite.
Como o tempo implacável é passante.
Juntam-se os ponteiros da minha vida.
Que me chegue logo a hora marcada do fim.
Encontros e desencontros unidos num só ser.
Despedidas na hora de não mais ser.
Abstratamente só e solitário.
Perdido numa imensa névoa da multidão.
Queria ter-te sempre ao meu lado.
A ouvir meu ais e alegrias.
Dividir é melhor que somar.
Ter níquel não anche coração.
Não aquece a alma.
Que fria sente e sofre.
Viver é não simplesmente passar no mundo.
É querer poder, fazer o quê diferente.
Sem sentir-se que se faz diferente o amar.
Postar-se no mundo com uma nova cara.
Uma máscara ilusória, que esconde a verdadeira face.
A triste e solitária face do poeta que ama.
Na obscuridade de seu tinteiro.
Na clareza de seu branco papel.
Nas mal traçadas linhas que escreve.
Sempre e tanto em louvor ao seu amor.
Pôr-do-sol laranja e quente.
Início de uma hora sem luz.
Escura e secreta.
Misteriosamente fria e quieta.
Uivos noturnos de dor serena e calma.
Ferida de sangra internamente e arde.
Vísceras que se desfazem continuamente.
Coração dilacerado e ainda vivo.
Dor lancinante e lascívia.
Que um dia como o vento passa.
Deixando seu rastro de destruição.
Ilumina-se novamente a face obscura pela máscara.
E ver-se nos lábios um novo sorriso.

domingo, 16 de setembro de 2007

Eu literário.

Meus poemas são totalmente cheios de mim.
Povoados com todos os meu negros sentimentos.
É como vomitar tudo que habita meu ser.
Um expurgo da minha alma.
Rasgo na carne, chaga aberta e vermelha.
Vísceras pulsantes.
Sangue, amor e suor em papel.
Palavras ardentes, sedentas de serem lidas.
Versos disformes, mas ligados.
Idéia recorrente e eterna.
Explosão de paixão carnal e sensual.
Destrezas de um simples mortal canhoto.
Arregimentos de uma sinfonia incompleta.
Frases talvez já ditas.
Escárnio de mim em versos.



*Dedicado a Fernando Pessoa.

sábado, 15 de setembro de 2007

Diferente

Vem iluminar meu céu.
Deixa-me como uma criança.
Faz-me sorrir eternamente.
Achar tudo belo e fácil.
Pega minha mão e me ensina a escrever.
Fala-me as primeiras palavras.
Dá-me os primeiros passos do amor.
Quero aprender a viver contigo.
Ser livre e preso a ti, só a ti.
Andar correndo mundos.
Pois sou feliz.
Quero muito ser feliz, assim.
Comigo mesmo e contigo, junto.
Abraça-me nos momentos frios.
Refresca-me no calor escaldante.
Embala meu sono com tua voz única.
Povoa meus sonhos.
Desperta-me com um doce beijo.
Não me deixa olhar o mundo com olhos frios.
Quero sempre irradiar calor, amor, felicidade.
Tudo que tu me darás.
Sempre e sempre e sempre e sempre...

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Vida

Nada foi em vão.
Tudo valeu a pena.
Começaria tudo outra vez.
Faria tudo novamente.
Tal e qual, nada diferente.
Poder arremessar-me na vida.
Despojadamente.
Viver intensa e intrísecamente.
Laçado aos eternos convívios.
Vitalmente ligado aos amigos.
Essencialmente passional.
Inevitavelmente artista.
Eternamente um ser de amores.
Simplesmente sem grandes excessos.
Um etéro pensamento que se desfaz.
Nuvem clara que desenha o céu.
Um par de pés que deslizam no salão.
Mãos que se unem em oração.
Lábios que se encostam num beijo.
Cabeça que repousa tranquilas às noites.
Por não se arrepender de ter vivido.
De ter divido a vida com outros.
E não querer mudar nada.
Nem um milímetro.
A vida como foi seria outra vez.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Des...

Descerrem os panos.
Desvelem seus rostos.
Desarmem seus sorrisos.
Desfaçam as maquiagens.
Descaracterizem-se.
Desmanchem o cenário.
Desmontem o vosso palco.
Desliguem as luzes.
Destruam seus textos.
Desacreditem de vossos sonhos.
Despejem toda sua ira com lágrimas.
Dessarumem seus cabelos.
Descalcem os sapatos.
Desçam de vossos altares sagrados.
Desencaminhem as vidas alheias.
Desenterrem vossas almas.
Descarreguem vossos ais no mundo.
Despojem-se de vossas figuras irreais.
Desmereçam vossas glórias.
Desaprovem vossas próprias atitudes.
Desenganem-se da vida bela.
Desequilibrem-se no arame sem rede.
Desconheçam vossos filhos.
Descrevam as maravilhas que existem afora.
Desafinem nas canções de amor.
Descubram as coisas óbvias.
Desapareçam nos tortuosos caminhos.
Desatinem a correr eternamente
Desafie sempre o vosso próprio momento.

sábado, 8 de setembro de 2007

Poetas

Que líricos me inspiram?
Por quais estradas floridas passo?
Sentimentos me tomam pelas mãos
e levam-me aos mais longínquos lugares.
Uma voz doce e serena me sopra no ouvido.
Todas as belas palavras que escrevo diariamente.
Penso que é um tal ser superior que me guia as frases.
Não sei se não ouvisse essa voz conseguiria escrever tanto.
São coisas que não sei se saem mesmo do meu ser.
Melodiosas frases postas nos papéis brancos.
Formando alguns versos poéticos.
Alguns sofridos poemas.
Algo superior.
Palvras.
Nó.

Coração

Víscera que me queima.
Saí de dentro de mim.
Caí por terra.
Vai bater em outro maldito peito.
O meu está estraçalhado.
Não mais agüento tanta dor.
Meu inferno particular.
Saudade do ser não correspondido.
Amor.
Ai, dor pungente que mata,
pouco a pouco e constantemente.
Minhas entranhas estão desfeitas.
Quero ser oco.
Não mais sentir nada.
Ser inerte, morto e seco.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Senhora de Todos Nós

Voz que me rasga as entranhas.
Crepitante, ardente.
Voz que acalenta meus sonhos.
Que aplaca minhas dores.
Flor morena baiana.
Pepita santamarense.
Corpo delgado e belo.
Profundos movimentos cênicos.
Corpo que baila e canta.
Serena menina de interior.
Doce, cheirosa e macia.
Olhos d'água do céu.
Pesonificação de Oyá.
Pés descalços que flutuam no espaço.
Pessoa de éter.
Cabelos revoltos e leves.
Brisa de verão que refresca.
Gosto de quero-mais.
Filha de alguém superior.
Criação divina e bela.
Gestos largos e fortes.
De saia, de calça, de branco,
azul, vermelho ou amarelo.
Sempre radiante força sublime.
Figura cênica e terna.
Misto de ar, água, terra e fogo.
Fogo que queima e não dói.
Perturbadora do silêncio inerte.
Voz ecoante no vazio.
Fricção do tudo e nada.
Abismo do ser e viver.
Viva sempre no meu universo.
Cortinas descerradas, sempre.
Luzes difusas do seu palco.
Não se apaguem jamais.
Estrela da terra.
Fruta de todas as estações.
Calor do inverno.
Mãos firmes e longas.
Brilhos de ouro.
Singela mulher.
Grande rainha de nós.
Guia-nos nos teus passos luzentes.
Ora pra teus Deuses supremos.
Pede que possamos sempre te olhar.
Que nunca te percamos de vista.
Com teu talento nos cobre de música.
Preza pelo teu Sagrado Ofício.
Guarda tua casa, teu altar de adoração.
Ontem menina, hoje senhora.
Sempre cantora.
Vinho da mais nobre safra.
Liberdade de todos os presos.
Voz de nossos sofridos corações.
Dai vida a quem nada tem.
Leva teu canto aos remotos lugares.
Faz tuas cantigas na hora de dormimos.
Para que todas as noites sonhemos contigo.
E sabermos que em sonho ou na realidade
és tu a voz de nossas vidas.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Moema

Aurora de todos os dias.
Frágil figura.
Voz doce e macia.
Mãos longas e benfeitoras.
Um poço de bons fluídos.
Carinhosos movimentos
que sempre nos acalmam.
Embala nossos corações
com suas cantigas bonitas.
Passos mansos,
Como ondas de calmaria.
Sabedoria tranquila.
Emana uma eterna e tenra paz.
Um rouxinol do nosso jardim.
Minha consciência externa.
Companhia aprazível.
Prazerosa presença.
Dia que nunca escurece.
Sol que não pára de brilhar.
Aurora eterna.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Tango

Pernas que se cruzam.
Braços estendidos.
Mão coladas.
Faces unidas.
Violinos ardentes.
Trôpegos passos.
Rispidez bailante.
Caminhos únicos.
Vai-e-vem frenético.
Dores de amores.
Sempre mal curados.
À meia luz.
Candelabros acesos.
Rosas vermelhas.
Ares noturnos.
É tango.

Meu Oco Interno

O eco do meu vazio é tão sóbrio.
Tão seco e só.
Tão ecoante sou.
Tão sem paredes interiores.
Apenas e só uma armadura oca.
Vazio, tenso e seco.
Bate e rebate sempre o mesmo som.
Internamente ressoante.
Grito preso na garganta.
Nó que nunca se desfaz.
Travo amargo na língua.
Gosto vazio e úmido.
Cavidade ressonante abstrata.
Antes de todas as vontades.
Coisa pré-formada.
Deformada e nunca reformada.
Descaminho torto e árido.
Escassez de linhas de movimento.
Duro, teso, imobilizante olhar.
Lágrima seca que nunca rola na face.
Silêncio multilador.
Rascante pensamento.
Pré, pós, antes de tudo.
Assim seco e só.
Só e oco.
Oco.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Nós

Que necessidade vital tão estranha.
Nunca pensei poder exister pessoas assim.
Tão diferente, tão iguais...
Tão exóticas e recatadas.
Tão singulares nas suas especificidades.
Paro e penso o que será no futuro?
Quando não mais juntos estivermos?
Cada rumo um tomará.
Espalhados no mundo como sementes ao vento.
Que fica de toda uma vivência juntos?
Fica o gostinho travoso de saudade.
Frutos bons vamos render, eu sei.
Laços fortes, que nem o tempo desfará.
De mãos dadas fundamos um mundo, nosso.
Um espaço diferente de tudo e todos.
Onde só nós nos adequamos.
Onde só nós podemos entrar.
A senha é única, o caminho não tem volta.
É entregar-se de corpo e alma.
Respirar o mesmo ar.
Pisar o mesmo chão, caminhar na mesma passada.
Irmão de fé e paixão.
Dividir o mesmo secular sagrado Ofício.
Viver de aplausos e vaias.
Recolher as rosas e furar-se nos espinhos.
Deixar-se ficar atrás do pano, olhar o apagar das luzes.
Rumar ao camarim e desfazer-se das vestes alheias.
Para na noite seguinte refazer todo ritual.
E sempre, sempre, sempre repetir tudo.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Ódio

Vós todos uns pulhas!
Deixem-me viver.
Abram-me os grilhões.
Soltem-me.
Não aguento mais essas cadeias.
Livre, quero ser totalmente livre.
Não me regulem o viver.
O amar, comer, dormir, sofrer.
Esqueçam-me completamente.
Por que tanta perseguição?
Tantas regras existem por quê?
Não, não! Sou contra leis.
Sou absolutamente a favor da liberdade.
Porque o homem nasceu livre.
Vós, criaturas abomináveis é que prendem-nos.
Impoem-nos regras absurdas.
Parâmetros, padrões...
Que nem sempre estamos dispostos a aceitar.
Respeitem as diferenças.
Quero ser livre, quero poder amar impunemente.
E me deixem se vou sofrer.
Não preciso de conselhos e podações.
Tolham vossos próprios instintos.
Abstraim os alheios.
Mirem vossos próprios rabos!
Nunca vi raça mais podre, mais fétida,
mas imunda que vós, humanos imbecis.
Estou com o peito ardendo de ódio por vós.
Se ainda quereis viver não me cruzem o caminho.
Não serei capaz de responder por meus instintos.
A morte! A vós! Animais inescrupulosos!

domingo, 2 de setembro de 2007

Recordando o passado

Tanto tempo faz.
E parece que foi ontem.
Rever pessoas é bom.
Nostálgico.
Parar, pensar no passado.
Pego-me várias vezes olhando atrás.
Vejo imagens como num filme.
Lembro pessoas, hoje distantes.
Tenho saudade.
Como que querendo reviver tudo.
Para mais uma vez depois de tudo vivido
Olhar o passado e relembrar.
Por mais esquecido que esteja sempre recordo.
Por mais que queira esquecer não consigo.
O tempo leva-nos a caminhos distintos.
Mas o tempo vivido junto marcou.
Existe, é fato, só não é mais concreto.
Penso nos tempos idos com alegria.
Misto de tristeza também.
Por saber que não ouviremos mais algumas vozes.
Talvez por que tenham mudado.
Quem sabe se não morreram?
Por não poder mais sentir os abraços antigos.
Não sentir mais perfumes doces...
Correr à mesa ao sentir o cheiro de uma comida.
Por não mais ser como era.
Não ter mais cinco, seis anos.
O tempo passa.
Sinto-me cansado.
Não sei se me pesa mais a alma ou o corpo.
Acredito que a alma velha é mais forte.
Saudades do ontem, tão perto e tão morto.
Como os meus cinco anos.
São hoje recordações, boas, mas que me fazem triste.
Pequenas lágrimas que não caem.
Secam-se nos olhos sem na face rolar.
São domingos de recordações brutas.
Brutas por me dilacerarem o peito e espírito.
Como queria poder não recordar.
Não pensar no que foi.
Apenas e tão simplesmente mirar avante.
Pena que esse futuro, um dia, também será passado...

sábado, 1 de setembro de 2007

No mundo

Tão simples seria.
Se fácil fosse.
Quão desinteressante também.
Não mais quereriam alcançar.
Tudo estaria à mão.
O gosto de lutar para ter,
não mais existiria.
Tudo estaria no mundo,
mas sem quem os quizesse.
As coisas estariam a nossa volta.
E nós não notaríamos.
Seria tão óbvio que não olharíamos.
Esqueceríamos tudo.
Apenas viveríamos sem vontade.
Sem um mínimo de ânimo.
Sem garra, sem forças, sem instinto lutador.
Apenas vegetaríamos no mundo.
Pastaríamos como vacas mansas.
Errantes objetos sem destino.

Ante Ato

Pensar num todo é muito difícil.
Pensa-se em cada parte separadamente,
mas lembrando-se que essas partes devem ligar-se.
Mesmo que posteriormente.
Viver uma luz, um cenário, um figurino.
E sobretudo uma trilha sonora é complicado.
Realizar idéias não é fácil.
Traspor do papel à realidade.
Fazer acontecer o que concebeu-se na cabeça.
Investigar, aprofundar-se, absorver a idéia.
Tornar-se um obessivo pelo objeto trabalhado.
Comer, dormir, pensar, respirar, viver o trabalho.
É como uma paixão desenfreada.
É uma obsessão que pode nos levar, talvez, à loucura.
Uma loucura que pode ou não ser passageira.
Pode durar o tempo de um lampejo.
Ou ainda pode durar uma volta da Terra ao Sol.
Dêem o terceiro sinal.
Acendam as luzes.
Subam o pano.
É o Ato Inicial.